Mundo vive recorde de pessoas afetadas por conflitos e diplomacia fracassa



Jamil Chade
Colunista do UOL
8.out.2023 - Um míssil explode na Faixa de Gaza durante um ataque aéreo de Israel.
8.out.2023 - Um míssil explode na Faixa de Gaza durante um ataque aéreo de Israel. Imagem: MAHMUD HAMS/AFP


Nos primeiros dias de 2023, numa reunião fechada na ONU, uma alta funcionária da instituição alertou aos governos que estavam na sala. A própria razão de ser da entidade estava ameaçada. O motivo: nunca, desde a Segunda Guerra Mundial, o planeta viveu tantos conflitos armados como hoje. No total, 2 bilhões de seres humanos vivem em situações de guerra, um quarto da humanidade.

O alerta era de Amina Mohamed, sub-secretária-geral da ONU, numa constatação que deixou negociadores e diplomatas constrangidos.

Hoje, enquanto assistimos o drama de famílias israelenses e palestinas, a constatação é de que os mecanismos, canais ou relações de poderes que existiam para estabelecer o diálogo estão soterradas. Organismos criados ainda em 1945 não dão mais respostas, enquanto uma nova realidade de poder e novas hegemonias regionais abalam as placas tectônicas em todos os continentes.

De acordo com o Instituto para Economia e Paz, 2022 já havia sido o ano com o maior número de mortes em conflitos desde o genocídio em Ruanda, em 1994. Foram 238 mil, das quais 100 mil ocorreram na guerra no Leste da África, atingindo a região de Tigray. O segundo lugar foi da Ucrânia, com 83 mil.

Conflitos estão ainda cada vez mais internacionalizados, com 91 países envolvidos de alguma forma com situações de guerra ou confrontos no exterior. Em 2008, eram apenas 58 países nesta situação. Em 2022, o custo da violência chegou a US$ 17,5 trilhões, 13% do PIB do planeta. Mais de R$ 10 mil por pessoa, em perdas.

O valor é suficiente para erradicar a pobreza e a fome, dois sonhos da humanidade.


Mais de 70 anos depois da criação da entidade que tem como meta manter a paz no mundo, a realidade é que o sistema de segurança coletiva faliu.

Desde o final da Guerra Fria, nunca se gastou tanto em armas como hoje: mais de US$ 2,2 trilhões. Nunca tantas crises humanitárias ocorreram de forma concomitantes, com a ONU solicitando US$ 55 bilhões para sair ao resgate de 250 milhões de pessoas. Nunca, desde 1945, tantas pessoas estiveram deslocadas ou refugiadas como agora: 110 milhões.

Haiti, Ucrânia, Iêmen, Síria e Israel/Palestina, além das tensões no Kosovo, Azerbaijão e tantos outros pontos do planeta mostram um mapa da incapacidade da comunidade internacional em estabelecer entendimentos. Não por acaso, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, tem insistido em suas reuniões: o mundo está em um ponto chave de sua história.


Nos corredores da ONU, um embaixador me desafiou há poucos dias com uma pergunta:

Quando foi a última vez que celebramos um acordo de paz no mundo?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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Qatar tenta negociar troca de prisioneiros entre Hamas e Israel

Jamil Chade
Colunista do UOL
Avó de 85 anos é sequestrada em Israel
Avó de 85 anos é sequestrada em Israel Imagem: Reprodução/ Facebook/ Adva Adar

O governo do Qatar está negociando um acordo para uma possível troca de reféns e prisioneiros entre Israel e o Hamas. No sábado, o grupo palestino sequestrou mais de cem pessoas, ao realizar sua incursão no território israelense. Parte do objetivo era o de ter um poder de barganha para conseguir libertar membros do Hamas, detidos em Israel.

De acordo com fontes diplomáticas, a troca envolveria a libertação de mulheres e crianças que foram sequestradas pelo Hamas, em troca de 36 mulheres e menores que estão atualmente em prisões israelenses.

O caminho (quase) livre para o título do Botafogo

O Qatar, que mantém relações tanto com o Hamas como com o governo de Israel, vem conduzindo as conversas desde domingo, em total sigilo. Nos últimos anos, Doha vem tentando se posicionar como um negociador, fazendo pontes entre adversários políticos ou governos que, oficialmente, não mantém relações diplomáticas.

Um dos êxitos do Qatar neste esforço foi promover a troca de prisioneiros entre americanos e iranianos, há poucos meses, além de sediar encontros sigilosos entre grupos islâmicos rivais. Também foi no Qatar que americanos e o Taleban mantiveram os primeiros contatos, em agosto deste ano, depois que o grupo voltou a tomar o poder no Afeganistão.

O governo norte-americano também tem sido consultado e, durante a reunião do domingo no Conselho de Segurança da ONU, o embaixador dos EUA, Robert Wood, deixou claro que recuperar os israelenses levados pelo Hamas era um dos "objetivos imediatos" das conversas diplomáticas.

Não há confirmações oficiais sobre quantos reféns foram feitos pelo Hamas no fim de semana. Mas um dos porta-vozes do grupo anunciou que quatro israelenses sob a custódia do grupo foram mortos por ataques de mísseis de Israel, assim como os palestinos que se ocupavam deles. Não há uma confirmação independente sobre essa informação.

Ao longo das últimas horas, diplomacias em diferentes partes do mundo têm se mobilizado para tentar influenciar os dois lados do conflito a promover uma desescalada. O temor é de que a nova crise saia do controle e que os ataques abram caminho para uma guerra regional.

Um dos cenários é de que, se uma ofensiva militar de Israel colocar o Hamas numa situação de ameaça existencial, grupos como o Hezbollah poderiam sair ao resgate dos palestinos, com o apoio do Irã.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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