Presidente do STF manifestou repúdio às agressões sofridas pela ministra após publicação de vídeo de Roberto Jefferson (PTB)
Mariah Aquino
22/10/2022 20:24, atualizado 22/10/2022 20:44.
Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), repudiou a agressão sofrida pela também ministra da corte Cármen Lúcia. Ela foi ofendida pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) após votar favorável ao direito de resposta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Jovem Pan, em julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A presidente do STF definiu os ataques como uma “agressão sórdida e vil, expressão da mais repulsiva misoginia”. Alexandre de Moraes, presidente do TSE, também se manifestou em defesa de Cármen Lúcia em nome da Justiça Eleitoral e destacou que “tomará todas as providencias institucionais necessárias para o combate a intolerância, a violência, o ódio, a discriminação e a misoginia”.
“Condutas covardes dessa natureza são inadmissíveis em uma democracia, que tem como um de seus pilares a independência da magistratura. Não há como compactuar com discurso de ódio, abjeto e impregnado de discriminação, a atingir todas as mulheres e ultrapassar os limites civilizatórios”, escreveu Rosa Weber.
Em prisão domiciliar, Jefferson usou as redes sociais da filha, a também ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ), para publicar um vídeo em que xinga e ofende a honra de Cármen Lúcia. “Eu estou indignado. Não consigo. Fui rever o voto da Bruxa de Blair, da Carmem Lúcifer, na censura prévia à Jovem Pan, olhei de novo, não dá para acreditar”, disparou.
Rubens Villar Coelho, também conhecido como Colômbia, teve pedido de liberdade concedido pela Justiça Federal no dia 6 deste mês.
Obrigado a usar tornozeleira eletrônica, Rubens seguiu para prisão domiciliar e está proibido de deixar o país. Com objetivo de cumprir a determinação, a Polícia Federal confiscou o passaporte dele.
Ele é acusado de fornecer entorpecentes provenientes do Peru e da Colômbia a facções brasileiras.
Em julho deste ano, ele foi preso por uso de documentos falsos e, um mês antes da prisão, já estava sendo investigado por envolvimento na morte de Dom e Bruno.
Apesar de negar seu envolvimento no crime, uma das linhas de investigação do caso aponta que Colômbia estaria incomodado com a atuação do indigenista na região da Amazônia.
Bruno Pereira chegou a apreender barcos e peixes que pertenciam à quadrilha. O lucro da pesca ilegal de pirarucus e tracajás seria apenas um meio de lavar o dinheiro do narcotráfico.
Dom Phillips, 57 anos, era colaborador do jornal britânico The Guardian. Ele se mudou para o Brasil em 2007 e morava em Salvador, com a esposaTwitter/Reprodução
Em 5 de junho de 2022, o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira viajavam juntos para que Dom realizasse entrevistas para o livro que escrevia sobre a preservação da AmazôniaPhoto by Victoria Jones/PA Images via Getty Images
Naquele dia, eles foram vistos pela última vez na comunidade ribeirinha São Rafael, pela manhã, e saíram em direção ao município de Atalaia do Norte, seguindo pelo rio ItaquaíArquivo pessoal
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Contudo, nesse percurso, os dois desapareceram. As equipes de vigilância indígena da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) fizeram as primeiras buscas, sem resultadosDivulgação
No dia seguinte, a Univaja emitiu comunicado informando, oficialmente, o sumiço dos homens. Em seguida, equipes da Marinha, Polícia Federal, Ministério Público Federal e do Exército foram mobilizadas e deram início a uma operação de busca Reprodução/Redes sociais
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Em 8 de maio, a força-tarefa efetuou a prisão do primeiro suspeito pelo desaparecimento: Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado. Vestígios de sangue foram encontrados na lancha de Amarildo após perícia da Polícia Federal Arquivo pessoal
Em 12 de junho, uma semana depois, mochilas com os pertences pessoais de Dom e Bruno foram encontradas. Não muito tempo depois, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, irmão de Pelado, foi preso sob suspeita de envolvimento no crimeReprodução/Redes sociais
Em 15 de junho, Pelado narrou à Polícia Federal que a perseguição à lancha na qual Bruno e Dom estavam durou cerca de 5 minutos. Jeferson Lima, outro envolvido no crime, teria atirado contra o indigenista, que revidouPhoto by Victoria Jones/PA Images via Getty Images
Bruno, no entanto, foi acertado e perdeu o controle da embarcação, que entrou mata adentro. Depois disso, Pelado e Jeferson teriam ido até a lancha e executado os dois Material cedido ao Metrópoles
Os suspeitos, então, teriam retirado os pertences pessoais das vítimas do barco em que estavam e o afundaram. Em seguida, queimaram os corpos de Dom e BrunoRedes sociais/reprodução
A tentativa de ocultação, porém, não teria dado certo. Jeferson e Amarildo retornaram no dia seguinte, esquartejaram os corpos e os enterraram em um buraco escavado. A distância entre o local em que os pertences foram escondidos e onde os corpos foram enterrados é de 3,1 kmDivulgação/Polícia Federal
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Depois de fazer uma reconstituição do caso junto a Amarildo, a força-tarefa anuncia ter encontrado “remanescentes humanos” que, mais tarde, se confirmariam como os corpos de Dom e BrunoReprodução/Redes sociais
Em 16 de junho, os corpos chegaram a Brasília para realização de perícia e confirmação de identidade. Dois dias depois, a polícia prendeu Jeferson da Silva Lima, conhecido como Pelado da DinhaIgo Estrela/Metrópoles
Em 19 de junho, a polícia informou ter identificado outros cinco suspeitos que teriam atuado na ocultação dos cadáveres. Segundo a PF, “os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito”Reprodução/Twitter/@andersongtorres
O exame médico-legal indicou que a morte de Dom Phillips foi causada por traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caçaPhoto by Victoria Jones/PA Images via Getty Images
A morte de Bruno Pereira foi causada, segundo os peritos, por traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, “que ocasionaram lesões no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)”Funai/Divulgação
Bruno era considerado um dos indigenistas mais experientes da Funai. Ele dedicou a carreira à proteção dos povos indígenas. Nascido no Recife, tinha 41 anos. Ele deixa esposa e três filhosReprodução
Dom Phillips, 57 anos, era colaborador do jornal britânico The Guardian. Ele se mudou para o Brasil em 2007 e morava em Salvador, com a esposaTwitter/Reprodução
Em 5 de junho de 2022, o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira viajavam juntos para que Dom realizasse entrevistas para o livro que escrevia sobre a preservação da AmazôniaPhoto by Victoria Jones/PA Images via Getty Images
Em prisão domiciliar desde a última sexta, o Ministério Público Federal (MPF) chegou a recorrer da decisão, mas o juiz federal Fabiano Verli manteve, no dia 18 de outubro, a liberdade provisória de Colômbia. Na manhã de sexta, o suspeito foi encaminhado ao Centro de Operações e Controle (COC), onde fez a instalação da tornozeleira eletrônica.
Apesar da soltura, a defesa de Colômbia esperava que ele ficasse preso até a próxima segunda-feira (24/10) — dia em que passa por uma audiência de custódia. Com outras passagens pela Justiça, ele ainda responde a um processo que apura sua participação em organização criminosa armada e crimes ambientais.
Ato em Brasília que pedia justiça por Dom e Bruno
As vítimas
Bruno era considerado um dos indigenistas mais experientes da Fundação Nacional do Índio (Funai). Ele foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte por cinco anos. Em 2019, após combater mineração ilegal em terras indígenas, Bruno foi dispensado do cargo de chefia.
A exoneração do servidor ocorreu no momento em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou um projeto para liberar garimpos nas reservas. O indigenista estava licenciado da Funai e fazia parte do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente (Opi).
Bruno era alvo constante de ameaças, devido ao trabalho desempenhado junto aos indígenas, contra invasores.
Jornalista preparava livro
Dom Phillips era jornalista colaborador do veículo britânico The Guardian. Ele se mudou para o Brasil em 2007 e morava em Salvador. Com apoio da Fundação Alicia Patterson, Phillips trabalhava em um livro sobre meio ambiente.
Além do Guardian, Phillips já havia publicado textos no Financial Times, no New York Times, no Washington Post e em agências internacionais de notícias.
Fachin submeteu o processo ao plenário virtual da corte, mas não identificou necessidade de urgência. Ainda não há data definida para análise da pauta.
Na decisão publicada neste sábado, o magistrado destacou que a nova norma do TSE não “proíbe todo e qualquer discurso, mas apenas aquele que, por sua falsidade patente, descontrole e circulação massiva, atinge gravemente o processo eleitoral”.
Na sexta-feira (21/10), Aras solicitou que o STF suspendesse a resolução do TSE. “O antídoto para a desinformação é mais informação, e não a censura. No espaço democrático, a palavra, o voto, é o poder do cidadão. O sufrágio universal não se limita ao momento de depositar o voto na urna, na manifestação direta do poder de decidir os rumos da nação”, escreveu o PGR.
Entenda a resolução
A norma, aprovada por unanimidade pelos ministros do TSE, abre a possibilidade de retirada de conteúdo desinformativo de plataformas digitais em até duas horas. Antes, esse prazo era de 24 horas.
A Justiça Eleitoral fica autorizada a agir de ofício caso o conteúdo seja sabidamente inverídico, já julgado por colegiado e republicado em outros sites. Ou seja, se a Justiça determinou a remoção de um conteúdo, a plataforma digital o fez, mas ele foi republicado, não há necessidade de nova representação ou julgamento para remoção.
A Corte pode determinar que as plataformas derrubem um conteúdo, mesmo não haja ação de um candidato ou coligação contra essa publicação.
Pela resolução, assim que comunicadas pela Justiça Eleitoral, as plataformas devem fazer a imediata remoção das URLs, URIs ou URNs consideradas irregulares, sob pena de R$ 100 mil por hora após a determinação de retirada de desinformação das redes. O prazo máximo a partir de agora é de duas horas. Às vésperas da eleição, será de uma hora.
André Janones foi o terceiro deputado federal mais votado de Minas Gerais em 2018 e apoia Lula na atual eleição Imagem: CLEIA VIANA/CÂMARA DOS DEPUTADOS
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) usou pela primeira vez os "superpoderes" conquistados na quinta-feira (20) por volta das 8h40 deste sábado (22) e ordenou que o Twitter apagasse — em até duas horas — duas postagens feitas pelo deputado André Janones (Avante-MG) contra o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Segundo o Twitter, a ordem foi atendida, e a remoção, realizada. Quem está fora do Brasil, no entanto, ainda consegue acessar o material. Para Janones, Bolsonaro o calou.
No primeiro post derrubado por ordem judicial expressa, datado de 23 de agosto, Janones chama Bolsonaro de "assassino" e diz que ele "ajudou a matar 400 mil pessoas e ainda debochou das vítimas". No segundo, de 16 de outubro, afirma que "Bolsonaro é miliciano".
Assinado pelo ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino, a primeira decisão a lançar mão da resolução 23.714/2022 atende a coligação de Bolsonaro por entender que "as publicações impugnadas transmitem desinformação prejudicial à integridade do próprio processo eleitoral".
"São mensagens produzidas e divulgadas para ofender a honra e a imagem da coligação representante, cujo objetivo consistiu na disseminação de discurso manifestamente inverídico e odioso que pretende induzir o usuário da rede social a vincular o candidato a práticas criminosas", escreveu Sanseverino.
Para o TSE, os tuítes de Janones ultrapassaram os limites da liberdade de expressão e "não observam normas constitucionais e legais".
Surpreende que decisão não se restrinja a conteúdo ligado apenas ao processo eleitoral, como havia sido anunciado pelo ministro Alexandre de Moraes na última quinta-feira. A decisão de hoje mostra que os "superpoderes" também se estendem a conteúdos relacionados a candidatos e campanhas.
Também é de se estranhar o fato de o TSE não ter aplicado nenhuma sanção a Janones de forma direta na decisão desta manhã. Janones poderia ter sido responsável por deletar seus próprios tuítes, mas a corte preferiu ordenar a remoção via plataforma.
Na tarde de sexta-feira (21), a Procuradoria-Geral da República acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a constitucionalidade da nova resolução do TSE. O ministro Edson Fachin é o relator da ação direta de inconstitucionalidade, mas não tem prazo determinado para se posicionar. O segundo turno das eleições ocorre em 30 de outubro — daqui a oito dias.
A coluna contatou a assessoria de Janones, e atualizará esta reportagem se tiver retorno.
Cristina Tardáguila é diretora do ICFJ e fundadora da Lupa
Uma das principais ações do governo federal no combate à fome no interior nordestino e de Minas Gerais, a distribuição de leite às famílias em extrema pobreza pelo programa Alimenta Brasil (antigo PAA, Programa de Aquisição de Alimentos) foi drasticamente reduzida em 2022. Entre janeiro e agosto, o total de litros distribuídos caiu 87% em comparação ao mesmo período do ano passado.
A distribuição de leite dentro do programa Alimenta Brasil é executada apenas no território da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), que abrange os nove estados da região Nordeste e o norte e nordeste de Minas Gerais.
Auxílio a agricultor pobre atende só 1% da promessa e deixa famílias na mão
A escolha dessa área ocorre pelo maior grau de insegurança alimentar. É na região da Sudene que estão 11 milhões —ou seja, mais da metade— dos 20 milhões de famílias que recebem o Auxílio Brasil.
O programa do leite, como é conhecido, é tradicional no Nordeste há pelo menos duas décadas e, segundo gestores, enfrenta hoje o seu maior desfinanciamento federal e a menor quantidade distribuída.
Em agosto deste ano, por exemplo, apenas 54 produtores venderam ao governo um total de 236 mil litros de leite. Para efeito de comparação, em outubro de 2021, eram 4.443 produtores leiteiros que venderam 5,9 milhões de litros de leite. Em janeiro deste ano, nenhum litro de leite foi comprado.
Entre 2011 e 2012, quando o programa atingiu o ápice, 28 mil produtores vendiam leite ao governo federal. Procurado pelo UOL, o Ministério da Cidadania não comentou os cortes.
A queda fica clara quando vemos o orçamento investido: neste ano, até agosto, foram apenas R$ 7.453.265,22. O valor é menor, por exemplo, que o gasto em novembro de 2021, quando foram investidos R$ 13.192.481,34.
Os dados completos de valores pagos, litros comprados e produtores beneficiados pode ser conferido no site do Ministério da Cidadania (veja aqui).
Critérios
Segundo o Ministério da Cidadania, deveriam receber leite as famílias registradas no Cadastro Único, com prioridade àquelas que recebem o Auxílio Brasil. Cada família tem direito de receber até sete litros de leite por semana.
O número de famílias beneficiadas ao longo do programa não é informado já que ele funciona de forma tripartite: os estados assinam convênio com o Ministério da Cidadania e repassam os valores disponíveis para as fábricas ou cooperativas leiteiras que fazem a pasteurização do produto.
Assim, cada município adota sua estratégia e pode aumentar ou diminuir a oferta, de acordo com a quantidade recebida.
Segundo dados do Cadastro Único do governo federal, existem hoje somente no Nordeste 9,8 milhões de famílias em extrema pobreza, ou seja, com renda per capita (por pessoa) de até R$ 105. Todas estariam aptas para receber o benefício.
Além de apoiar famílias pobres, o programa é também importante para pequenos pecuaristas da região, que, ao vender sua produção ao governo, conseguem ter uma renda fixa.
O valor do litro de leite pago ao produtor é calculado de acordo com a média de preços praticados pelo mercado local. Em média, o litro está sendo comprado a R$ 2.
A queda também atinge os laticínios, já que cerca de 40% do orçamento é destinado ao pagamento do processo de pasteurização do leite —que pode ser feito pelas próprias cooperativas dos agricultores familiares ou laticínios privados.
Programa do Leite com embalagem e logotipo ainda do governo do PT, na primeira década de 2000 Imagem: Arquivo/Governo de Alagoas
Cortes e fome
Para se adequar aos cortes, prefeituras e estados reduziram o número de famílias ou de volume distribuído e até mesmo pararam de fornecer o alimento neste ano, como no Ceará. Com isso, não só famílias foram afetadas. A merenda e até hospitais foram prejudicados.
A coluna conversou com gestores e famílias na pobreza, que relataram o drama vivido sem o leite.
"Era uma distribuição muito importante para várias famílias que necessitam do poder público. A gente aqui distribuía também às escolas para merenda e ao hospital", conta Benedito de Paulo Neto, secretário de Agricultura do município de Mucambo (CE).
Segundo ele, a suspensão começou em fevereiro deste ano. "A gente usava o leite na merenda já para fazer um composto, como uma vitamina. Agora não temos mais e não sabemos quando vai voltar", diz.
Comunicado da Prefeitura de Mucambo, no Ceará, publicado em fevereiro Imagem: Reprodução
Em Santa Quitéria (CE), a situação é similar. "É um grande prejuízo às famílias mais vulneráveis e que já se encontram em situação de insegurança alimentar. Perdemos um programa que minimizava essa insegurança", afirma a secretária municipal de Proteção Social, Rayana Bendor. O município recebia entre 2.800 a 3.000 litros de leite por mês, beneficiando 750 famílias por semana.
O governo do Ceará alegou que não recebeu, até setembro, nenhum repasse federal, mesmo com convênio assinado, e apenas executou o programa em janeiro e fevereiro por resto de recursos do ano de 2021.
Segundo Mallon Aragão, secretário de Agricultura de Itaquitinga (PE), o corte neste ano fez com que o município cortasse famílias. "A gente distribui 120 litros para as famílias por dia. Agora estamos dando a apenas cem", conta.
Além disso, foi feito um racionamento. Em vez de sete, as famílias estão recebendo seis litros semanais —as entregas ocorrem duas vezes por semana, às terças e sextas-feiras.
"É uma contradição porque nós estamos com a pobreza aumentando e estamos precisando mais ainda do leite. Como não temos, atendemos 100 num universo de mais de 3.000 famílias no Cadastro Único, ou seja, quase nada", diz.
Emanuele Rosa dos Santos e o irmão de dois anos recebem três litros de leite em Itaquitinga (PE) Imagem: Arquivo pessoal
Emanuele Rosa dos Santos, 22, mora no distrito Chão de Sapé (PE) e é a responsável da família para pegar os litros de leite durante a semana.
"Eu moro na zona rural com os meus pais e meu irmão de 2 anos. Não temos renda, ninguém conseguiu receber o Auxílio Brasil e vivemos das doações do que plantamos no terreninho que temos", diz.
"Esse leite é fundamental, principalmente para o meu irmão. A redução [um litro a menos por semana] foi ruim porque todos aqui bebem desse leite", completa.
Menos leite para manter famílias
Em Alagoas, estado com maior percentual de pessoas com fome do país, o governo do estado decidiu aumentar o investimento no programa e manter as 100 mil famílias que recebem quatro litros de leite semanalmente. "A gente mantém o programa, como sempre fez, mas quem está bancando é o governo local", diz a coordenadora estadual do Programa do Leite, Thais Carvalho.
"A gente não quer deixar as famílias que precisam sem receber o leite porque sabemos da importância. Mas, se a gente tivesse um recurso maior, atenderia muito mais gente", conta.
Orçamento repassado por meio de convênio para Alagoas:
2022
Desembolso do estado - R$ 53.626.971,74
Repasse federal - R$ 6.948.996,89
2021
Desembolso do estado - R$ 10.774.945,73
Repasse federal - R$ 35.319.974,17
Somente em Alagoas existem 543 mil famílias em extrema pobreza, segundo o Cadastro Único.
"Com o valor que recebemos, não tem como abraçar a todos os que precisam. Tivemos de botar limite em quatro litros para tentar beneficiar mais famílias."
Programa do Leite em Alagoas foi mantido com recursos estaduais Imagem: Divulgação/Governo de Alagoas
Para Kiko Afonso, diretor-executivo da ONG Ação da Cidadania, a redução na compra de leite é "assustadora" e revela como o governo tem deixado de lado programas de segurança alimentar de locais com mais famílias vulneráveis.
"Isso está ligado à visão de gasto essencial do governo, que é vencer a eleição a qualquer custo, mesmo que isso signifique tirar leite das crianças", afirma.
Ele lembra que o leite é um dos principais componentes alimentares das crianças, e a redução no momento em que país tem recorde de pessoas com fome no século é um contrassenso.
"Você nota que tem mês [janeiro] que isso chega a zero. Isso é completamente absurdo, somando a problemas como o congelamento do repasse da merenda e corte nos programas de auxílio de entrega alimenta as famílias. Isso aumenta a fome das pessoas", avalia.
Os produtores já vinham sofrendo com os cortes em um modelo de precarização ainda do PAA. Aí mudou-se o nome e reduziu-se ainda mais o recurso. Isso fora o governo ter vetado a ajuda aos pequenos produtores durante a fase mais aguda da covid."Kiko Afonso, da Ação da Cidadania
Petista fez caminhada com ex-presidenciável em cidade onde Bolsonaro sofreu ataque em 2018
Victoria Azevedo
Juiz de Fora (MG)
A menos de 10 dias do segundo turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou de caminhada em Juiz de Fora, em Minas Gerais, na tarde desta sexta-feira (21), reforçou propostas que vem defendendo na economia e afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) irá investir em "mentiras" e em "propostas falsas" na reta final da campanha.
"Essa semana vocês vão ouvir muitas mentiras do nosso adversário, muitas promessas falsas.
Ele vai propor fazer tudo o que não fez. Temos o dever e a obrigação de não acreditar", disse Lula.
O ex-presidente Lula (PT) com Simone Tebet (MDB) em Juiz de Fora (MG) - Marlene Bergamo/Folhapress
Lula estava acompanhado da senadora Simone Tebet (MDB), terceira colocada no primeiro turno e apoiadora do ex-presidente na segunda rodada das eleições. As agendas em Minas Gerais são as primeiras que contam com a participação de Tebet.
A senadora é vista como um trunfo da campanha de Lula, uma vez que ela reforça a ideia que a campanha propala de que a candidatura do ex-presidente não está restrita ao PT ou à esquerda. Além disso, a equipe do petista tenta diminuir os índices de abstenção registrados no primeiro turno e atrair eleitores indecisos —e conta com a atuação de novos aliados que se somaram à campanha no segundo turno, como Tebet.
Na caminhada, Tebet afirmou aos apoiadores do petista que é preciso conversar com eleitores indecisos, que anularam ou votaram em branco e pediu que seus eleitores votem em Lula no segundo turno. "Quando encontrarem um mineiro ou uma mineira que votou em mim, digam a eles que agora eu sou 13. Quem votou em Simone vota em Lula no segundo turno."
Ela também subiu o tom das críticas que tem feito a Bolsonaro.
"Estou aqui para dizer a Bolsonaro: ‘você vai entrar para o lixo da história’", afirmou a senadora.
Tebet disse ainda que "quando Bolsonaro perder a faixa e o foro privilegiado" ele terá que dar explicações à Justiça e à sociedade. Ela citou denúncias de esquemas de rachadinha no gabinete de Bolsonaro e a compra de 51 imóveis em dinheiro vivo pela família do atual chefe do Executivo.
A visita de Lula ao estado mineiro faz parte da estratégia da campanha de focar as agendas no Sudeste, que concentra 42,6% do eleitorado nacional. O petista participou mais cedo de caminhada em Teófilo Otoni e fará outra neste sábado (22) entre Belo Horizonte e Ribeirão das Neves.
Lula optou por não participar de debate presidencial promovido pelo SBT e outros veículos nesta sexta para privilegiar agendas de campanha.
Além disso, Minas Gerais é considerado um estado chave na disputa ao Palácio do Planalto. E tanto Lula quanto Bolsonaro estão investindo no estado na tentativa de aumentar suas votações.
A atividade do petista ocorre três dias após Bolsonaro ter visitado o município onde perdeu a eleição para Lula por 52,62% a 38,41% dos votos válidos.
O presidente costuma dizer que a cidade é a sua segunda "terra natal", justamente por ser o local onde sofreu o atentado, e foi nela que o chefe do Executivo deu o pontapé inicial de sua campanha à reeleição neste ano.
Ele já cumpriu agendas no município outras duas vezes neste ano —sendo a mais recente na última terça-feira (18).
Esta é a segunda visita de Lula na cidade mineira neste ano. A primeira foi em maio, durante a pré-campanha. Naquela ocasião, um vídeo publicado nas redes sociais naquele dia mostrou um policial militar apontando arma a um grupo do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que esperava por Lula na cidade.
Desta vez, pouco antes das 14h, cerca de dez apoiadores do petista aguardavam a sua chegada. A reportagem viu ao menos três carros de apoiadores de Bolsonaro passarem pelo local e provocarem os apoiadores de Lula —um deles colocou o braço pra fora e com a mão fez um gesto de arma que atirava contra eles. Os apoiadores do ex-presidente responderam fazendo gestos de L com as mãos.
Nas atividades de campanha, a segurança de Lula é feita com membros da própria equipe do petista, militantes do MST que fazem um cordão de proteção no entorno do ex-presidente e integrantes da equipe da Polícia Federal que está atuando desde o início da campanha, em agosto.
A equipe da PF mobiliza cerca de 50 pessoas nas atividades, entre elas atiradores de elite que ficam posicionados em pontos estratégicos e um grupo tático para eventuais intervenções.
Além de Tebet, Lula estava acompanhado da caminhada nesta sexta da ex-ministra Marina Silva (Rede), do senador Alexandre Silveira (PSD), dos deputados André Janones (Avante) e Reginaldo Lopes (PT).
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice do petista, não participou —há uma expectativa que ele faça agendas solo no estado na próxima semana.
Lula percorreu o trajeto em cima de uma caminhonete sem proteção nas laterais e no teto. Ele acenou e cumprimentou apoiadores ao longo do ato. A caminhada, que começou por volta das 18h e teve duração de cerca de uma hora, foi embalada por jingles da campanha e por pequenas falas do ex-presidente e de seus aliados.
Apoiadores de Lula já se concentravam no local da caminhada desde às 15h —eles enfrentaram forte chuva.
Lula discursou ao final da caminhada. Ele reforçou propostas relacionadas à economia que ele vem defendendo ao longo da campanha, como o aumento do salário mínimo, a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, a realização de uma reforma tributária "para que os ricos paguem mais e os pobres paguem menos" e a renegociação de dívidas. Ele também afirmou que não haverá privatizações da Petrobras e dos Correios.
Mais cedo, à imprensa, o petista disse que que a sua campanha não deve aceitar acordo proposto pelo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, para que a sua equipe e a de Bolsonaro negociem os direitos de resposta obtidos nas propagandas eleitorais e interrompam os ataques na TV.
Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, da Folha, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, tentou costurar um acordo entre as campanhas.
Ele chamou os advogados tanto de Lula como de Bolsonaro para uma reunião na quinta (20) e propôs que ambos cessassem os ataques nas propagandas.
"Hoje falei com o advogado, ele ia conversar com o Alexandre de Moraes. Houve uma proposta de acordo e eu disse que não tem acordo. Se nós ganhamos 184 e perdemos 14. Ele que utilize os nossos 14 e nós utilizamos os 184 dele", disse Lula nesta sexta.
"Se a gente ganhar o direito de resposta, a gente vai aproveitar para falar coisa mais séria com o povo. O que vamos fazer com o salário mínimo, com o Imposto de Renda, com as pessoas endividadas. Esses são os assuntos que interessam ao nosso povo", completou.
À imprensa, Marina Silva disse que é "muito simbólico" o apoio dela e de Tebet à candidatura de Lula num momento em que "Bolsonaro tenta dividir o Brasil".
"Temos aqui duas mulheres. Uma da Amazônia, outra do Centro-Oeste. Uma que tem visão atualizada do que é agricultura e uma que tem visão atualizada do que é o meio ambiente. Uma mulher preta e uma mulher branca. Uma mulher católica e uma evangélica. Para dizer que esse Brasil cindido que o Bolsonaro quer impor, até mesmo dentro das igrejas, não vai prevalecer."
Desde 1989, Minas Gerais mantém a tradição de refletir os resultados nacionais da corrida presidencial, o que o faz ser considerado uma espécie de termômetro das eleições.
No primeiro turno, Lula teve 48,43% dos votos dos eleitores brasileiros, contra 43,20% de Bolsonaro. Entre os mineiros, esses índices foram de 48,29% e 43,60%, respectivamente.
Aliados de Lula afirmam que agendas em Minas Gerais também são importantes na tentativa de diminuir os índices de abstenção. No primeiro turno, nacionalmente, o índice registrado foi de 20,95% --em Minas, 22,28%.
"A média de abstenção nas regiões onde tivemos larga vantagem de votos foi maior que a média estadual. Temos a avaliação que são votos nossos de pessoas que, principalmente, tiveram dificuldade de se locomover no dia da votação", diz à Folha o senador Alexandre Silveira (PSD).
Silveira diz ainda que um dos desafios da campanha é justamente atrair o voto dos indecisos. Para ele, é preciso insistir na estratégia de desmentir notícias falsas propagadas por Bolsonaro e seus aliados, como a que Lula irá fechar igrejas ou fará banheiros unissex caso eleito.
"É a campanha ardilosa do bem contra o mal que Bolsonaro armou o tempo todo para chegar na campanha tentando ludibriar a consciência popular", diz o senador.
Durante entrevista coletiva na manhã deste sábado (22) em Minas Gerais, o candidato à Presidência da República pelo PT Luiz Inácio Lula da Silva e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) condenaram um ataque de bolsonaristas contra ex-ministra Marina Silva (Rede-SP).
Marina relatou em redes sociais ter sido xingada de "vagabunda" após um jantar com dirigentes de seu partido no restaurante do hotel Radisson Blu, em Belo Horizonte. Tanto Lula quanto Tebet relacionaram a agressão ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Hoje, o que nós vemos é violência e mais violência verbal e às vezes física. E isso acontece porque nós temos um governo fascista no Brasil. É importante que a sociedade descubra isso", disse Lula. "É quase que uma ordem do presidente da República: sejam violentos. Precisamos voltar a ser humanos. A gente não pode fazer uma guerra santa nesse país."
Já Tebet chamou Bolsonaro de "covarde".
"As mulheres vão decidir essa eleição contra um presidente misógino, que estimula a violência contra as mulheres porque é um covarde".
A própria Marina, que acompanha Lula e Tebet num evento de campanha em Ribeirão das Neves, afirmou que registrou um boletim de ocorrência. "Primeiramente, um grupo começou a gritar 'Bolsonaro mito'. Depois, um deles me chamou por duas vezes de vagabunda. Fui na delegacia prestar queixa porque ele vai ter que dobrar a língua suja dele".
A senadora Simone Tebet também repudiou um vídeo divulgado ontem em que o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) ataca e a ministra do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Cármen Lúcia e a compara com uma "prostituta".
Os ataques ocorreram após Cármen votar a favor de punir a emissora Jovem Pan em razão de declarações de comentaristas da emissora consideradas distorcidas ou ofensivas a Lula.
"Um ex-deputado fez uma agressão à ministra Cármen Lúcia como eu nunca tinha visto. É caso de determinar a prisão, ele tem que voltar para a cadeia imediatamente. Ninguém tem o direito de agredir uma mulher da forma como ele fez", afirmou Tebet.
Sergio Moro e Rosangela Moro vão ocupar vagas no Congresso a partir de janeiro de 2023 Imagem: Divulgação
Juliana Dal Piva
Colunista do UOL
22/10/2022 04h00
A deputada federal eleita Rosangela Moro (União Brasil-SP) não declarou, até o momento, apoio ou voto ao presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) no segundo turno. Uma posição diferente do marido, o senador eleito Sergio Moro (União Brasil - PR). O ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro de Bolsonaro declarou apoio à reeleição do atual presidente dois dias depois do fim do primeiro turno e chegou a acompanhar Bolsonaro no primeiro debate presidencial do segundo turno, organizado pelo UOL, TV Bandeirantes, TV Cultura e o jornal Folha de S. Paulo.
A coluna apurou que desde que Moro começou a se reaproximar de Bolsonaro, ainda no primeiro turno, as equipes de Rosangela e de Moro tiveram discordâncias. Rosangela não perdoa Bolsonaro pela série de ataques que a família sofreu, sobretudo nas redes sociais, na época em que Moro deixou o Ministério da Justiça denunciando interferência política na Polícia Federal.
Desde que acabou o primeiro turno, ela segue se manifestando publicamente com críticas a Lula, candidato do PT à Presidência e adversário de Bolsonaro e de Moro. Rosangela, porém, não fala de Bolsonaro.
Questionada pela coluna sobre atritos e declaração de voto em Bolsonaro no segundo turno, Rosangela disse, por meio da assessoria, que "não existe nenhum atrito, a Rosangela é completamente contra o Lula". A mulher de Moro, no entanto, não mencionou sua posição na eleição. Em agosto, ela acompanhou a candidata presidencial do União Brasil, a senadora Soraya Thronicke, no primeiro debate presidencial.
Antes da crise entre Moro e Bolsonaro, em fevereiro de 2020, Rosangela chegou a declarar ao jornal O Estado de S. Paulo: "Sou pró-governo federal. Eu não vejo o Bolsonaro, o Sergio Moro. Eu vejo o Sergio Moro no governo do presidente Jair Bolsonaro, eu vejo uma coisa só".
Após o pedido de demissão de Moro, em abril de 2020, ela disse: "Não poderia esperar outra atitude do meu marido. Deixar o governo era a única eticamente aceitável".
Na sexta-feira (21), Moro fez uma aparição na propaganda eleitoral de Bolsonaro. No vídeo, o ex-ministro disse: "Quero poder chegar na minha casa, e olhar nos olhos do meu filho, e dizer para ele que roubar é errado. Nós não podemos permitir que o PT, com todos esses escândalos de corrupção, retorne ao poder".