Em depoimento à PF, Bolsonaro confirma reunião com Marcos do Val, mas nega ter tramado golpe


 atualizado 

Vinícius Schmidt/Metrópoles

Em 2h30 de depoimento à Polícia Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou ter se reunido com o senador Marcos do Val (Podemos-ES) e com o ex-deputado federal Daniel Silveira, em 8 de dezembro do ano passado, mas negou ter aventado planos de gravar o ministro Alexandre de Moraes ou de ter tratado qualquer iniciativa fora das “quatro linhas da Constituição”. Bolsonaro prestou depoimento em investigação da PF sobre declarações de do Val em entrevistas e lives acerca de uma trama contra Moraes.

Esta é a quarta oitiva que Bolsonaro comparece à PF apenas em 2023. O Metrópoles teve acesso ao depoimento no qual o ex-presidente diz que a reunião com do Val durou cerca de 20 minutos e foi convocada por Daniel Silveira.

Bolsonaro, em depoimento ao qual o Metrópoles teve acesso, disse ainda que o encontro não tratou de nenhum assunto “não republicano”, tampouco algum plano “Tabajara” contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

O processo no qual Bolsonaro foi intimado a prestar esclarecimentos à PF apura suposto plano para gravar clandestinamente Moraes, em tentativa de reverter a derrota do ex-presidente nas últimas eleições

Na condição de testemunha, Bolsonaro respondeu a todas perguntas sobre as declarações de Marcos do Val.

Logo após a oitiva, Bolsonaro falou à imprensa, e confirmou o que disse à PF. 

Ele revelou que “dia 9 ou 10 de dezembro logo após aquela reunião comigo – Marcos do Val eu respondi para ele “coisa de maluco”. Não tinha nenhum vínculo com sr. Marcos do Val. Nada foi tratado. Não tinha nenhum plano para gravar o ministro Alexandre de Moraes”, disse.

O ex-presidente também destacou que do Val quis demonstrar que tinha algum grau de amizade com Moraes.

 “Tudo começou por aí. Houve o contato de Daniel Silveira, que do Val queria fala comigo assunto importante. O Daniel Silveira queria que o Marcos do Val falasse alguma coisa, mas ele não falou nada. Não sei qual foi o contato do Daniel com do Val. O que eu tinha de conhecimento é que eles não tinham relacionamento”, acrescentou.

Bolsonaro confirmou que a reunião com Silveira e do Val foi no Palácio da Alvorada. E disse que o ministro Alexandre de Moraes jamais foi citado.

O ex-presidente deu a entender que as questões relacionadas com do Val não devem ser levadas a sério. “Não vou falar se ele inventou. Foi levado ao alvorada pelo Daniel Silveira porque disse que queria conversar comigo”, acrescentou.

Bolsonaro falou sobre a quantidade de depoimentos à PF e que poderão acontecer mais, falando sobre a busca e apreensão em sua casa na situação relacionada com os cartões de vacina. “É um ato de esculacho. Fizeram até busca e apreensão na minha casa”, disse.

Em 26 de abril, o ex-presidente depôs no âmbito do Inquérito (INQ) 4921, que investiga incitadores dos atos de 8 de janeiro. Ele virou alvo das investigações após compartilhar, em 10 de janeiro, publicação em que a regularidade das eleições era questionada

Apesar de ter apagado o post no mesmo dia, a PGR acusou o ex-presidente de incitar a perpetração de crimes contra o Estado de Direito ao propagar o vídeo.

Em maio, Bolsonaro deu sua versão à PF sobre as investigações que apuram fraude nos cartões de vacinação dele, da filha, de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, e de pessoas próximas.

Trama antidemocrática

As mensagens encontradas pela Polícia Federal no telefone celular do senador e divulgadas pelo Metrópoles revelam o parlamentar fazendo um perigoso jogo duplo na cúpula dos poderes da República em torno de uma suposta trama para deflagrar um golpe de estado destinado a anular as eleições presidenciais de 2022.

Ao mesmo tempo que falava com o próprio Bolsonaro e trocava mensagens com o ex-deputado Daniel Silveira para tratar do plano, que previa gravar o ministro Alexandre de Moraes e abrir caminho para o que seria uma intervenção militar no país, do Val mantinha o próprio ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral a par de cada passo que dava.

De um lado o senador tratava com Daniel Silveira e se reunia com Bolsonaro maquinando o plano para derrubar Alexandre e anular as eleições, de outro ele delatava ao ministro, quase que em tempo real, que o então presidente da República e o deputado cassado estavam tentando cooptá-lo para colocar a proposta em marcha.

O plano que tinha o senador como personagem central envolvia a tentativa de flagrar eventuais inconfidências do ministro sobre o processo eleitoral. 

O próprio Marcos do Val encontraria o ministro e, equipado com aparelhos de escuta, o gravaria. 

O teor da gravação, de acordo com plano mirabolante gestado nas hostes bolsonaristas, seria a base para que militares alinhados ao bolsonarismo anulassem a eleição, decretassem uma intervenção no país e evitassem a posse de Lula.

https://www.metropoles.com/brasil/bolsonaro-presta-depoimento-a-pf-e-confirma-reuniao-com-marcos-do-val

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