A resistência presbiteriana – O Bastidor
Apesar do vazamento de uma proposta que prevê punições a pessoas de esquerda, a extrema-direita está longe da unanimidade na Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB).
Ao contrário, um movimento de fiéis tenta impedir que a política partidária tome a entidade.
O grupo Ecclesiae Renovare é composto por pastores que buscam alterar o pensamento da cúpula da IPB, numa tentativa de modernizá-la.
Além da visão política tolerante, eles querem permitir maior participação das mulheres, dando a elas a possibilidade de pregar, comandar ações sociais e ocupar cargos eletivos.
A IPB é das poucas denominações evangélicas que restringem tanto a participação feminina.
Em várias igrejas, desde o início do século passado as mulheres ocupam cargos e têm participação ativa.
Um dos líderes do movimento, o reverendo Wilson Emerick acredita que a maioria dos fiéis da IPB se identifica com o pensamento de extrema-direita, o que justificaria o documento que gerou controvérsia.
No entanto, defende que a igreja deve se afastar da relação com o poder político.
“Começou com pastores assumindo cargos no governo, como André Mendonça e Milton Ribeiro. Esse atrelamento no começo era mais de pensar que tínhamos uma boa formação, mas alguns começaram a se empolgar demais com isso e fizeram com que a igreja passasse a se sentir satisfeita com pessoas de destaque no governo federal”, afirma.
Para Emerick, o espaço da igreja é o de defender os pilares constitucionais de liberdade de expressão, opinião e de orientação política, bem como se preocupar com questões de ordem espiritual.
“A IPB é mais do que simpatizante do governo, alguns acham que o governo cumpre essa função messiânica. Igreja nunca se atrela ao estado, ela é autônoma e independente. Quando ela se atrela a isso, perde a função profética”, diz.
A proposta que veio a público nasceu de um relatório produzido pelo reverendo Osni Ferreira, da Igreja Presbiteriana Central de Londrina, no Paraná.
Prevê punições a fieis de esquerda, que iriam desde a proibição de participar de atividades até à expulsão.
A ideia está em discussão no Supremo Concílio, reunião de líderes da entidade que ocorre em Cuiabá esta semana.
O grupo funciona como um grande congresso, em que são debatidas questões de ordem pastoral.
Mais de mil religiosos participam da reunião.
Para ser adotada, a proposta precisa ser aprovada nesta instância.
Na semana passada, um vídeo de Oni Ferreira usando o púlpito da igreja em Londrina para defender a candidatura de Jair Bolsonaro causou revolta em fiéis que não concordam com o uso da entidade para fins políticos.
A Igreja Presbiteriana do Brasil apoiou os governos da ditadura militar (1964-85), apesar de alguns de seus fieis terem sido presos e torturados.
O posicionamento da direção levou um grupo de pastores a abrir nos anos 1970 uma dissidência, a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil.
O ramo segue boa parte dos ensinamentos dos presbiterianos mais tradicionais, mas permite o ordenamento feminino e o posicionamento contrário ao do atual governo.
No site oficial, há várias notas condenando comportamentos e atitudes de Jair Bolsonaro.
Emerick diz que o movimento Ecclesiae Renovare não tem força, nem interesse para se gerar uma nova divisão entre os presbiterianos.
Samuel Nunes
samuel.nunes@obastidor.com.br
Publicada em 26/07/2022 às 06:00