Decisão de Alexandre de Moraes pode mudar rumo do processo sobre assassinato de Marielle Franco
Joaquim de Carvalho
Decisão de Alexandre de Moraes pode mudar rumo do processo sobre assassinato de Marielle Franco
Ministro do STF aceitou pedido da defesa do delegado Rivaldo Barbosa para juntar novas provas, inclusive cópia de conversa deste com a então vereadora
Uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, tomada nesta segunda-feira, pode mudar o rumo do processo em que os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão são acusados da morte de Marielle Franco.
O ministro atendeu a um pedido da defesa do delegado Rivaldo Barbosa, que se encontra preso, e mandou juntar aos autos as conversas dele com Marielle Franco, arquivadas no celular do policial.
As conversas mostram que o delegado tinha uma boa relação com a então vereadora, que inclusive atendia a seus pedidos para entrar com segurança na favela da Maré, em investigações sobre homicídios.
A defesa quer demonstrar que Rivaldo não teria nenhum interesse em participar de uma trama para matar Marielle.
Outras conversas mantidas com os delegados Giniton Lages e Daniel Rosa, que investigaram o caso, mostrariam que ele cobrava empenho dos dois para a elucidação da morte de Marielle.
A transcrição dessas conversas não aparece no inquérito conduzido pela Polícia Federal, daí a razão do advogado pedir a Alexandre de Moraes a juntada dessas provas.
O ministro também deferiu outra solicitação importante.
Será juntada aos autos cópia do processo sigiloso em que o delator Ronnie Lessa, assassino confesso Marielle, foi pronunciado pelo assassinado de André Henrique da Silva Souza, o André Zóio, em 2014.
Também é réu no mesmo processo o ex-vereador Cristiano Girão, líder de milícias no Rio de Janeiro.
Segundo o processo, Girão contratou Lessa para matar André, depois que soube que o este havia tomado territórios que estavam sob seu controle quando foi preso, em 2010.
A prisão de Girão seria, aliás, motivo para que o ex-vereador quisesse matar Marielle, já que perdeu a liberdade em razão das apurações da CPI das Milícias, da qual o então deputado Marcelo Freixo era relator.
Marielle era sua principal assessora.
O objetivo da defesa de Rivaldo é mostrar que Lessa tinha relação com o ex-vereador e não com os irmãos Brazão, que, segundo o inquérito da Polícia Federal, teriam corrompido o delegado para desviar o foco da investigação.
A defesa dos irmãos Brazão também fez levantamento sobre a evolução patrimonial de Ronnie Lessa, vizinho de Jair Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro.
Segundo relatório que será juntado aos autos, Lessa enriqueceu ainda mais no ano de 2018, quando Marielle foi assassinada.
O processo contra Brazão e o delegado Rivaldo está em fase final, mas muitas perguntas permanecem sem resposta.
E o que os advogados querem agora é mostrar que Lessa está mentindo e que sua delegação é inconsistente.
De fato, é muito estranho que a delação dele seja usada para colocar na cadeia justamente o delegado que trabalhou para que fosse preso.
A questão da evolução patrimonial também é importante, já que não é plausível a versão de que Lessa matou Marielle acreditando que, no futuro, teria vantagens com a criação de milícias em territórios onde os irmãos Brazão teriam ganhos imobiliários.
No negócio do homicídio sob encomenda, a lógica determina que se pague adiantado (pelo menos uma parte), já que o pistoleiro não sabe se continuará vivo depois de executar o serviço.
Inadmissível é que, se os mandantes forem outros que não os irmãos Brazão, aqueles permaneçam impunes.
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