Pacificar o Brasil passa pela punição dos que atacaram a democracia


Ricardo Noblat

23/07/2023 06:00, atualizado 23/07/2023 09:39
Metrópoles
Tropa de Choque da PMDF durante retirada de manifestantes bolsonaristas do Congresso Nacional após invasão. Confusão generalizada toma conta do prédio após agentes e manifestantes entrarem em confronto em meio à gás - Metrópoles

Há dois anos e quase sete meses, o mundo assistiu, estarrecido, ao vivo e a cores como se dizia antigamente, a invasão do prédio do Congresso dos Estados Unidos, incentivada pelo então presidente republicano Donald Trump, derrotado pelo democrata Joe Biden.

Fazia muito frio em Washington naquele 6 de janeiro de 2021. 

Os católicos celebravam o Dia de Reis, data em que, segundo a tradição cristã, os Três Reis Magos visitaram o recém-nascido Jesus de Nazaré. 

Trump disse que a eleição lhe fora roubada.

Dali a 14 dias. Biden, o segundo presidente católico do país (o primeiro foi John Kennedy), tomaria posse, e era isso que Trump e seus seguidores brancos da extrema-direita queriam impedir.

 Fracassaram. Nem por isso a democracia por lá está segura.

O país de 2021 quase rachado ao meio está da mesma forma.

 E Trump, apesar de responder na justiça a 37 acusações por sete crimes, é o nome dos republicanos com mais chances de disputar as eleições presidenciais do próximo ano, outra vez contra Biden.

O governo Biden está perto do fim sem que ele tenha conseguido pacificar os Estados Unidos. 

Tentou e continua tentando, mas não depende só dele. 

O país segue aos pedaços, sem dar sinais de paz. E pela lei, Trump poderá ser eleito e governar mesmo preso.

Aqui, Bolsonaro ficou inelegível até 2030.

O prazo poderá se estender se for condenado em mais um dos 15 processos que ainda responde. 

É provável que seja. Não é que acabe preso. Mesmo depostos, Fernando Collor de Mello e Dilma não foram presos.

Michel Temer foi por poucos dias. Lula, por 580 dias. 

Prender Bolsonaro por alguns meses ou mais de um ano seria transformá-lo em mártir da extrema-direita, e de parte da direita que, por vergonha do que de fato é, apresenta-se como direita civilizada.

O golpe do 8 de janeiro, em breve, completará sete meses, apenas. 

Ainda não foi desvendado de todo. Demorará a ser. 

Nos Estados Unidos, alguns golpistas foram condenados e presos, mas restam muitos a ser julgados.

 Aqui, restam quase todos.

O ideal de pacificação do país deve ser perseguido como ideal, mesmo contra todas as evidências de que não será alcançado tão cedo – se é que um dia será. 

A extrema-direita avança em quase todas as partes do mundo, especialmente na Europa.

Na Espanha, o Partido Popular, de direita, tem tudo para vencer a eleição deste domingo, mas para que governe vai depender do Vox, partido da extrema-direita. 

Os dois, juntos, já governam regiões autônomas da Espanha onde a liberdade está sendo minada.

É irrealista cobrar de Lula que suavize ou mude seu discurso sobre o perigo que a democracia correu nos últimos quatro anos e, especialmente, no 8 de janeiro; e da justiça, que encerre logo os inquéritos abertos para apurar e punir os golpistas.

A justiça é lenta, como se sabe, mas sempre foi assim. Não é necessariamente ruim que seja. Uma justiça apressada produz muitas vítimas inocentes. 

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