A missão de Renan – O Bastidor
Diego Escosteguy
diego@obastidor.com.br
Publicada em 01/08/2022 às 16:00
Caso Lula seja eleito, Renan Calheiros se impôs uma missão:
parar Arthur Lira.
O presidente da Câmara trabalha intensamente para ser reeleito ao cargo no ano que vem.
Se conseguir se manter à frente da Presidência da Câmara, Lira será decisivo no êxito ou fracasso de um eventual terceiro governo Lula.
Renan quer impedir a reeleição de Lira.
A refrega entre Renan e Lira dá-se pela hegemonia política em Alagoas.
Mas a disputa já produziu feridas profundas.
Causa movimentos com implicações nacionais.
Lira partiu com tudo para ajudar na reeleição de Jair Bolsonaro.
O presidente, por sua vez, capitulou a Lira.
Entregou o que lhe foi pedido - incluindo um inédito controle do orçamento e uma autonomia inigualável para negociar com os demais deputados.
É do interesse de Lira e de seu projeto de poder que Bolsonaro prossiga no Planalto.
Renan é o principal aliado de Lula fora do PT.
Entusiasta da campanha do petista, o parlamentar lidera o grupo conhecido como MDB do Senado.
Ele e o petista, assim como aliados próximos de ambos, calculam como obter maioria e força num Congresso sob domínio de Lira e do uso desabusado de emendas secretas - uma relação de troca imoral, mas legalizada e tolerada.
É um parlamento bem diferente daquele enfrentado por Lula com mensalão e outras práticas políticas tipificadas nas leis penais.
Lira já indicou a interlocutores no PT, como se preciso fosse, que poderia compor com Lula num eventual governo do petista.
Lira não é bobo - muito menos Lula e Renan.
Por seus interesses regionais e pelos planos políticos que têm, Renan, em caso de vitória de Lula, quer tanto ser o interlocutor privilegiado do Planalto com o Congresso quanto enfraquecer seu hoje inimigo Arthur Lira.
Ladino, Renan convenceu Lula de que sua leitura é correta: que o melhor, para ambos, significa parar Arthur Lira.
O petista quer resultados - e distância da briga de facão que se aproxima.
Prometeu apoiar Renan, mas de longe.
Para anular Lira, Renan precisa tratorá-lo nas eleições de Alagoas, o que até pode acontecer.
Depois, se Lula ganhar, terá que usar um arsenal de cargos e benesses para subtrair de Lira a vantagem que ele já tem para se manter na Presidência da Câmara.
(Renan, como antecipou o
Bastidor, deve ganhar um bom ministério se Lula for eleito.)
A briga é boa e o resultado dela, incerto.
Mas Renan teria a seu lado, além do presidente, o ódio por Lira.
Sucesso, para Arthur Lira, é permanecer como presidente da Câmara.
Sucesso, para Renan, é ver Lira perder.
Como bem sabem seus adversários, Renan entende de vingança.