Tarifa de ônibus em SP será de R$ 5 a partir de janeiro, diz prefeitura

 

Fabíola Perez
Do UOL, em São Paulo
Atualizada em
5.jun.2024 - Movimentação de ônibus no Terminal Bandeira, na região central de São Paulo
5.jun.2024 - Movimentação de ônibus no Terminal Bandeira, na região central de São Paulo Imagem: Marcelo Estevão/Ato Press/Estadão Conteúdo

A Prefeitura de São Paulo informou, nesta quinta-feira (26), que o valor da tarifa de ônibus será reajustado para R$ 5 a partir de 6 de janeiro.

O que aconteceu

Aumento será de 13,6%, e a prefeitura afirmou que valor abaixo da inflação acumulada desde a última mudança, em janeiro de 2020. "Caso a tarifa considerasse a recomposição da inflação, passaria dos R$ 4,40 para no mínimo R$ 5,84", informou a administração municipal em nota. Prazo para recarregar bilhete único com valor sem reajuste é até o domingo, dia 5 de janeiro.

Prefeitura diz que a cidade "tem tarifa mais acessível entre as cidades da Região Metropolitana de São Paulo e uma das mais baratas do país". Contudo, segundo estudos da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) e CNT (Confederação Nacional do Transporte), São Paulo aparece em 9º lugar no ranking de capitais com a tarifa mais alta do país. Curitiba, Florianópolis e Porto Velho possuem as tarifas mais elevadas do país, fixadas em R$ 6.

Novo valor será encaminhado Câmara Municipal de São Paulo, seguindo o trâmite legal. A Prefeitura de São Paulo informou ainda que as gratuidades existentes estão mantidas, bem como a integração entre até quatro ônibus em um período de três horas.

Custo do sistema aumentou, diz SPTrans

Mais cedo, em reunião do Conselho Municipal de Trânsito e Transporte, houve o anúncio de projeção de aumento para a tarifa de ônibus em São Paulo — o órgão tem como objetivo promover a participação e o controle das ações voltadas à mobilidade na cidade de São Paulo. Segundo a superintendente da SPTrans, Andréa Compri, a hipótese mínima era de R$ 5, com reajuste de 13,6%, e a hipótese máxima de R$ 5,20, com reajuste de 18,2%.

Custo do sistema aumentou, diz a SPTrans. De acordo com os dados, o custo do sistema em 2019 era de R$ 8,7 bilhões. Em 2024, passou a R$ 11,3 bilhões. "Para se ter uma ideia, o diesel deu 57% de reajuste enquanto a inflação geral desse período deu 33% de reajuste", disse Andrea. "Carros com ar-condicionado foram incluídos na frota".


SPTrans afirma que houve redução de passageiros pagantes. Segundo a SPTrans, em 2019, eram 52% de pagantes, 23% de gratuidades e 25% de integração entre ônibus sem acréscimo tarifário. Em 2024, os passageiros pagantes equivalem a 50%, as gratuidades chegam a 28% e os ônibus sem acréscimo tarifário chegam a 22%. "Se consolida a gratuidade, mais o 'domingão de tarifa zero'", afirmou Andrea.

Também houve queda no número total de passageiros. Dados da SPTrans mostram que, em 2016, eram 9,65 milhões de passageiros por dia útil. Em 2024, foram 7,13 milhões de passageiros.


A receita tarifária era de R$ 5,5 bilhões em 2019; em 2024, caiu para R$ 4,6 bilhões. Segundo a superintendente, hoje o custo total do sistema de transporte é de mais de R$ 1 bilhão por mês, sendo R$ 11,86 por passageiro equivalente [aquele que traz a receita sem utilizar subsídio].

Média de custo entre passageiros pagantes e não pagantes é de R$ 7,62, diz SPTrans. "Esse valor equivale ao valor real da tarifa se todos os passageiros pagassem", diz Andrea. O UOL procurou a Prefeitura de São Paulo e aguarda um posicionamento.

Críticas à projeção de aumento

Projeção de aumento gerou críticas por parte dos membros do conselho. Como a SPTrans aumenta a tarifa de ônibus sendo que o serviço está sendo mal prestado há anos? Ela está beneficiando as empresas pelo serviço ruim, vocês estão punindo a população por um serviço que não está sendo bem executado", disse Souza, morador da zona leste e representante do bairro Cidade Tiradentes no conselho.

Representando o movimento Minha Sampa, Clareana Cunha cobrou a presença do secretário de transportes e do prefeito no conselho. "Quero saber quanto exatamente vai ser o valor do aumento", disse ela. "São Paulo está vivendo um colapso no sistema de mobilidade."

Ela disse ainda que a discussão no conselho deveria ser por um projeto de tarifa zero. "A prefeitura continua pagando mais num sistema muito ruim. Significa que estamos colocando o aumento da tarifa como única solução para resolver o sistema de transporte, fazendo a população pagar mais caro e prejudicando quem é da periferia", disse ela. "A discussão não deveria ser sobre o aumento de tarifa, mas sobre um projeto de tarifa zero que funcione mesmo."

Conselho se posicionou de forma contrária ao reajuste da tarifa. 
O coordenador da assessoria técnica Secretaria Municipal de Transporte, Dawton Gaia, lembrou que o conselho não é deliberativo, ou seja, não tem poder de aprovação. A reunião durou cerca de 2h30 e teve a participação de 75 pessoas.

Tarifa congelada desde 2020

Tarifa de ônibus na cidade está congelada em R$ 4,40 desde janeiro de 2020 — último ano em que houve reajuste, durante a gestão do ex-prefeito Bruno Covas (PSDB). Há uma expectativa de que Nunes anuncie o reajuste para 2025, após quatro anos sem aumento.

Nesse intervalo, a inflação acumulada alcançou 32%. Nunes tem afirmado que fatores como custo do diesel, mão de obra e inflação seriam considerados até o fim do mês para a tomada de decisão.

A tarifa acumula perdas diante da inflação. "Não chegaremos sequer a recuperar a inflação, mas o reajuste pode ser inevitável para manter o equilíbrio dos serviços e das demais áreas da gestão", disse o prefeito, recentemente. Ele não estava na reunião do conselho.

O que disse Nunes nas eleições

Durante a campanha, Nunes foi questionado se manteria o valor da tarifa, mas se esquivou de responder. "Falar que vou manter [a tarifa de ônibus] sem aumento à frente, não posso garantir, porque tem inflação. E se tiver uma explosão [no preço] de diesel? Vou ficar como mentiroso?", disse. Os opositores de Nunes afirmaram nos últimos anos que a medida era eleitoreira e que o anúncio da tarifa zero aos domingos seria uma tentativa de emplacar uma bandeira da sua gestão.


Em outubro, o prefeito afirmou que, sem os subsídios, a tarifa do transporte municipal custaria R$ 11,20. "O subsídio não dá dinheiro para empresa. Os idosos, que têm direito à gratuidade, custam R$ 1,4 bilhão. Se você pegar nossos estudantes, custam R$ 700 milhões. PcD [Pessoas com Deficiência] custa R$ 500 milhões. Essa gratuidade a prefeitura tem que pagar, é um direito e a prefeitura que remunera."

Então candidato à reeleição, Nunes disse que, ao final deste ano, faria uma análise para ver se os R$ 4,40 da passagem se manteriam. "Vamos fazer uma avaliação do dissídio, do aumento do diesel e da arrecadação para definir a questão da tarifa. Sou o único prefeito que manteve a tarifa por quatro anos sem correção e sem abrir mão da responsabilidade fiscal", afirmou.https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2024/12/26/prefeito-ricardo-nunes-anuncio-tarifa-transporte.htm