Com 13 ministros nos EUA, Lula vai discursar por mais poder aos emergentes


Jamil Chade
Colunista do UOL
Lula durante entrevista coletiva na Índia depois durante o encontro do G20
Lula durante entrevista coletiva na Índia depois durante o encontro do G20 Imagem: Ricardo Stuckert/PR

Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva subir ao púlpito da ONU para abrir a Assembleia Geral, seu discurso será direto: o atual sistema e os organismos internacionais já não atendem os interesses do século 21 e não representam a relação de poder que existe hoje no mundo.

A fala do presidente está marcado para ocorrer na terça-feira e mandará um recado claro aos países ricos de que os emergentes exigem que sua voz seja ouvida nas decisões globais a partir de agora.

Lula desembarca em Nova York com uma megadelegação de 13 ministros e 300 pessoas inscritas, inclusive da sociedade civil e indústria.

No Palácio do Planalto, a ordem é a de colocar fim ao isolamento criado durante os anos de Jair Bolsonaro e, em cada uma das áreas, usar o encontro máximo da ONU para restabelecer agendas e programas internacionais. A meta é ainda a de tornar o Brasil um protagonista em cada um dos setores da política externa.

Discurso de Lula vai defender novo espaço para emergentes no mundo

Lula, portanto, vai defender uma reforma dos organismos internacionais, principalmente das entidades que lidam com as finanças internacionais e o Conselho de Segurança da ONU.


O discurso, de pouco mais de dez minutos, ainda está em fase de ajustes, depois de passar por diferentes versões. Um dos rascunhos, que circulou entre diplomatas neste sábado, servia de esboço para o que será o retorno de Lula ao palco principal da ONU, depois de mais de uma década de ausência.

O brasileiro vai alertar que o atual estado da ONU não serve, que o sistema mantém excluída a voz de milhões de pessoas e que uma reforma do Conselho de Segurança para incluir novos membros é fundamental se a entidade quiser se manter relevante.

Lula ainda deve se beneficiar da ausência do presidente da China, Xi Jinping, que poderia ser considerado como o principal antagonista dos países Ocidentais. Narenda Modi, primeiro-ministro indiano, tampouco confirmou presença.


Também não estarão presentes o presidente da França, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak. Vladimir Putin, presidente russo, não deixa seu país desde o início da guerra.

O brasileiro, portanto, tem a possibilidade de atuar como principal interlocutor do Brics e do Sul Global.

Além da reforma urgente, Lula vai tocar em dois outros temas:

o combate à fome e à desigualdade;

o anúncio de que o Brasil terá um novo compromisso de redução de emissões de CO2.

Assim como ocorreu ao assumir o G20, Lula deve enfatizar que a guerra na Ucrânia não pode contaminar os demais assuntos da agenda internacional, como as crises espalhadas pelo globo.


As agendas dos ministros

Na busca por uma nova inserção brasileira, a delegação do governo pegou até experientes diplomatas de surpresa.

De acordo com documentos preparados pelo Planalto, cada um dos chefes de pasta terá uma agenda específica em Nova York.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, participará de encontros com ministros de diversos países e de eventos de grupos dos quais o Brasil é parte, como BRICS, IBAS, MERCOSUL, G4 e Grupo de Contato de Chanceleres da América do Sul.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, participará de eventos na ONU, encontros com investidores, acadêmicos e sociedade civil, e de reuniões bilaterais e temáticas com ministros e autoridades de outros países. Entre eles: Cúpula para Ambição Climática, seminário na bolsa de valores, reuniões ministeriais preparatórias para a COP28, reunião de ministros de meio ambiente do BASIC e do subcomitê de meio ambiente e mudança do clima da COSBAN, além de palestra na Universidade Columbia.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participará de evento da Confederação Nacional da Indústria na Bolsa de Valores, com as presenças de John Kerry e da ministra Marina Silva, além de evento da The Nature Conservancy, com o governador do Pará, Helder Barbalho, e John Kerry.


Também estará em eventos organizados pelo Instituto Igarapé e Coalização pela Amazônia, pela Eurasia, com Ian Bremmer e 20 investidores, e pela Aya, com Michael Bloomberg e Goldman Sachs.

Luiz Marinho, do Trabalho e Emprego, participará de encontros com empresários americanos e investidores do Brasil, bem como da Cúpula sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU e do lançamento, pelos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, da iniciativa pelo trabalho decente.

Nísia Trindade, ministra da Saúde, participará de reuniões de alto nível no contexto da 78ª Assembleia Geral da ONU. Segundo o governo, o Brasil apresentará as pautas internacionais, como a Cobertura Universal de Saúde e a criação de diferentes alternativas para que comunidades e indivíduos vulneráveis tenham suporte de serviços essenciais mínimos. Além disso, a preparação, a prevenção e a resposta a futuras pandemias.

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, já estava em Nova York e integrará a comitiva do presidente. Segundo o governo, ela também participará do Encontro de Mulheres Elas Lideram e fará uma visita ao Consulado Geral do Brasil em Nova Iorque, onde são recebidas mulheres brasileiras em situação de violência.

O ministro da Secretaria-Geral, Márcio Macedo, representará o Brasil no Diálogo de Líderes da Cúpula dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU, manterá encontros com a sociedade civil brasileira para discutir os temas dos ODS e a participação social, e realizará reuniões de trabalho com altas autoridades da ONU, a exemplo do USG for Policy, Guy Ryder.

Fora da comitiva, mas ainda na cidade americana, as seguintes pastas estarão nos EUA:


A ministra da Cultura, Margareth Menezes, fará discurso no Lemann Center for Brazilian Studies, na Universidade de Columbia. Também terá reunião com a subsecretária Elizabeth Allen, do Departamento de Estado, que atua na parte de Cultura do governo Biden.

O Ministro das Cidades, Jader Filho, participa do Fórum dos Governos Locais e Regionais, promovido pela ONU.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, participa do evento "Brasil em foco: mais verde e comprometido com o desenvolvimento sustentável", promovido pela Confederação Nacional da Indústria e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

No domingo, participará do Dia de Aceleração das ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) sobre os Pactos de Energia. O Brasil é responsável pelas temáticas do hidrogênio e biocombustíveis.

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, participará da Abertura da Semana do Clima, e de eventos realizados pela The Nature Conservancy (TNC), do "Unstoppable Africa", e de evento sobre mulheres que lideram a proteção ambiental.

A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, participará do Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável sob os Auspícios da Assembleia Geral das Nações Unidas e do lançamento da "Iniciativa de Alto Impacto do Secretário-Geral das Nações Unidas sobre Infraestrutura Pública Digital".

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.


JAMIL CHADE

Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente. 

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2023/09/17/com-13-ministros-nos-eua-lula-vai-discursar-por-mais-poder-aos-emergentes.htm


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