Meirelles já opera para reduzir aversão a Lula entre grandes investidores


Graciliano Rocha - 

Colunista do UOL

21/09/2022 04h00

No dia seguinte à adesão à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles almoçou com diretores da XP e mais 20 investidores institucionais na sede da empresa, em São Paulo

No encontro, a portas fechadas, Meirelles saiu pela tangente daquela pergunta que estava na cabeça de quem faz preço na Bolsa brasileira.

Investidores institucionais são gestores que administram o capital de terceiros e representam 26% da participação de todo o capital investido na Bolsa brasileira —uma montanha de R$ 351 bilhões até o início de setembro, segundo o dado mais recente da B3.

Meirelles deixou claro que só vai discutir se embarca ou não em um novo governo depois de vencida a eleição e sob as suas próprias condições, conforme relato de um dos presentes. 

Ex-ministro de Michel Temer (2016-2018), onde pilotou a construção do teto de gastos, e ex-presidente do BC sob os governos de Lula (2003-2010), Meirelles disse que está bem na iniciativa privada.

Sem responder se vai ou não ser ministro, Meirelles afirmou que um novo governo do petista vai ser pautado por responsabilidade fiscal e que Lula tem dado indicações de que vai priorizar a reforma administrativa para equacionar a questão dos gastos na máquina pública e melhorar a capacidade financeira do Estado.

Na terça pela manhã, antes do almoço da XP, Meirelles deu entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.

 Nela, o ex-ministro respondeu que o teto de gastos —uma criação de sua gestão no governo Temer que Lula prometeu acabar durante a campanha— pode coexistir com programas sociais, investimentos em infraestrutura e crescimento econômico.

"Ele falou essa questão do teto, mas por outro lado ele falou coisas muito certas, de fazer a reforma administrativa e de fazer a reforma tributária. Isso está certo. Ele está bem assessorado aí. É apenas uma questão de discutir isso com maior profundidade. Com uma reforma administrativa bem feita, a tributária, pode respeitar o teto e fazer programas sociais, investimentos em infraestrutura e o país crescer muito ao mesmo tempo", disse Meirelles à repórter Adriana Fernandes.

"Coisas certíssimas. O que precisa é fazer a sintonia fina agora", disse ele ao jornal. Em linhas gerais, esse foi o teor do endosso de Meirelles a Lula no almoço na XP.

Novamente filiado ao MDB, o ex-ministro contou que participou do ato de ex-presidenciáveis na segunda (19), após ter recebido telefonemas do candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do coordenador do plano de governo, Aloizio Mercadante (PT).

E, num grupo de grandes investidores, ambiente onde estava à vontade, disse que sua aproximação com o PT na reta final da campanha foi bem recebida pelo pedaço do PIB com quem tem interlocução.

Meirelles sabe que seu endosso a Lula agora ajuda a minar resistências em setores da indústria financeira no seu final —especialmente para quem olha de fora (gringos detêm 52% do capital investido na B3).

Uma das coisas mais enganosas sobre a vitalidade de um mercado costumam ser os movimentos de curto prazo nos ativos de renda variável.

Ninguém sério aposta em uma alta taxa de conversão de Faria Limers (majoritariamente pró-Bolsonaro) em Faria Lulers, mas, desde a foto com Lula e as conversas com grandes gestores, Meirelles parece estar fazendo preço.

Da abertura do pregão de segunda ao fechamento de terça, o Ibovespa avançou 3.848 pontos. 

As altas de 2,33% na segunda e de 0,62% na terça ocorreram descoladas do Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq, que operam no vermelho, à espera da decisão sobre juros americanos.

https://economia.uol.com.br/colunas/graciliano-rocha/2022/09/21/meirelles-ja-opera-para-reduzir-aversao-a-lula-entre-grandes-investidores.htm

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