O ex-ministro da Saúde foi ouvido nesta terça-feira, 4, na CPI da Covid, no Senado | Foto: Jefferson Rudy | AFP
O ex-ministro da Saúde foi ouvido nesta terça-feira, 4, na CPI da Covid, no Senado | Foto: Jefferson Rudy | AFP
O ex-ministro da Saúde foi ouvido nesta terça-feira, 4, na CPI da Covid, no Senado | Foto: Jefferson Rudy | AFP
O ex-ministro da Saúde foi ouvido nesta terça-feira, 4, na CPI da Covid, no Senado | Foto: Jefferson Rudy | AFPO ex-ministro da Saúde foi ouvido nesta terça-feira, 4, na CPI da Covid, no Senado | Foto: Jefferson Rudy | AFP
Ter , 04/05/2021 às 17:58 | Atualizado em: 04/05/2021 às 23:15
Cássio Santana e AFP
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou ter alertado "sistematicamente" o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre as "gravíssimas consequências" de suas posturas sobre a pandemia, ao depor nesta terça-feira, 4, na CPI que define as responsabilidades na tragédia que deixou mais de 408.000 mortos no país
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"Recomendamos expressamente que a Presidência revisse a postura, pois poderia gerar colapso do sistema da saúde", afirmou Mandetta, que deixou o cargo em abril de 2020, por defender o distanciamento social como forma de contenção do vírus.
"Todas as recomendações, as fiz. Em público, nos boletins, nos conselhos de ministros, diretamente ao presidente, a todos os secretários de Saúde", endossou Mandetta. "Nunca tive discussão áspera, mas sempre coloquei (as recomendações) de maneira muito clara."
Como prova, o ex-ministro entregou uma carta em que alertava o presidente sobre o crescimento dos riscos do coronavírus ainda durante a sua gestão no comando da pasta.
Segundo o documento, obtido pelo jornal Folha de S. Paulo, Mandetta "recomenda expressamente" ao presidente que reveja o posicionamento adotado, acompanhando as recomendações do Ministério da Saúde, "uma vez que a adoção de medidas em sentido contrário poderá gerar colapso do sistema de saúde e gravíssimas consequências à saúde da população".
De acordo com o ex-ministro, que tem seu nome ventilado como um possível candidato do DEM à presidência da República em 2022, o governo de Jair Bolsonaro não seguiu uma “proposta técnico-científica” no combate à pandemia da Covid-19.
Para Mandetta, o que havia, na verdade, era um “mal estar” no governo em relação à doença. "O que havia ali era um outro caminho, que ele [Bolsonaro] decidiu, não sei se através de outras pessoas ou por conta própria", afirmou. "Era muito constrangedor explicar porque o ministério estava indo por um caminho e o presidente por outro."
Isolamento social
Sobre a política de isolamento social, Mandetta afirmou ter feito todas as recomendações com base na ciência, na preservação da vida e na prevenção.
“Fiz nos conselhos de ministros, diretamente ao presidente (da República), aos secretários (de Saúde) estaduais e municipais”, declarou. E discorreu sobre suas discordâncias com o presidente nesse assunto.
“Não era uma situação de disputas políticas, era um momento republicano. Conversava com os governadores do Ceará, do Rio Grande do Norte e com o de São Paulo. Era um momento para união”, enfatizou o ex-ministro.
"Guedes é desonesto intelectualmente"
Ao rebater afirmação do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que Mandetta “saiu com R$ 5 bilhões no bolso” e não agiu para a compra de vacinas, o ex-titular da pasta da Saúde disse que “Guedes é desonesto intectualmente".
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, apresentou requerimento convocando Guedes para depoimento. Segundo Mandetta, Guedes ignorava alertas da Saúde sobre a evolução da pandemia.
Em resposta à senadora Leila Barros, que perguntou sobre o descompasso entre Saúde e Economia na pandemia, Mandetta voltou a afirmar que equipe econômica ignorava alertas e "não compreendia o tamanho" da crise.
De acordo com Mandetta, o ministro Paulo Guedes “nunca se interessou" em procurar o Ministério da Saúde para ouvir explicações e dados sobre a pandemia.
Sem comunicação
Mandetta afirmou que o governo federal não quis fazer uma campanha de comunicação oficial contra a Covid-19, ação adotada, geralmente, em campanhas e iniciativas de conscientização da população para a importância da imunização ou cuidado com alguma doença.
Mandetta alegou que, quando era ministro, passou a dar entrevistas diárias a fim de transmitir informações e orientações sobre a doença porque não havia um plano de comunicação do governo.
"Aquelas entrevistas, elas só existiam porque não havia o Plano de Comunicação. Não havia. O normal, quando se tem uma doença infecciosa, é você ter uma campanha institucional. Como foi, por exemplo, a Aids. Havia uma campanha onde se falava sobre a Aids, como pega, e orientava as pessoas a usar preservativo. Era difícil para a sociedade brasileira fazer, mas havia uma campanha oficial. Não havia como fazer uma campanha [contra a Covid]; Não queriam fazer uma campanha oficial”, afirmou.
A oitiva do ex-ministro foi encerrada após mais de oito horas de duração. O depoimento do também ex-ministro Nelson Teich foi remarcado para esta quarta-feira, 5, a partir das 10h.
Primeiros convocados
Os primeiros convocados pela Comissão foram os quatro ministros da Saúde que se sucederam desde o início da crise da saúde.
Madetta, ortopedista e ex-deputado, foi substituído em abril de 2020 pelo oncologista Nelson Teich, que renunciou menos de um mês depois, sob forte pressão para ampliar o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em pacientes internados com a Covid-19.
O terceiro convocado é o general Eduardo Pazuello, que ficou no cargo até o último mês de março, e exercia essa função durante o colapso de Manaus, quando dezenas de pessoas morreram por falta de oxigênio nos hospitais.
Pazuello deveria prestar depoimento na quarta-feira, mas o presidente da CPI informou que a convocação será adiada porque o ex-ministro entrou em quarentena depois de ter estado em contato com duas pessoas com covid-19.
Os últimos depoimentos esperados para esse primeiro momento são os do atual ministro,
Marcelo Queiroga, e do presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres.
A oitiva do ex-ministro foi encerrada após mais de oito horas de duração.
O depoimento do também ex-ministro Nelson Teich foi remarcado para esta quarta-feira, 5, a partir das 10h.
https://atarde.uol.com.br/politica/noticias/2167119-exministro-mandetta-diz-que-atitude-de-bolsonaro-agravou-a-pandemia