Infomoney: Mesmo diante dos fatos, mercado ainda nega a bolha imobiliária
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Entre 2008 e 2012, período cujo início é paralelo ao colapso das hipotecas
subprime nos Estados Unidos, o mercado imobiliário brasileiro pareceu imune à
crise do país norte-americano e viu um ciclo impressionante de valorização em
seus preços de venda. Uma pessoa que adquiriu imóvel no final de 2007 o
acompanhou valorizar ao menos 79,4% nos 4 anos até 2012. Quem esperou até o fim
de 2014 para vender provavelmente conseguiu prêmio de 112,86% no valor, com
base em dados do Índice Fipezap.
Impulsionada por fatores como o acesso facilitado ao crédito imobiliário,
aumento da renda, redução nas taxas de juros e otimismo causado pela boa fase
na economia em geral, essa valorização marcou um período virtuoso, mas chegou a
um limite. A partir de 2015, a crise econômica fincou pé nesse mercado, que
acabou sendo um dos mais atingidos pela recessão. Naquele ano, a valorização
dos preços de imóveis foi de apenas 1,32% em termos nominais – o que significou
queda real de 8,48% (descontada a inflação do período). Os dois anos seguintes,
ainda na crise, apresentaram variação de 0,57%, e 2017 representou o primeiro
ano na série histórica que o indicador apresentou queda nominal, caindo 0,53%
na comparação com 2016. Isso foi reflexo de fatores como alto desemprego,
aumento da inflação e queda no PIB (Produto Interno Bruto).
Houve bolha?
Para especialistas, apesar da mudança acentuada de rumo, não é possível
afirmar que houve uma bolha imobiliária no Brasil. Caio Bianchi, Diretor de
Inteligência de Mercado do Zap, acredita que é “especulação da internet” usar
esse termo em referência à reação do mercado à crise econômica brasileira.
Diferentemente de uma euforia sem embasamento, o início do círculo virtuoso
brasileiro poderia ser previsto e se deu partir do momento que as pessoas
passaram a ter mais acesso a crédito.
Isso ocorreu, explica Bianchi, principalmente como resultado da
regulamentação da alienação fiduciária, que incentivou um financiamento a longo
prazo com juros baixos. A lei que regulamenta essa questão data de 20 de
novembro de 1997, mas uma alteração de 2004 permitiu que “operações de
comercialização de imóveis, com pagamento parcelado, de arrendamento mercantil
de imóveis e de financiamento imobiliário em geral” pudessem “ser pactuadas nas
mesmas condições permitidas para as entidades autorizadas a operar no SFI”. Na
prática, as instituições ganharam a opção de usar o próprio imóvel como
garantia em caso de inadimplência do tomador de empréstimo - naturalmente,
ficou mais seguro oferecê-lo.
Com o acesso ao crédito, uma altíssima demanda reprimida no mercado deu as
caras – o que se traduziu em liquidez e aumento nos preços. Contribuiu para
isso o lançamento do Minha Casa Minha vida, que, em 2009, inaugurou um
movimento de procura até então inédito. Nessa época, as empreiteiras construíam
sem parar praticamente só para atender a uma população aparentemente insaciável
por novos imóveis.
Uma consequência foi a “empolgação” das grandes empresas da indústria
imobiliária. Entre 2006 e 2011, a bolsa de valores registrou 20 IPOs e 16
Follow-ons de empresas do setor de Construção Civil, reflexo do otimismo desse
mercado.
O problema é que na vida real não existe demanda eterna, e o aumento da
oferta se chocou com uma redução íngreme da procura durante o que viria a ser a
maior recessão da história do Brasil até então. “Mas tanto não era bolha que,
mesmo neste cenário, observamos queda bastante comportada nos preços. As
variações se mantiveram nominalmente positivas até 2016”, ressalta o Diretor do
Zap. “O que vimos nos anos anteriores à crise não era uma bolha, e sim efeito
da melhora na economia”, resume.
Aluguel
Durante a mesma crise, a contração nos preços dos alugueis foi
consideravelmente maior que a de venda. Isso ocorreu, segundo a análise do Zap,
porque a correção nessa frente ocorreu nos próprios preços, diferentemente da
venda, que viu a demanda como principal atingida.
“Como o financiamento facilita a compra, o momento de prosperidade
econômica se refletiu muito na venda de imóveis. Existem também fatores não
totalmente racionais para a aquisição, o chamado sonho da casa própria”,
explica Bianchi. Por essa mesma razão, ele acredita que os valores de aluguéis
são, comparativamente, mais líquidos. Isso potencialmente explica a variação
grande na valorização dos preços em 2009, justamente o ano inicial do Minha
Casa Minha Vida.
E 2018?
Ainda existe “excesso” nas construções que não foram ocupadas durante a
crise, mas essa oferta não deve significar que o movimento decadente continuará
para o ano que acaba de começar. Quase unanimemente, o mercado espera retomada
relativamente fraca nos preços e estabilidade para os próximos meses, tanto em
aluguel quanto em compra.
Segundo estimativas da Associação Brasileira das Entidades de Crédito
Imobiliário e Poupança (Abecip), o financiamento imobiliário com recursos
originados nas cadernetas de poupança deve crescer 15% em 2018, avanço que
deverá se concentrar nos empréstimos destinados à compra de moradias, enquanto
o crédito para a construção de novos empreendimentos tende a continuar lento.
Concomitantemente, a queda na taxa básica de juros (Selic), que fechou
2017 em 7% ao ano, deve ser, aos poucos, repassada ao consumidor que toma
crédito imobiliário, o que também incentiva a compra. A somatória desses dois
fatores é o suficiente para iniciar o equilíbrio no mercado, mas não para revolucionar
a movimentação dos preços.
Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o terceiro
trimestre de 2017 contou com o lançamento de 15.593 unidades residenciais
verticais. Uma queda de 12,2% com relação ao segundo trimestre de 2017, mas um
aumento de 4,1% com relação ao terceiro trimestre de 2016, considerando o total
geral. As vendas no terceiro trimestre totalizaram 21.074 unidades
residenciais, uma queda aproximada de 7,4% em relação ao trimestre anterior.
Considerando esses dados, nota-se que a queda em lançamentos acompanhou
redução das vendas. “No entanto, o cenário é de recuperação do mercado, pois
tanto os lançamentos quanto as vendas cresceram em relação ao mesmo período do
ano anterior”, escreveu a entidade em relatório.
Para Bianchi, uma quebra nesse fluxo de equilíbrio ocorreria apenas caso
houvesse “movimentos abruptos na economia como um todo”. Referenciando as
eleições de outubro, o executivo confia que, independentemente do candidato
vencedor, a política econômica provavelmente não será radicalmente modificada:
“a maioria dos economistas aposta que será mantida a política atual”, pondera.