Trump anuncia taxa sobre aço, e Brasil será um dos principais afetados
Trump taxará aço e Brasil será um dos mais afetados; vendas somam US$ 6 bi
O presidente Donald Trump anunciou neste domingo (9) que vai elevar as tarifas para o aço e alumínio de todos os países. A decisão será assinada nesta segunda-feira (10) e vai colocar uma taxa de 25% sobre os produtos.
O Brasil será um dos países mais afetados, com taxas que podem impactar US$ 6 bilhões em vendas, ao lado de Coreia do Sul, México e Canadá. Procurado, o Itamaraty indicou que não iria comentar por enquanto a declaração de Trump.
"Qualquer aço que entrar nos Estados Unidos terá uma tarifa de 25%", disse o presidente a jornalistas que voavam com ele no Air Force One, para Nova Orleans para assistir ao Super Bowl. Questionado se a taxa valeria para alumínio, ele confirmou.
Durante seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio. Ao longo dos anos, acabou negociando cotas para Canadá, México e Brasil. Mas, ao final de seu governo, Trump instalou barreiras aos produtos siderúrgicos do Brasil, na esperança de ganhar o voto de estados estratégicos. O governo de Jair Bolsonaro, na época, aceitou a taxa como uma forma de ajudar seu aliado a ser reeleito, o que não aconteceu.
EUA representam 48% das exportações do Brasil no setor do aço
Agora, os levantamentos confirmam que o setor é estratégico na relação bilateral.
"Os Estados Unidos são destino importante das exportações brasileiras dos setores de ferro e aço e alumínio. Em 2024, o Brasil vendeu US$ 11,4 bilhões no setor de ferro e aço para o mundo, sendo que 48,0% (US$ 5,7 bilhões) foram direcionadas para os Estados Unidos, e US$ 1,6 bilhão no setor de alumínio, sendo 16,8% (US$ 267,1 milhões) aos Estados Unidos", disse um recente informe da Câmara de Comércio Brasil EUA.
"Investigações sobre ameaça à segurança nacional relacionadas às importações foram levadas a cabo no primeiro mandato do governo Trump para determinados produtos de aço e alumínio e resultaram em uma sobretaxa de 10% para alumínio e quota com limitação de exportação para o aço", lembrou o documento. "O Brasil, um dos maiores fornecedores aos Estados Unidos, foi afetado principalmente em bens semimanufaturados de aço", constatou.
Produtos semi-acabados de ferro ou aço ocupam o segundo lugar entre os itens mais exportados do Brasil para os EUA. Em 2024, o volume chegou a US$ 3,5 bilhões.
O presidente americano não explicou quando as tarifas entrariam em vigor. Mas garantiu que todos os países serão afetados. O setor é um dos grandes responsáveis por sua vitória em estados considerados como estratégicos. O gesto de Trump, portanto, está sendo visto como uma retribuição.
Conforme o UOL havia revelado com exclusividade, o setor do aço era considerado como um potencial alvo de Trump.
Mais tarifas e Brasil na mira
Trump ainda confirmou que, entre terça-feira e quarta-feira, irá anunciar sua política comercial na qual vai estabelecer o princípio da reciprocidade. Na prática, os EUA irão taxar países que aplicam tarifas contra seus produtos. "Se eles estão nos cobrando 130% e nós não estamos cobrando nada deles, isso não vai continuar assim", disse.
A reportagem do UOL antecipou como o setor privado brasileiro e o governo Lula se preparavam para o que poderia ser a primeira onda de tarifas de Donald Trump contra o país, já a partir dos próximos dias. A preocupação é de que as taxas ou barreiras possam ser aplicadas em setores como o aço, ou como retaliação numa pressão para que o mercado de etanol do Brasil seja aberto ao produto americano.
Como resposta, o governo já começa a preparar uma lista de produtos americanos que poderiam ser retaliados, caso as exportações nacionais sejam afetadas, assim como começa a ser feito um mapeamento de como as cadeias de fornecimentos e de produção seriam afetadas.
A percepção se acentuou na sexta-feira, quando o presidente americano informou que, no começo da próxima semana, anunciaria "tarifas reciprocas" contra diferentes economias em todo o mundo. Trump já citou em duas ocasiões o Brasil como exemplo de locais onde as tarifas contra produtos americanos são elevadas e onde os EUA não seriam tratados de forma "justa".
Um levantamento da Câmara Americana de Comércio (Amcham) indicou que o saldo positivo para os EUA já dura uma década. Em 2024, as exportações brasileiras para os EUA atingiram um volume recorde de US$ 40,3 bilhões em 2024. Mas as importações brasileiras provenientes dos EUA totalizaram US$ 40,6 bilhões, aumento de 6,9% em relação a 2023.
Neste domingo, dados oficiais do governo americano confirmaram que o Brasil é responsável pelo sétimo maior superávit comercial dos EUA.
Mas, na sabatina no Senado, o novo representante comercial de Trump, Jamieson Greer, citou as diferenças tarifárias com Brasil e Vietnã.
De fato, a taxa média de importação imposta pelos EUA é de cerca de 2,2%, contra 6,7% no caso do Brasil. No caso do comércio bilateral, os americanos aplicam uma tarifa média de 1,5% aos bens brasileiros, contra uma taxa de 11,2% do Brasil sobre os itens americanos.
Mas a média não é suficiente para entender a relação comercial. Nos produtos de maior interesse do Brasil, as taxas americanas chegam a inviabilizar o comércio.
Retaliação do Brasil
O governo Lula também considera que Trump pode usar as tarifas como instrumentos de barganha em outras áreas, ou mesmo como punição. Uma delas seria o tratamento das plataformas digitais no Brasil, alvos constantes de questionamentos por parte do STF.
O governo brasileiro já iniciou um trabalho para identificar áreas nas quais poderia retaliar os EUA, da mesma forma que fizeram canadenses, mexicanos e chineses.
A resposta do governo não necessariamente viria com taxas extras, mas apenas retirando benefícios que hoje alguns produtos americanos contam para entrar no mercado nacional. Assim, portanto, as barreiras, estariam dentro das normas internacionais.
Uma lista final de produtos ainda não está concluída. Mas o esforço do governo é a de focar a resposta em setores e produtos que afetem de forma especial a base republicana e os apoiadores de Trump, principalmente nos estados que votaram pelo presidente.
No caso do Canadá, que tem no mercado americano 75% do destino de todas suas exportações, a lista de retaliação incluiu suco de laranja da Flórida e aço das regiões industriais que apoiaram Trump. Também foram colocados produtos como iogurte de Wisconsin e uísque de Kentucky. Uma sobretaxa sobre autopeças ainda afetaria Detroit.
Os europeus não escondem que se preparam para uma eventual guerra comercial, repetindo o cenário de 2017 e 2018. Naquele momento, Bruxelas elaborou uma lista de produtos americanos que foram taxados, em retaliação ao comportamento comercial de Trump.
As barreiras foram, portanto, impostas contra calças jeans, motos Harley-Davidson e produtos tradicionais como peanut butter. A meta era a de afetar estados que elegeram republicanos ou que possam representar um custo político elevado.
Naquele momento, a UE aumentou as tarifas sobre motocicletas de 6% para 31%. Alguns dias depois, a Harley-Davidson anunciou que estaria transferindo parte da produção para fora dos EUA para evitar as tarifas mais altas.
Reportagem
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