“Aumento dos juros foi uma armação do Roberto Campos Neto”, diz Guido Mantega

 Ex-ministro da Fazenda acusa ex-presidente do Banco Central de manipular mercado para elevar Selic




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Dafne Ashton

247 - Durante entrevista ao programa Boa Noite 247, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou que a elevação dos juros no Brasil foi uma manobra articulada pelo ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. 

A primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sob a presidência de Gabriel Galípolo foi marcada por uma decisão esperada pelos mercados, mas que gerou forte debate econômico. O Banco Central elevou a taxa Selic para 13,25%, um aumento de um ponto percentual. 

A medida, que favorece os interesses do mercado financeiro, foi vista por economistas como um movimento construído ao longo do ano anterior por Campos Neto para criar um ambiente de instabilidade que justificasse novas elevações dos juros.

A estratégia teria envolvido a permissividade do Banco Central diante da desvalorização do real. Desde o início de 2024, a moeda brasileira passou de R$ 5 para R$ 6,27 frente ao dólar, intensificando a pressão inflacionária e abrindo espaço para a elevação dos juros. "Foi uma armação que Campos Neto conduziu ao longo do ano. Ele criou um ambiente de terrorismo econômico, deixando claro para os investidores que o governo não estava cumprindo metas fiscais, gerando incerteza no mercado", analisou Mantega.

A política monetária do BC, sob Campos Neto, também não utilizou instrumentos como operações de swap cambial, que poderiam conter a volatilidade da moeda. Como resultado, o dólar subiu, encarecendo produtos importados e combustíveis, alimentando um cenário inflacionário que serviu de justificativa para a nova alta da Selic. 
Inflação de oferta, 
não de demanda
Diferente de um cenário onde a inflação é causada pelo excesso de demanda, o atual processo inflacionário no Brasil se deu majoritariamente por choques de oferta, incluindo a valorização das commodities no mercado internacional e fatores climáticos que impactaram a produção de alimentos. "A inflação que temos não é de demanda. O aumento do preço dos alimentos ocorreu devido à seca e à demanda externa aquecida, como no caso da carne. A desvalorização do real só potencializou esse efeito", explicou um analista do setor. 

A elevação dos juros para conter esse tipo de inflação é vista como ineficaz, pois reduz o consumo e o investimento sem atacar a raiz do problema. "Com uma Selic real de 10%, as empresas freiam seus planos de expansão, o que prejudica a oferta de bens e a recuperação econômica", complementa o especialista.

Perspectivas para os próximos meses
Apesar do tom duro adotado pelo Copom, a continuidade da alta dos juros depende de fatores externos, como a estabilização do câmbio e a dinâmica do preço das commodities. A previsão de uma grande safra agrícola neste ano pode aliviar os preços dos alimentos, e a possibilidade de um desfecho para a guerra na Ucrânia pode reduzir a pressão sobre os combustíveis.

Entretanto, a declaração do Banco Central de que novas elevações podem ocorrer, caso "condições adversas" persistam, gera incerteza entre investidores e setor produtivo. "Se o real recuperar valor e a inflação cair, não haveria motivo para continuar subindo os juros. Mas, se essa pressão seguir, poderemos ver a Selic em 14,25%, um patamar que inviabiliza o crescimento econômico", alertou um especialista em finanças.

Enquanto isso, o impacto dessa política já começa a se refletir na economia real. Setores como a construção civil e a indústria, altamente dependentes de crédito, já sinalizam retração. O efeito colateral pode ser uma desaceleração do PIB e uma recuperação ainda mais lenta do mercado de trabalho. Assista: 

https://www.brasil247.com/entrevistas/aumento-dos-juros-foi-uma-armacao-do-roberto-campos-neto-diz-guido-mantega

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