AUX URNES, CITOYENS! – A vitória histórica da esquerda na França A História que nos perdoe, mas falaremos outra vez em “resistência”. Fascistas do RN foram expurgados para a 3ª colocação num dia memorável. “Le jour de gloire est arrivé!”

QUE DIA! 



Por Henrique Rodrigues

Escrito  GLOBAL  7/7/2024 · 17:42 hs


 De LISBOA | 

A França explodiu num rompante de civilidade neste domingo, 7 de julho de 2024. Às portas de serem governados pela extrema direita, que crescia como nunca antes visto e vitoriosa no primeiro turno das eleições legislativas, foi a esquerda quem peitou e botou abaixo as pretensões neofascistas de Marine Le Pen, Jordan Bardella e seus violentos correligionários do Rassemblement National (RN). O sonho da horda extremista virou o pesadelo do terceiro lugar, numa disputa que deu uma vitória retumbante à Nouvelle Front Populaire (NFR), que aglutinou importantes partidos como o La France Insoumise, o Parti Socialiste, os Les Écologistes e o Parti Communiste Français, em que pese o fato de não terem conseguido a maioria absoluta de 289 cadeiras para formarem um governo automaticamente.

Não foi como na Marseillaise, em que os franceses foram instados a pegar em armas “contra a tirania”, mas o chamado foi parecido: “Aux urnes, citoyens!”. E foi justamente lá, nas urnas, que os cidadãos compareceram e deram de 177 a 192 assentos para a NFR, além de 152 a 158 para o Ensemble, o partido governista de centro de Macron. O RN, para quem a vitória era favas contadas, veio só lá atrás, na terceira posição, elegendo entre 138 e 145 parlamentares. Os números ainda não estão fechados e apuração segue com atualizações frequentes, esta última divulgada às 22h28 do horário local (17h28 em Brasília). Para seguirmos no belo hino nacional francês, foi a materialização do verso “Le jour de gloire est arrivé!”


Choroso e bem diferente do rapazote arrogante de uma semana atrás, Jordan Bardella se pronunciou aos jornalistas e jogou a culpa pela derrota no presidente francês e no primeiro-ministro do país, demonizando ainda a esquerda democrática ao fazer uso do mofado espantalho que a extrema direita opera tão bem em seus discursos políticos que almejam uma dissonância cognitiva generalizada. 


“Infelizmente, a aliança da desonra e os arranjos eleitorais perigosos negociados por Emmanuel Macron e Gabriel Attal com as formações de extrema-esquerda impedem os franceses de uma política de recuperação nacional”, resmungou o menino que pensou há poucos dias que governaria uma das nações mais ricas e poderosas do planeta. 


Macron, que não viu as coisas saírem como ele imaginava ao dissolver a Assembleia Nacional após o susto do resultado das eleições europeias, há um mês, no entanto, respirou mais aliviado com a derrota da extrema direita, mas por ora rejeitou as aspirações da coalização de esquerda liderada por Jean-Luc Mélenchon, sob o argumento de que “os franceses devem ter cautela” e que “o bloco de centro [seu partido] está vivo e com boa saúde”.

A resposta veio após o próprio Mélenchon se pronunciar de forma inflamada e exigir do presidente da República a convocação da NFP para governar a nação. “As lições do voto não deixam dúvidas: a derrota do presidente da República e da sua coligação está claramente confirmada. O presidente deve admitir esta derrota sem a contornar, seja de que maneira for. O primeiro-ministro deve ir embora. O presidente tem o dever de chamar a Nouvelle Front Populaire a governar”, cobrou Mélenchon, inclusive jogando na cara de Macron e da opinião pública que seu grupo “alcançou um resultado que se dizia impossível”.

Olivier Faure, o líder do Parti Socialiste, foi na mesma direção de Mélenchon e se manifestou pela chamada imediata da coalização de esquerda para entrar no governo. 

“Esta noite, a França disse não à chegada do Rassemblement National ao poder. A Nouvelle Front Populaire deve assumir o comando desta nova página da nossa história”, falou aos jornalistas e companheiros da legenda. 


https://revistaforum.com.br/global/2024/7/7/aux-urnes-citoyens-vitoria-historica-da-esquerda-na-frana-161705.html

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