Brasil esvazia reunião internacional e barra voto sobre golpistas
Jamil Chade -
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva esvaziou a reunião de emergência da OEA (Organização dos Estados Americanos) que foi convocada para debater a situação no país. O gesto foi interpretado entre os governos da região como um esforço para sinalizar que a crise está controlada, que a democracia é sólida e evitar dar protagonismo aos golpistas que atacam Brasília no domingo.
O Itamaraty confirmou que encontro vai ocorrer na quarta-feira, em Washington. Conforme o UOL revelou com exclusividade, a proposta de alguns países latino-americanos era para que uma resolução fosse aprovada nos organismos internacionais em apoio ao estado de direito no Brasil. Assim que a invasão ocorreu, no domingo, o governo da Colômbia lançou a ideia de uma reunião de emergência da entidade. O Chile, instantes depois, apoiou o projeto.
Nesta segunda-feira, as tratativas começaram, com vizinhos do Brasil sugerindo que o encontro levasse para a sede da OEA, em Washington, os chanceleres de cada um dos países. A resolução começou a ser pensada pelos países da região, apoiando o Brasil e condenando os atos golpistas.
Mas, depois de consultas nos bastidores, diplomatas brasileiros informaram aos seus homólogos na região a posição do Itamaraty:
- O Brasil aceitaria a reunião, mas não em nível ministerial. O acordo foi de que apenas havia uma reunião dos embaixadores de cada país, o que na prática significaria uma redução da ambição política do encontro.
- A segunda condição era a de que não houvesse uma resolução para ser votada. O governo brasileiro tem tradicionalmente lutado contra decisões que foquem em apenas um país e, no caso do Brasil, uma resolução poderia colocar a situação nacional numa espécie de monitoramento internacional.
O acordo entre os governos foi de que o encontro serviria para que cada delegação fizesse um discurso de apoio ao Brasil. O Itamaraty, por sua vez, usaria a ocasião para atualizar os vizinhos sobre as medidas que estão sendo tomadas pela Justiça do país para investigar e processar os autores dos crimes.
Ao abafar uma reação internacional mais forte, o que o Brasil quer é garantir que dois objetivos sejam atendidos:
- Não dar ainda mais protagonismo aos golpistas;
- Manter seu status de democracia consolidada
Neste segundo ponto, não interessaria ao Brasil demonstrar fragilidade. Depois de quatro anos de uma política externa desastrosa, Lula assumiu com a promessa de reconstrução da credibilidade do país no cenário internacional e a volta da capacidade de ser um protagonista. Para isso, deve evitar que o clima seja de desconfiança sobre a solidez de suas instituições. O Brasil tampouco quer dar um sinal de que tem um governo que estaria ameaçado.
Na ONU, a mesma postura também foi identificada. O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, foi um dos que deixou claro que tem "plena confiança" na capacidade das instituições nacionais de dar as respostas devidas.
Aos líderes estrangeiros, o chanceler Mauro Vieira também sinalizou na mesma direção ao ser procurado, inclusive com ofertas de ajuda. O Itamaraty informou aos parceiros de que a democracia era sólida e que a Justiça faria sua parte.
Jamil Chade
Colunista do UOL
09/01/2023 19h39
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