A PEC da Maldade
– O Bastidor
Para alívio do governo e regozijo do Centrão, a Câmara aprovou nesta noite a PEC Kamikaze, cujo objetivo é criar R$ 41 bilhões em despesas fora do teto de gastos para tentar impulsionar a reeleição de Jair Bolsonaro, em segundo lugar nas pesquisas.
Agora, é com a máquina do governo, com Bolsonaro e com o eleitor.
Foi com ameaças, suor e muitas emendas que se chegou ao resultado.
O governo teve de gastar no mínimo R$ 6 bilhões em emendas para que a Câmara entregasse a Bolsonaro o direito de gastar mais R$ 41 bilhões.
A política sempre surpreende a economia.
A PEC prevê vários benefícios, o principal deles o reajuste do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600.
Nas conversas de políticos, a ideia da PEC, vinda do Centrão, é perfeita: distribuição de dinheiro público em plena crise econômica é das poucas coisas aparentemente capazes de virar o jogo de Bolsonaro.
Na vida real é mais complicado.
Os deputados que votaram a favor da matéria - do Centrão ou não - ganham em duas frentes: recebem os recursos de suas emendas, que ajudam na campanha, e ainda poderão dizer que votaram pela PEC.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, se torna o maior credor de Bolsonaro, uma espécie de FMI do presidente.
Se Bolsonaro for reeleito, deverá demais a Lira.
Não que isso signifique algo para Bolsonaro, mas é importante.
Só para Bolsonaro o ganho é incerto.
Da última vez que foi convencido a distribuir dinheiro público, o Auxílio Emergencial, sua popularidade demorou cinco meses para melhorar - e, ainda assim, os índices subiram relativamente pouco.
Desta vez, Bolsonaro tem apenas 80 dias, pouco mais de dois meses.
É pouco tempo.
Terá de contar com a máquina do governo pra distribuir rápido os recursos, fazer muita propaganda, contar com o clima eleitoral e com a obrigatoriedade do eleitor de votar.
A esperança é conseguir um retorno melhor no segundo turno, para o qual restam cerca de 100 dias.
É pouco tempo também.
Mas é o que Bolsonaro tem.
Para todos os outros atores, no entanto, a disputa acaba antes, no primeiro turno.
Se der errado para Bolsonaro, boa parte deles estará eleita.
Os beneficiários ganham, em parte.
Os R$ 600 do Auxílio Brasil agora não são os mesmos R$ 600 do Auxílio Emergencial que acabou no ano passado.
Parte foi corroída pela inflação e as pessoas percebem na hora.
Quem perde em tudo é o país.
O buraco de R$ 41 bilhões é o segundo furo consecutivo no teto de gastos, desta vez com uma desculpa esfarrapada de última categoria.
Não passará incólume.
O risco-país do Brasil já está em alta, a percepção do mercado é péssima.
O mundo entrará em 2023 em recessão e o Brasil estará em pior situação que a maioria para enfrentá-la.
Começará o ano com inflação alta, baixo crescimento e uma política fiscal frouxa, que não inspira confiança.
Não é um bom começo de mandato para quem quer que seja o presidente, nem para o país.
Leandro Loyola
leandro@obastidor.com.br
Publicada em 12/07/2022 às 21:24