Celebração do aniversário do golpe depois do 8 de janeiro seria um escárnio

 

Josias de Souza - 


Em condições normais, a celebração do aniversário de 59 anos do golpe militar no próximo dia 31 de março seria um insulto. 

Depois da intentona bolsonarista de 8 de janeiro, a divulgação de mensagens autocongratulatórias dos comandantes das Forças Armadas adicionaria à ofensa uma inaceitável dose de escárnio.

Nesse contexto, a decisão do comandante do Exército, general Tomás Paiva, de eliminar do calendário a veiculação de um texto alusivo ao golpe não é apenas conveniente, mas imperiosa. 

Espera-se que os comandantes da Marinha e da Aeronáutica façam o mesmo.

Lula foi leniente com o insulto durante o seu primeiro mandato. Comandava o Exército na época o general Francisco Albuquerque. Em 2004, Albuquerque enalteceu a ditadura e contestou evidências de que militares assassinaram adversários. Foi mantido no cargo. Caiu o superior hierárquico, o então ministro da Defesa José Viegas Filho. Foi substituído pelo vice-presidente José Alencar.

Em 2006, Alencar teve que se desincompatibilizar do cargo de ministro para disputar a reeleição na chapa de Lula. Substituiu-o Waldir Pires, ex-ministro do governo João Goulart, deposto pelo golpe. O general Francisco Albuquerque não se deu por achado.

Em 31 de março daquele ano, dia da posse de Waldir Pires na Defesa, Albuquerque divulgou mensagem dizendo que o Exército "orgulha-se do passado." Foi poupado por Lula novamente. O general só foi trocado em 2007, depois da reeleição.

Presa e torturada durante a ditadura, Dilma Rousseff proibiu as notas festivas das Forças Armadas no dia do golpe. Admirador confesso do torturador Brilhante Ustra, Bolsonaro transformou a celebração do regime militar numa festa ininterrupta. Deu no 8 de janeiro.

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes acaba de decidir que os militares suspeitos de contribuir para o quebra-quebra golpista, por ação ou omissão, serão julgados na Suprema Corte, não na Justiça Militar. Contra esse pano de fundo, festejar um golpe de Estado seria deboche inaceitável.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL 

Josias de Souza 

Colunista do UOL

01/03/2023

https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2023/03/01/celebracao-do-aniversario-do-golpe-depois-do-8-de-janeiro-seria-um-escarnio.htm

Postagens mais visitadas deste blog