No governo militar de Bolsonaro os golpes rendem muito dinheiro


Josias de Souza
Colunista do UOL

Agora se compreende por que Bolsonaro sempre sustentou a tese segundo a qual não houve um golpe em 1964, e os 20 anos de ditadura foram apenas um mal-entendido. O capitão negou a ditadura porque sonhava em formar um governo militar privativo. Servindo-se dos quadros das "minhas Forças Armadas", Bolsonaro aplicou seus próprios golpes. A julgar pela movimentação bancária das patentes inferiores, as transações da facção fardada obteve resultados superiores.

Na companhia de Bolsonaro, os militares não salvaram a pátria. Mas, enquanto ajudavam o capitão a combater os neocomunistas, meteram-se em negócios que deram dinheiro. Deram muito dinheiro. Deram dinheiro demais. Criado para farejar movimentações financeiras atípicas, o Coaf farejou na sua penúltima descoberta o trânsito de R$ 3,3 milhões pela conta do segundo sargento do Exército Luis Marcos dos Reis.

Ao verificar que a aposentadoria garante ao sargento Reis um rendimento mensal de R$ 12 mil, o Coaf vinculou os milhões ao crime de lavagem de dinheiro. Sob Bolsonaro, Reis era supervisor da Ajudância de Ordens. Estava subordinado ao tenente-coronel Mauro Cid, um ajudante de ordens cujo salário de R$ 26 mil também destoou dos R$ 3,2 milhões que circularam por sua conta entre saques e depósitos.

A exemplo de Mauro Cid, Luis Reis foi preso por conta do envolvimento no caso da fraude dos cartões de vacina de Bolsonaro e da filha Laura. Ambos estão encrencados também no inquérito que apura a suspeita de uso de verbas públicas para o custeio das despesas da então primeira-dama Michelle. Nessa apuração, detectaram-se quatro depósitos de Reis para Cid. Somam R$ 72 mil. Descobriu-se também aporte para o sargento de R$ 8.330 feito por madeireira com negócios na Codevasf.

Os apologistas do antigo golpe dizem que o que houve em 64 foi uma revolução redentora, não um golpe. Agora, mesmo os militares em litígio com os fatos, começam a se dar conta de que, no governo militar de Bolsonaro, não houve apenas um golpe, mas uma sucessão de golpes. O patriotismo bolsonarista descambou para o roubo de joias.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.


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