Líderes definem que Brics deve ter expansão de 5 ou 6 países

Jamil Chade
Colunista do UOL
Presidente Lula durante encontro do Brics
Presidente Lula durante encontro do Brics Imagem: Ricardo Stuckert/PR

O bloco dos países emergentes - o Brics - deverá anunciar a expansão da aliança para mais cinco ou seis países. A decisão começou a ser costurada na noite de terça-feira, quando os presidentes de China, Rússia, África do Sul, Índia e Brasil se fecharam em um retiro para debater a ampliação do bloco. 

A cúpula com a presença de Luiz Inácio Lula da Silva está marcada para terminar na quinta-feira e a definição dos novos membros será negociada nas próximas horas.

Num primeiro momento, negociadores que estiveram dentro da sala do encontro reservado apenas para os líderes apontam que foi estabelecido que uma expansão deve mesmo acontecer, apesar de uma resistência inicial de Brasil e Índia. 

Também foi definido que essa ampliação poderia contar com cinco ou seis países.

A costura do entendimento, segundo o UOL apurou, passou por uma distribuição geográfica dos novos países membros e teve um cunho essencialmente político. 

Também se privilegiou governos que já estivessem no G20, ainda que esse não tenha sido o único critério.

Irã, Sauditas e Argentinos na lista final; Brasil não vetará

A lista final de países ainda precisa ser definida, mas os favoritos são:

Arábia Saudita

Argentina

Irã

Emirados Árabes

Egito

Por uma questão de equilíbrio geográfico, um país africano também poderá entrar. O governo brasileiro já sinalizou aos demais países que não apresentará qualquer veto aos nomes que foram anunciados.

O projeto inicial de ter a Indonésia acabou tendo de ser revisto, depois que o país asiático declarou que não estava em condições políticas neste momento.

Uma das principais novidades é a chegada do Irã, país sob pressão internacional por conta de seus projetos nucleares. Teerã é um forte aliado russo.

A expansão vinha sendo negociada ao longo dos últimos meses. Mas, diante de diferenças profundas entre os países, foi estabelecido que apenas os cinco líderes poderiam tomar uma decisão política sobre quem entraria, sob quais condições e critérios.

Para isso, foi organizado um retiro exclusivamente entre os presidentes. Fontes entre os negociadores dos Brics revelam que a ideia da China era a de que não haveria uma negociação durante a cúpula. 

Xi Jinping, presidente chinês, é conhecido por sua presença "imperial" nos eventos e quer, sempre, que decisões já tenham sido tomadas antes de sua participação.


Mas tanto o Brasil como os sul-africanos, com líderes que foram sindicalistas, estavam confortáveis em participar do retiro para negociar um acordo político.

Vladimir Putin, o líder russo, não viajou até a África do Sul, diante do risco de ser preso por conta de um indiciamento pelo Tribunal Penal Internacional. Mas, no retiro e nos debates, participou por videoconferência, enquanto seu chanceler, Sergey Lavrov, estará no encontro presencialmente.

China quer um bloco para chamar de seu

Ao longo dos últimos meses, negociadores trabalharam sobre diferentes cenários sobre o que poderia ser uma expansão da aliança. A ideia foi capitaneada pela China, num esforço para ampliar sua influência e, na visão de determinados grupos dentro do governo brasileiro, uma ofensiva para instrumentalizar os Brics.

Com o bloco repleto de seus aliados, a China poderia ampliar seu poder no debate internacional, em decisões em organismos internacionais e mesmo no estabelecimento da agenda de debates da ONU.

Para o Brasil, esse é um cenário que não atende necessariamente a seus interesses. O temor no Itamaraty é de uma perda do protagonismo nacional entre os emergentes e o risco de que o bloco fique refém dos objetivos estratégicos de Pequim.


Por isso, nos últimos meses, o Itamaraty fez questão de defender o estabelecimento de critérios que deveriam ser usados para a entrada de novos membros, assim como um equilíbrio regional. O objetivo era de permitir que aliados sul-americanos do Brasil pudessem fazer parte, contrabalanceando a chegada de aliados chineses.

Posição no Conselho de Segurança

Mas a influência chinesa não é a única preocupação do Brasil. Um dos temores é de que, com um maior número de membros, a candidatura histórica de brasileiros, indianos e sul-africanos por assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU seja enfraquecido por concorrências internas entre os emergentes.

Hoje, a China é vista pelo Brasil como um governo que não quer a expansão do Conselho de Segurança e que, nos bastidores, trabalha contra essa ideia. Com o bloco dos emergentes dobrando de tamanho e com aliados chineses, porém, a dúvida é se a candidatura brasileira não acabaria sendo afetada.

Por isso, o Itamaraty insiste que a cúpula desta semana precisa ser concluída também com uma definição sobre esse apoio chinês à expansão do Conselho de Segurança.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.


JAMIL CHADE

Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2023/08/23/lideres-definem-que-brics-deve-ter-expansao-de-5-ou-6-paises.htm

Postagens mais visitadas deste blog