Horas após blitze no 2º turno, Bolsonaro se reuniu com Silvinei e Torres

 

Eduardo Militão, Do UOL e em Brasília
20.jun.2023 - O ex-diretor da PRF Silvinei Vasques na CPMI do 8 de Janeiro
20.jun.2023 - O ex-diretor da PRF Silvinei Vasques na CPMI do 8 de Janeiro Imagem: 20.jun.2023 - Pedro França/Agência Senado

Preso hoje pela Polícia Federal, o ex-diretor da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Silvinei Vasques e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres chegaram juntos ao Palácio da Alvorada —a residência oficial da Presidência da República— no dia do segundo turno das eleições, 30 de outubro. É o que mostram registros do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) obtidos pelo UOL. Horas antes do encontro, a PRF havia deflagrado mais de 500 operações em várias estradas do país, com maior foco no Nordeste.

O que aconteceu

Silvinei foi preso preventivamente nesta quarta-feira (9) por suspeita de ter promovido blitze contra ônibus e carros para dificultar a votação de eleitores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno.

Registros do GSI mostram que o ex-diretor da PRF se reuniu no dia 30 de outubro no Palácio da Alvorada com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) antes do encerramento da votação. Após votar no Rio de Janeiro, o ex-mandatário chegou por volta das 15h30 ao Alvorada, onde acompanhou a apuração.

Uma hora depois, às 16h31, Silvinei chegou à residência oficial do presidente juntamente com Anderson Torres. Os dois deixaram o local quase uma hora depois, por volta das 17h20. Preso por quase quatro meses, o ex-ministro da Justiça, que teve uma minuta golpista encontrada em sua casa, é hoje monitorado com tornozeleira eletrônica por suspeita de ter se omitido nos atos de 8 de janeiro.

Ameaça de prisão. Pouco antes do encontro com Bolsonaro, Silvinei esteve no TSE (Tribunal Superior Eleitotral) por ordem de Alexandre de Moraes, presidente da corte. Na ocasião, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) ameaçou prender Silvinei, caso a PRF não liberasse, em até 20 minutos, as vias bloqueadas, segundo informou a revista piauí.O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, disse hoje ao UOL News que o PT foi informado da existência de reuniões entre Bolsonaro, Silvinei e Torres pouco antes do segundo turno para tratar das blitze em rodovias no segundo turno.

"Eles combinaram no Palácio", disse Teixeira. "O presidente Jair Bolsonaro participou dessa articulação", completou, sem contudo apresentar provas dos supostos encontros. O UOL não localizou registro dessas reuniões tampouco da entrada de Silvinei e Torres em um mesmo dia no Planalto.

A agenda de Silvinei mostra, contudo, que ele esteve no Palácio do Planalto no dia 26 de outubro, quatro dias antes do segundo turno, para uma "visita institucional". Neste dia, Bolsonaro estava em campanha eleitoral em Minas Gerais.

Na ocasião, Silvinei foi recebido pelo assessor-chefe da Assessoria Especial de Jair Bolsonaro, João Henrique Freitas, às 15h30, conforme a agenda do ex-diretor da PRF. Registros do GSI confirmam que Silvinei ingressou pouco antes desse horário no Palácio do Planalto.


Não se sabe o que foi tratado nos encontros dos dias 26 e 30 de outubro. O UOL pediu esclarecimentos à defesa de Jair Bolsonaro e de Anderson Torres, mas não obteve retorno. A defesa de Silvinei não foi localizada. A reportagem também procura o ex-assessor especial de Bolsonaro.

O que se sabe das supostas interferências de Silvinei nas eleições

Segundo a PF, integrantes da PRF supostamente direcionaram recursos para dificultar o trânsito de eleitores no dia do segundo turno, sobretudo no Nordeste, região em que o então candidato Lula (PT) teve maioria dos votos no primeiro turno.

Os crimes apurados teriam sido planejados desde o início de outubro daquele ano, sendo que, no dia do segundo turno, foi realizado patrulhamento ostensivo e direcionado à região Nordeste do país.

Trecho de comunicado da PF

A Polícia Federal localizou imagens de um mapeamento de municípios onde Lula teve mais de 75% dos votos no primeiro turno no celular da ex-diretora de Inteligência Marília Ferreira de Alencar, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, sob tutela então de Anderson Torres. As informações constam em relatório enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) que embasou a prisão de Silvinei.

A prisão foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, que viu conduta "gravíssima" e "ilícita. Moraes ainda apontou que a liberdade de Silvinei poderia "comprometer a eficácia das diligências", uma vez que, mesmo aposentado, o ex-diretor da PRF ainda tem influência e "reverência" entre agentes.


Os investigados podem responder por prevaricação e violência política, além dos crimes de impedir ou embaraçar o exercício do voto e ocultar, sonegar, açambarcar ou recusar no dia da eleição o fornecimento de utilidades, alimentação e meios de transporte, ou conceder exclusividade dos mesmos a determinado partido ou candidato.

UOL divulgou dados de um documento interno da PRF que apontam que o órgão, sob Silvinei Vasques, escalou mais agentes de folga para trabalhar nas blitze no segundo turno em estados onde Lula havia ganhado de Bolsonaro no primeiro turno. O custo total da operação foi de mais de R$ 1,3 milhão.


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