Neste Natal e rumo a 2024, a certeza de que dias melhores já vieram e virão


Reinaldo Azevedo
Colunista do UOL
Bolsonaro discursa em manifestação golpista no dia 19 de abril de 2020, em frente ao QG do Exército. Seus bate-paus pediam um novo AI-5, e ele ameaçou as instituições. Lula discursa no Congresso no dia 20 de dezembro deste 2023, por ocasião da promulgação da reforma tributária. Com efeito, eu não sou nem isento nem neutro diante desses dois Brasis. E jamais serei.
Bolsonaro discursa em manifestação golpista no dia 19 de abril de 2020, em frente ao QG do Exército. Seus bate-paus pediam um novo AI-5, e ele ameaçou as instituições. Lula discursa no Congresso no dia 20 de dezembro deste 2023, por ocasião da promulgação da reforma tributária. Com efeito, eu não sou nem isento nem neutro diante desses dois Brasis. E jamais serei. Imagem: Evaristo Sá/AFP; Hugo Barreto/Metrópoles

Quando a imprensa tem responsabilidade, reconhece esforços e resultados invulgares, como se dá com o governo Lula. "The Economist", insuspeita de simpatia pelo comunismo e mesmo por esquerdismos mais suaves, sustenta que três países se destacaram neste ano que termina: Brasil, Grécia e Polônia.

A revista britânica afirma que Lula restaurou a normalidade democrática e chama a atenção para a redução do desmatamento na Amazônia. Nota que o petista sucede a "quatro anos do populismo mentiroso de Jair Bolsonaro, que espalhou teorias conspiratórias, paparicou policiais matadores, apoiou fazendeiros que incendeiam florestas, recusou-se a aceitar a derrota eleitoral e encorajou seus devotos a tentar uma insurreição".

Desde 2013, a "Economist" escolhe "O País do Ano", entendido como "o lugar [do mundo] que melhorou mais". O, por assim dizer, "prêmio" estava destinado ao Brasil, mas a distinção não veio em razão do tratamento, considerado excessivamente lhano, dispensado por Lula a Vladimir Putin e a Nicolás Maduro — crítica que não me parece despropositada, ainda que eu mantivesse a distinção, que ficou com a Grécia, se me fosse dado decidir.

Tão relevante como combater o golpismo e recuperar isso a que o texto chama "normalidade", são as conquistas econômicas, que alguns especialistas na própria opinião consideravam impossíveis.

Mesmo com um Congresso, em princípio, hostil, Lula conseguiu se articular para aprovar o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária e começou a desmontar o hospício em que se juntam desonerações, regimes especiais de tributação e a pura, simples e descarada sonegação.

Defesa das instituições e encaminhamento de questões (re)estruturantes da economia se deram enfrentando uma oposição que jamais aderiu a práticas consagradas pela política. Ao contrário: tem sido necessário, no Parlamento e nas redes sociais, enfrentar uma horda de sabotadores: em vez de propostas alternativas, a pura e simples recusa ao debate; em vez da crítica qualificada, o achincalhe, o ódio, o preconceito, a apologia da barbárie; em vez da defesa do interesse nacional, uma espécie de espírito de milícia sempre à caça dos adversários.


É importante que uma publicação de alcance mundial reconheça, pois, o feito nada corriqueiro em curso. Talvez esteja a faltar à imprensa nativa não a generosidade — porque não é disso que se cuida —, mas uma escala mais clara de valores para reconhecer que há algumas escolhas civilizatórias que dispensam a controvérsia. Acolhê-las não implica submissão a um governo, a um partido, a uma corrente de pensamento. Jamais esperem deste escriba que se declare isento no confronto entre a democracia e a sua negação.

A "Economist" fez, a meu modo, o que fiz aqui. Olhou o lugar — e a lama ideológica e moral — em que estávamos em 2022 e a cotejou com o que se tem agora. O juízo comparativo é importante porque indica evolução ou involução. Mas também é imperioso que se atente para a qualidade da mudança. A reforma tributária, por exemplo, a despeito dos desafios que estão por vir, avançou 50 anos em um.

Nesta véspera de Natal e rumo a 2024, com os votos de sempre e de rigor por dias melhores, observo: jamais incluam entre as favas contadas os direitos fundamentais garantidos pelo regime democrático. Se nos descuidarmos, a coisa desanda. O ódio costuma ser mais fiel do que o amor. E continua à espreita.


"O presente é tão grande, não nos afastemos/ Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas."

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.


OLHAR APURADO

Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário. 

https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2023/12/24/neste-natal-e-rumo-a-2024-a-certeza-de-que-dias-melhores-ja-vieram-e-virao.htm

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