Charges do Renato Aroeira
Válido para toda a América Latina |
Um povo sem memória é um povo sem futuro
atualizado
Se você gosta de futebol e acompanha jogos, já deve ter lido a frase escrita no alto do portão 8 do Estádio Nacional de Santiago do Chile. Ela diz:
“Un pueblo sin memoria es un pueblo sin futuro”. (Um povo sem memória é um povo sem futuro.)
Aplica-se à história de qualquer país, mas foi escrita para que nunca sejam esquecidos os 17 anos da ditadura militar que teve início há 50 anos com o ataque aéreo ao Palácio de La Modena.
Ali despachava o presidente socialista Salvador Allende, que resistiu armado à sua deposição e depois matou-se. Uma junta militar, liderada pelo general Augusto Pinochet, assumiu o poder.
O Estádio Nacional serviu de cárcere, local de torturas e de execuções para 20 mil pessoas, inclusive brasileiros exilados no Chile desde o golpe militar, aqui, de 31 de março de 1964.
Com o aval do então presidente Richard Nixon, os Estados Unidos estimularam e financiaram ações para derrubar o governo de Allende, e em seguida, para manter de pé a ditadura de Pinochet.
Ao todo, o regime militar deixou mais de 3 mil mortos ou desaparecidos e forçou a saída do país de 200 mil chilenos. Pinochet nunca foi punido. O Brasil de 64 ajudou-o a governar.
Desde o fim do desastrado governo Bolsonaro, que culminou com a tentativa de golpe do 8 de janeiro, cobra-se do presidente da República que faça tudo ao seu alcance para reconciliar o país.
Quem pode ser contra a reconciliação? Lula, por sinal, elegeu-se prometendo unir o país mais uma vez. Foi assim que agiu nos seus dois mandatos anteriores, credenciando-se ao terceiro.
O que não quer dizer passar uma borracha em uma das páginas mais infelizes da nossa história. Um povo sem memória é um povo sem futuro, ensinam os chilenos. E essa é uma lição universal.
Não podem nem devem ser esquecidos os crimes cometidos contra o Estado de Direito Democrático, sob pena de eles voltarem a se repetir. Nem seus autores. Nem os que colaboraram com eles.
A máxima de que “no Brasil até o passado é incerto” serve para desestimular qualquer revisão de anos idos. Mas as revisões são necessárias. A História não é algo que se possa petrificar.
Anistia na linguagem jurídica significa o perdão concedido aos culpados por delitos coletivos, especialmente de caráter político, para que cessem as sanções penais contra eles.
Não significa, porém, esquecimento. Só é possível construir um futuro melhor levando-se em conta os acertos e erros do passado.
https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/ricardo-noblat/um-povo-sem-memoria-e-um-povo-sem-futuro.
Opinião
50 anos do golpe no Chile: son los que matan que mueren de miedo
Gilda e Michel,
Ao longo dos anos, uma de minhas apurações constantes tem sido a busca por documentos, informes secretos e arquivos diplomáticos referentes às ditaduras sul-americanas.
Isso acabou me levando a ser um dos pesquisadores da Comissão Nacional da Verdade, em 2014. E, ao ler sobre a resistência do ser humano, me introduziu ao significado mais profundo da palavra "coragem".
Mas cada vez que abro esses arquivos em diversos idiomas e leio do que é capaz a brutalidade de um homem - sim, quase sempre é de um homem - eu me pergunto: como essas vítimas foram capazes de ser superar a violência?
Como olhar para frente, quando o presente é de tanta dor?
O que nos move a resistir e não sucumbir?
Como reconstruíram suas vidas? Onde foram buscar a força?
Por mais que eu tenha, ao longo do tempo, entrevistado vítimas de violações em todo o mundo, os relatos que recebi de vocês foram dos mais reveladores.
Cada vez que ouço algumas das histórias tão poderosas sobre vocês dois, onde o afeto, os netos, o vinho, a paciência, a luta, o compromisso e a sabedoria parecem imperar, as silhuetas das respostas que eu procuro ganham contornos reais.
50 anos depois do golpe militar no Chile que sacudiu para sempre suas vidas, vocês provam que a coragem vem mesmo da palavra coração, como está desenhado na imagem de Gilda carregando a filha Tatiana.
Vocês nos ensinam que o amor vence, sempre.
E nos tranquilizam com a constatação de que son los que matam que mueren de miedo.
Vida longa a vocês e saudações democráticas,
Jamil
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2023/09/11/50-anos-do-golpe-no-chile-son-los-quematanquemuerendemiedo.htm