Quem mandou matar Marielle?, eis a pergunta ainda pendente


Josias de Souza
Colunista do UOL

A Polícia Federal batizou de Élpis a penúltima operação relacionada ao caso do assassinato de Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes. Na mitologia grega Élpis era a deusa que personificava a esperança. Por enquanto, é muito pálida a esperança despertada pela prisão nesta segunda-feira do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel. O personagem não é novo. E seu retorno à cadeia não responde à interrogação central do caso: Quem mandou matar Marielle?

O ministro da Justiça, Flávio Dino, declarou em entrevista que houve uma "mudança de patamar" da investigação. Atribuiu a evolução à delação premiada do ex-PM Élcio de Queiroz, um dos acusados de executar Marielle e Anderson. Além de eliminar dúvidas sobre a execução dos crimes, a delação abriu, segundo Dino, a perspectiva de chegar aos "mandantes". Algo que ficaria claro "nas próximas semanas".

Reconduzido à prisão, o ex-bombeiro Suel já foi condenado em 2021 por obstruir as investigações. Pegou quatro anos de cadeia, que vinha cumprindo em regime aberto. Até aqui, atribuía-se ao personagem a propriedade do carro usado para esconder as armas que estavam em um apartamento de Ronnie Lessa, acusado de puxar o gatilho. Suel ajudara a jogar o armamento no mar. Agora, afirma-se que ele participou também do planejamento e da execução dos crimes.

Iniciada há mais de cinco anos, a investigação do caso Marielle consolidou-se como um vexame internacional. Em fevereiro, Flávio Dino instalou uma gambiarra no inquérito, promovendo informalmente uma federalização necessária, que o Superior Tribunal de Justiça havia negado. Dino guindou a elucidação do caso ao patamar de "questão de honra". Impôs à Polícia Federal o desafio de provar que não existe crime perfeito, mas crime mal investigado.

Resta agora saber como a prisão do peixe pequeno Maxwell Simões Corrêa ajudará a chegar aos peixões escondidos atrás do crime. No momento, estão no banco dos réus o policial militar reformado Ronnie Lessa — acusado de ter feito os disparos — e o ex-PM Élcio de Queiroz, convertido agora em delator — que dirigia o carro durante a perseguição às vítimas.

Os dois aguardam na prisão pelo julgamento num tribunal de júri, em data a ser marcada. Ambos negavam as acusações. Em sua delação, Élcio confessou ter participado do crime, confirmou o envolvimento do comparsa Ronnie, ampliou a suspeição que rondava Maxwell Simões Corrêa, o Suel, e forneceu dados que podem levar os investigadores aos mandantes.

 UOL

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz estão presos desde 2019. Foram detidos a 48 horas do aniversário de um ano dos assassinatos. O Ministério Público do Rio de Janeiro e a polícia civil fluminense anunciaram as detenções com estardalhaço.

Alegou-se na época que "provas técnicas" levaram à identificação dos executores de Marielle e Anderson. Informou-se que os criminosos nutriam uma "repulsa" pela figura de Marielle e por sua pauta política. Mataram por "motivo torpe", alegou a Promotoria. Cometeram "crime de ódio", ecoou relatório da polícia civil.


O então governador do Rio, Wilson Witzel, soltou fogos. "É uma resposta importante que nós estamos dando à sociedade, a elucidação de um crime bárbaro?" Dava-se por encerrado um caso que continuava nebuloso.

No mundo em que as coisas fazem sentido, matadores de aluguel matam como um negócio. Não costumam se dar ao luxo de custear uma operação sofisticada para matar uma pessoa por não gostar das atividades dela. Agem por dinheiro, não por capricho.

Hoje, como ontem, continuam piscando no letreiro nacional um par de indagações cruciais: Quem mandou matar? Por quê? O caso só mudará de patamar quando essas interrogações forem respondidas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.


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