Finalmente, Lula assume o comando supremo das Forças Armadas

 

Metrópoles 

Ricardo Noblat 6:00, atualizado 22/01/2023 4:29

Ricardo Stuckert


Não foi fácil para Lula eleger-se pela terceira vez presidente da República. Não foi fácil atravessar os 62 dias que separaram a data da eleição da data da posse. Com apenas oito dias no cargo, enfrentou e venceu uma tentativa de golpe de Estado. Mas faltava ter sua autoridade reconhecida pelas Forças Armadas.

Ao demitir, ontem, do comando do Exército o general que ele mesmo pediu a Bolsonaro que nomeasse, afinal Lula assumiu de fato a condição de comandante supremo das Forças Armadas. Saiu o general Júlio César de Arruda, um bolsonarista moderado que perdeu a confiança de Lula. Entrou o general Tomás Ribeiro Paiva.

Arruda era a mais destacada expressão da política de apaziguamento adotada por Lula e pelo ministro da Defesa José Múcio Monteiro, o novo amortecedor de tensões entre o governo e os demais Poderes da República. O amortecedor de tensões à época de Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira, fracassou.

Menos de 24 horas antes, Arruda e os comandantes da Marinha e da Aeronáutica haviam se reunido com Lula para discutir a modernização das três Armas. Acontece que Arruda foi reprovado no primeiro teste de obediência ao negar-se a demitir o tenente coronel Mauro Cid da chefia do 1º Batalhão de Ação de Comandos.

Conhecido pela sigla BAC, o Batalhão, com sede em Goiânia, é uma espécie de BOPE do Exército, destinado a operações especiais. Em caso de colapso do Comando Militar do Planalto e de grave ameaça à segurança dos presidentes dos Poderes da República, por exemplo, o BAC é quem pode socorrê-los de imediato.

O tenente coronel Mauro Cid não é só um bolsonarista fanático. Seu pai, um general da reserva, é amigo há décadas de Bolsonaro, e Mauro Cid foi ajudante de ordem de Bolsonaro até seu último dia de governo. Viajou com ele para os Estados Unidos. Foi nomeado por Arruda para o comando do BAC a pedido de Bolsonaro.

Somente na noite da última sexta-feira, depois da publicação pelo Metrópoles da reportagem de Rodrigo Rangel, foi que Lula e seus conselheiros souberam que Mauro Cid é investigado por transações financeiras suspeitas feitas com o cartão corporativo de Bolsonaro. É o Queiroz Zero Dois das rachadinhas.

Lula cobrou a desnomeação de Mauro Cid do comando do BAC. Arruda não quis fazê-la, e por isso foi demitido. Temeu-se nas cercanias de Lula que os comandantes da Marinha e da Aeronáutica, solidários com Arruda, pedissem demissão. Mas eles não pediram. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Os aspirantes a herdeiro dos votos de Bolsonaro dirão que Lula esticou a corda e que quer arranjar encrenca com os militares. O general Hamilton Mourão, ex-vice de Bolsonaro e eleito senador pelo Rio Grande do Sul, foi o primeiro a dizer. É só o que está sendo dito por generais de pijama em grupos de WhatsApp.

Nada de parecido foi dito por essa gente quando Bolsonaro, em 2021, demitiu de uma só vez o general Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa, e os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, que se opunham à politização das Forças Armadas. Lula fez o certo. Acabaria engolido se não agisse com rapidez.

O novo comandante do Exército é prova de que tem democrata na tropa. Alvíssaras!    

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