Alexandre de Moraes mira em Bolsonaro ao ordenar prisão de Anderson Torres
Josias de Souza
Ao mandar prender Anderson Torres, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre Moraes encostou em Jair Bolsonaro a investigação da versão tupiniquim do Capitólio.
A movimentação de Moraes inquieta o bolsonarismo.
Em avaliações compartilhadas com Bolsonaro, filhos e aliados dizem estar convencidos de que o magistrado que o capitão já chamou de "canalha" se equipa para prendê-lo.
Sentindo o cheiro de queimado, o primogênito Flávio Bolsonaro foi ao microfone do Senado nesta terça-feira para qualificar de fantasiosa a tese segundo a qual seu pai estaria por trás do Capitólio bolsonarista.
"Não queiram criar essa narrativa mentirosa, como se tivesse alguma vinculação de Bolsonaro a esses atos irresponsáveis", declarou o Zero Um.
O problema é que Bolsonaro e os bolsonaristas cavaram nas redes sociais as trincheiras do golpismo.
Produziram um rastro de provas contra si mesmos.
Anunciaram em conta-gotas um complô contra a democracia como se desenhassem sem borracha.
Tornou-se impossível apagar todas as evidências.
A responsabilidade política de Bolsonaro é clara.
Moraes tenta empurrar o capitão e seus cúmplices para dentro das quatro linhas do Código Penal.
Com o fim da gestão Bolsonaro, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres havia reassumido a chefia da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal no dia 2 de janeiro.
Apenas cinco dias depois, viajou em férias para a Flórida, o mesmo refúgio escolhido por Bolsonaro. Estava ausente do Brasil no domingo, quando falanges bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.
Em vez de reprimir os golpistas, a Polícia Militar de Brasília, subordinada a Anderson Torres, escoltou os criminosos até a cena do crime, abstendo-se de reprimir o quebra-quebra.
Mesmo ausente, Torres foi demitido pelo governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha. Horas depois, Moraes afastou do cargo por 90 dias o próprio Ibaneis.
O mandado de prisão contra Anderson Torres foi expedido a pedido da Advocacia-Geral da União, no âmbito do inquérito sobre milícias digitais.
Moraes ordenou também que a Polícia Federal farejasse a casa de Torres numa batida de busca e apreensão.
O ex-ministro mora no mesmo condomínio fechado em que Bolsonaro alugou uma casa em Brasília.
Moraes foi um dos principais alvos da fúria dos invasores que destruíram o plenário do Supremo no domingo.
O atentado reforçou o aval tácito concedido pela maioria dos colegas de tribunal para que Moraes conduza com mão forte as investigações que envolvem Bolsonaro e o bolsonarismo no Supremo.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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