Mesmo com prisões, violência bolsonarista não voltará ao armário tão cedo

 

Leonardo Sakamoto - 


Apesar da reação do ministro Alexandre de Moraes e do presidente Lula contra os ataques terroristas ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal, no domingo (8), o Brasil está apenas começando sua longa luta contra a violência golpista da extrema direita.

Pois o bolsonarismo percebeu que era mais fácil do que imaginava causar o caos e atingir o coração da República. 

Esse raio especificamente não cairá novamente no mesmo lugar, mas nem precisa, pois atingiu o seu objetivo: mostrou que é capaz de desestabilizar o cotidiano, mesmo que de forma tosca e mambembe.

Caso se confirme que torres de transmissão de energia elétrica no Paraná e em Rondônia foram mesmo alvos de sabotagem por golpistas usando tratores, o terrorismo doméstico brasileiro terá conseguido causar danos à infraestrutura a um baixo custo. 

O que significa que esse tipo de ação pode se tornar parte da paisagem por maníacos que não reconhecem o resultado das urnas. 

Ainda mais maníacos armados por Bolsonaro.

As prisões do então comandante da Polícia Militar e do ex-secretário de Segurança Pública, o afastamento do governador e a intervenção federal na área de segurança pública do Distrito Federal, bem como a detenção de centenas de golpistas e a investigação de seus financiadores são ações importantes para tentar desmotivar ataques.

Mas mesmo que essas decisões mandem um recado à extrema direita e às polícias militares, que são eminentemente bolsonaristas e capazes de se omitir, como cansamos de alertar, isso não irá desmobilizar os ânimos.

 Pode levar muita gente ao bom senso, mas há uma parcela que vive em uma dimensão paralela, sendo capaz de matar por isso.

A imagem de Lula saiu fortalecida dentro e fora do Brasil após o episódio, o que ajudará a impedir qualquer aventura contra o mandatário. 

Mas, para esse grupo, isso vai chegar distorcido.

 Durante anos, Jair Bolsonaro foi eficaz em garantir que uma parcela de seus seguidores não consumisse informações de outras fontes que não as chanceladas por ele.

Isso criou uma espécie de "bolsoverso", um universo paralelo, em que cloroquina cura covid-19, vacinas matam, urnas são fraudadas, o golpe foi dado por Lula e Alexandre de Moraes é um reptiliano. Apartado da sociedade, esse grupo opera em uma outra lógica de interpretação do mundo.

Nessa lógica, o golpista é um herói. A destruição terrorista? Um ato de uma lisérgica "primavera brasileira". Roubo no Palácio do Planalto? Espólios de guerra. Um ginásio esportivo para a triagem dos presos que participaram das invasões? Um campo de concentração (comparação esdrúxula e vergonhosa, que gerou críticas até do Museu do Holocausto). E Jair? O messias.

Como devolver para dentro da caixinha das desgraças do mundo aqueles que acreditam ter ouvido o chamado e estão prontos para uma cruzada? Os governos terão que aprender a desenvolver estratégias de enfrentamento e de dissuasão à medida em que a extrema direita criar formas de contornar as estratégias anteriores.

Ao contrário do que afirmou o senador Flávio Bolsonaro, seu pai continua fomentando o golpismo, seja através dos aliados que, por exemplo, ajudam a garantir que a PM será dócil em atos como o de domingo, seja enviando mensagens cifradas que funcionam como apitos de cão para o seu rebanho golpista.

Bolsonaro teve o "mérito" de organizar o bolsonarismo.

 Mesmo se for preso e sair de cena, esse movimento que não acredita na Justiça, mas no justiciamento, sobrevive sem ele. 

Ele já estava aí desde sempre - atirando em jovens negros, queimando indígenas, dando pauladas na população em situação de rua. Será capaz de seguir sozinho.

Perseguindo um comunismo inexistente, parte desses patriotas terroristas está pronta para ir até o fim. 

É preciso removê-los disso simplesmente aplicando a lei.

Mas a lei não pode atingir apenas o terrorista comum, nem só o terrorista financiador dos atos.

 Parlamentares terroristas que apoiam o golpismo têm que passar por um processo de cassação. 

E o ex-presidente terrorista precisa ser denunciado por ter criado essa situação e ainda alimentá-la cotidianamente.

Se isso acontecer, talvez possamos ver, com o tempo, essa violência voltando a sentir vergonha de si. Até lá, tomemos cuidado com o orgulho bolsonarista. Pois ele mata.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL  

Leonardo Sakamoto  

Colunista do UOL

11/01/2023 04h00

https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2023/01/11/mesmo-com-prisoes-violencia-bolsonarista-nao-voltara-ao-armario-tao-cedo.htm

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