Plataformas se omitem diante de ataques sistemáticos de Malafaia ao Supremo
Brenno Grillo
brenno@obastidor.com.br
Publicada em 19/09/2021 às 06:00
Plataformas se omitem diante de ataques sistemáticos de Malafaia ao Supremo
Apoiador de Jair Bolsonaro e principal fiador de André Mendonça ao Supremo, o pastor Silas Malafaia é uma das mais potentes - e carbonárias - vozes da opinião pública brasileira. Seus 8,2 milhões de seguidores, divididos entre YouTube, Facebook, Twitter e Instagram, recebem doses sistemáticas e cada vez mais intensas de diatribes contra o Supremo e seus ministros.
Ao contrário de outros expoentes bolsonaristas, Malafaia parece ter passe livre para dizer, em suas plataformas, coisas que conduziram seus aliados à cadeia e às barras do Supremo.
Tanto as empresas em que ele distribui seu conteúdo quanto os tribunais superiores omitem-se em face dos ataques a ministros e até mesmo a alusões a golpe militar.
Malafaia está cada vez mais próximo do presidente - a tal ponto que aliados interpretam esse movimento como uma tentativa de se posicionar como possível vice de Bolsonaro em 2022.
O pastor esteve ao lado do presidente nos protestos antidemocráticos de 7 de setembro.
Sobe frequentemente em palanques com ele.
Recentemente, em entrevista à jornalista Leda Nagle, Malafaia desafiou Alexandre de Moraes a prendê-lo e voltou a pedir o impeachment do ministro.
O pastor disse não ter "medo desse cara, não" e o chamou novamente de "ditador da toga".
"Sabe qual a possibilidade de ele tocar em mim? De 0 a 100?
Um! Porque ele sabe que mexer com liderança religiosa é uma casa de marimbondo com ferrão grande.
Não que evangélico vá que quebrar nada.
Mas a pressão sobre isso é gigante.
Senador é voto majoritário e leva eleição com voto de evangélico.
Não vai aguentar a pressão.
Quero ver ele me prender [...] Pode vir do jeito que ele quiser que não tenho medo dele", disse o pastor no dia 8 de setembro.
Mesmo assim, as maiores empresas de tecnologia do mundo parecem não ligar muito para o que Malafaia diz.
O Bastidor analisou as redes sociais do pastor e constatou que não há entre suas publicações qualquer vestígio de supressão ou advertência de que aquele conteúdo é ofensivo ou não condiz com a verdade.
Questionadas, as quatro principais redes sociais usadas no Brasil afirmaram que não divulgam informações globais sobre exclusão de posts de determinados perfis, respondendo apenas sobre publicações pontuais.
Essa liberdade garante ao pastor o direito de fazer ilações proibidas aos seus colegas bolsonaristas.
Uma delas é dizer que o STF nada fez sobre o atentado cometido por Adélio Bispo contra Bolsonaro na campanha presidencial de 2018 porque o presidente e a corte estão em lados opostos.
E não é só.
Ao ter passe livre nas redes sociais, Malafaia também pode mandar Luís Roberto Barroso calar a boca, porque o ministro "não tem moral" para falar nada por já ter defendido, enquanto advogado, o terrorista Cesare Battisti.
Como já mostrou o Bastidor, Malafaia tirou o mês de agosto para atacar o STF - foi nesse período que Bolsonaro intensificou os ataques à corte.
Em nome da liberdade, o pastor defendeu "forças armadas já" contra qualquer ministro "tirano".
Essa postura agressiva contra a corte começou neste ano.
Publicações anteriores também mencionam decisões do STF, mas os temas são ligados aos costumes - muitas vezes com o homossexualismo em pauta e seu suposto direito de atacar pessoas pela orientação sexual.
O pastor já chamou homossexuais de "cambada" ao dizer que "o ativismo gay mente, manipula, acusa sem provas" por não suportar o contraditório.
Também disse que evangélicos que vão à parada gay não representam a sua fé.
E afirmou na mesma publicação ser "liberdade de expressão em um estado democrático de direito", não "ódio as pessoas" poder "discordar de uma prática, seja ela sexual, religiosa ou ideológica".
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