Em carta, Parente diz que demissão é irrevogável e irretratável - greve dos caminhoneiros e suas consequências colocaram a política de preços da Petrobras sob “intenso questionamento” e “novas discussões serão necessárias”
Na carta de demissão entregue pessoalmente pelo agora ex-presidente da Petrobras Pedro Parente ao
presidente Michel Temer, na manhã de hoje (1°), ele relata que a greve
dos caminhoneiros e suas consequências colocaram a política de preços da
Petrobras sob “intenso questionamento” e “novas discussões serão
necessárias”.
Parente diz que, diante desse quadro, sua presença à frente da
empresa deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das
alternativas que o governo tem pela frente.
“Sempre procurei demonstrar, em minha trajetória na vida pública que,
acima de tudo, meu compromisso é com o bem público. Não tenho qualquer
apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas
alternativas sejam discutidas”, registrou na carta.
No texto, Parente diz ainda que ao ser convidado por Temer para
assumir o cargo para trabalhar pela recuperação da estatal, o presidente
concordou inteiramente com sua visão e o concedeu a autonomia
necessária para levar a cabo a difícil missão.
“Os resultados obtidos
revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito
além da política de preços”, avalia.
Pedro Parente diz que entrega hoje uma Petrobras com reputação
recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores empresas
do setor e resultados financeiros muito positivos.
Ele elogia a atuação
do presidente Temer em relação à estatal.
Na carta, ele destaca que o pedido de demissão é apresentado “em
caráter irrevogável e irretratável” e se coloca à disposição para fazer a
transição pelo período necessário.
Veja a íntegra da carta de demissão de Pedro Parente:
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Quando Vossa Excelência me estendeu o honroso convite para ser
presidente da Petrobras, conversamos longamente sobre a minha visão de
como poderia trabalhar para recuperar a empresa, que passava por graves
dificuldades, sem aportes de capital do Tesouro, que na ocasião se
mencionava ser indispensável e da ordem de dezenas de bilhões de reais.
Vossa Excelência concordou inteiramente com a minha visão e me concedeu a
autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão.
Durante o período em que fui presidente da empresa, contei com o
pleno apoio de seu Conselho. A trajetória da Petrobras nesse período foi
acompanhada de perto pela imprensa, pela opinião pública, e por seus
investidores e acionistas. Os resultados obtidos revelam o acerto do
conjunto das medidas que adotamos, que vão muito além da política de
preços.
Faço um julgamento sereno de meu desempenho, e me sinto autorizado a
dizer que o que prometi, foi entregue, graças ao trabalho abnegado de um
time de executivos, gerentes e o apoio de uma grande parte da força de
trabalho da empresa, sempre, repito, com o decidido apoio de seu
Conselho.
A Petrobras é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores
de segurança em linha com as melhores empresas do setor, resultados
financeiros muito positivos, como demonstrado pelo último resultado
divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um planejamento
estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de
forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso
país.
E isso tudo sem qualquer aporte de capital do Tesouro Nacional,
conforme nossa conversa inicial. Me parece, assim, que as bases de uma
trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas.
A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do
País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as
origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob
intenso questionamento. Poucos conseguem enxergar que ela reflete
choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País.
Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos
derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o
governo a buscar alternativas para a solução da greve, definindo-se
pela concessão de subvenção ao consumidor de diesel.
Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, Sr.
Presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste
quadro fica claro que a minha permanência na presidencia da Petrobras
deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das
alternativas que o governo tem pela frente. Sempre procurei demonstrar,
em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso é
com o bem público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não
serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas.
Sendo assim, por meio desta carta, apresento meu pedido de demissão
do cargo de Presidente da Petrobras, em caráter irrevogável e
irretratável. Coloco-me à disposição para fazer a transição pelo período
necessário para aquele que vier a me substituir.
Vossa Excelência tem sido impecável na visão de gestão profissional
da Petrobras. Permita-me, Sr. Presidente, registrar a minha sugestão de
que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa — que
foi nesse período gerida sem qualquer interferência política — Vossa
Excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram
aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição do Conselho de
Administração para a escolha do novo presidente da Petrobras.
A poucos brasileiros foi dada a honra de presidir a Petrobras. Tenho
plena consciência disso e sou muito grato a que, por um período de dois
anos, essa honra única me tenha sido conferida por Vossa Excelência.
Quero finalmente registrar o meu agradecimento ao Conselho de
Administração, meus colegas da Diretoria Executiva, minha equipe de
apoio direto, os demais gestores da empresa e toda força de trabalho que
fazem a Petrobras ser a grande empresa que é, orgulho de todos os
brasileiros.
Respeitosamente,
Pedro Parente
Por
Yara Aquino - Repórter da Agência Brasil
Edição: Lílian Beraldo