Apoio a caminhoneiros reflete mal-estar geral no país - 87% dão suporte à greve, mas não querem pagar conta, diz Datafolha
KENNEDY ALENCAR
BRASÍLIA
BRASÍLIA
Divulgada ontem, uma pesquisa telefônica do Datafolha
mostrou qual é o pensamento médio do brasileiro a respeito do orçamento
público.
A grande maioria, 87%, deu apoio ao movimento dos
caminhoneiros. Mas o mesmo percentual não quer pagar a conta, que só
fecha hoje, num quadro de dificuldade econômica, se houver aumento de
impostos ou corte de gastos.
Se a economia estivesse crescendo e houvesse um excesso de
arrecadação, com sobras de recursos, talvez uma conta dessa magnitude
pudesse ser paga sem subir tributos ou diminuir despesas públicas. Mas
não é o que está acontecendo.
O PIB (Produto Interno Bruto) do 1º trimestre cresceu apenas 0,4% na
comparação com os três meses anteriores. A economia não teve a
recuperação imaginada pelo governo. Tensões econômicas recentes e a
greve dos caminhoneiros devem jogar para baixo o resultado do PIB no 2º
trimestre deste ano.
Os dados do Datafolha refletem justamente o sentimento de mal-estar
da população em relação ao governo. O movimento dos caminhoneiros
funcionou como uma faísca para que as pessoas protestem contra tudo o
que está aí. Apoiem todo tipo de reivindicações, mas não queiram pagar a
conta.
Faz parte colocar a raiva para fora, mas o problema é que o país tem
um Orçamento real que é abocanhado com mais facilidade pelos mais ricos e
pelos lobbies públicos e privados mais organizados. E dinheiro não
nasce em árvore.