Empresários, políticos e militares aproveitam greve de caminhoneiros para se promover
Muitos deles utilizam redes sociais e grupos no WhatsApp para defender a intervenção militar e divulgar informações falsas.
Entre os envolvidos estão o dono de uma das maiores redes verejistas do país e um colaborador da pré-candidatura de Jair Bolsonaro.
Por Guilherme Balza                                                                                                                               
O empresário Claudinei Habacuque é o líder dos bloqueios na rodovia 
Castello Branco, na Grande São Paulo, onde há uma distribuidora da 
Petrobras. Os vídeos dele repercutem entre os grevistas, com dezenas de 
milhares de visualizações. 
Suplente de vereador no município de Carapicuíba, Claudinei é dono de 
uma transportadora e representou a categoria em reuniões com o 
governador Marcio França. Antes, foi suplente do deputado federal pelo 
PSL.
Um dos principais porta-vozes dos grevistas em Goiás não é caminhoneiro.
 É o advogado André Janones, que foi candidato a prefeito da cidade 
mineira de Ituiutaba pelo PSC. Os vídeos dele tem quase 5 milhões de 
visualizações.
Nos últimos dias, a liderança de Janones foi colocada em xeque porque os
 caminhoneiros descobriram que o PT fazia parte da coligação dele. 
Wallace Landim, conhecido como Chorão, é outro líder dos grevistas em 
Goiás. Apoiador de Ronaldo Caiado, Chorão está em muitos dos vídeos mais
 divulgados nas redes sociais e é filiado ao Podemos, que tem Alvaro 
Dias como candidato a presidente. 
Empresários da região Sul também estão entre os apoiadores da greve. 
Entre eles, Emílio Dalçoquio, diretor afastado e filho do dono da 
transportadora catarinense que leva o nome da família. Em um dos vídeos 
gravados por ele em apoio aos grevistas o empresário autoriza que 
coloquem fogo nos caminhões da empresa se for preciso. 
Emílio Dalçoquio é colaborador da pré-candidatura de Bolsonaro. Em nota,
 a empresa alegou que a opinião de Emílio é de cunho exclusivamente 
pessoal, mas admitiu que apoia a mobilização por uma nova política de 
preços de combustíveis.
O empresário catarinense Luciano Hang, dono de uma das maiores 
varejistas do país, a Havan, autorizou o uso do estacionamento de uma 
das lojas como ponto de apoio e e distribuiu comida para os 
caminhoneiros. O perfil da empresa no Facebook tem feito várias 
publicações em apoio à greve.
Luciano Hang é defensor da privatização da Petrobras e da intervenção 
militar, pauta que ganha cada vez mais força entre os grevistas, 
especialmente entre os caminhoneiros da região Sul. 
Outra varejista que declarou apoio aos caminhoneiros é a Lojas Becker, do Rio Grande do Sul, que possui 220 unidades.
Nos últimos dias, estão proliferando grupos de Whatsapp em defesa da 
intervenção. 
A CBN teve acesso a alguns deles. Há casos em que basta 
clicar em um link divulgado no Facebook para entrar no grupo. Em poucos 
minutos os grupos lotam. E aí começam a circular uma série de 
informações falsas para justificar a tomada do poder pelos militares.
Outra figura popular nas redes dos caminhoneiros é o sargento da reserva
 Paulo Roberto Roseno Junior, do 2º Batalhão de Guardas de São Paulo, um
 defensor contumaz da intervenção militar. 
Antes da greve, os vídeos dele tinham apenas alguns milhares de visitas. Após o movimento, as visualizações saltaram para quase três milhões.
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| Alguns caminhoneiros pedem intervenção militar em meio à greve. Foto: Guilherme Balza/CBN | 
