Redução da taxa de juros torna poupança mais atrativa, mostra estudo
As
sucessivas reduções da taxa básica de juros, a Selic, estão tornando o
mais tradicional investimento do país, a poupança, mais atrativa. Desde
outubro de 2016, a Selic já passou por 12 cortes seguidos e a
expectativa é de que volte a ser reduzida do atual patamar de 6,5% ao
ano para 6,25% ao ano, em maio. No início do atual ciclo de cortes, a
Selic passou 14,25% para 14% ao ano.
A rentabilidade da poupança não sofre incidência de Imposto de Renda (IR) e não há cobrança de taxa de administração, como nos fundos de investimento, por exemplo. Desde maio de 2012, há regras diferentes para o cálculo da poupança de acordo com o nível da Selic. Quando a Selic fica igual ou acima de 8,5% ao ano, a caderneta rende 6,17% ao ano (0,5% ao mês) mais a Taxa Referencial (TR), tipo de juro variável. Abaixo de 8,5% ao ano, a caderneta rende 70% da taxa Selic mais variação da TR.
Segundo
estudo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração
e Contabilidade (Anefac), a poupança é melhor opção quando comparada a
fundos de renda fixa, que cobram taxas de administração acima de 1% ao
ano. Além da taxa de administração, os rendimentos do fundo de
investimento sofrem incidência de IR. Quanto menor o prazo de resgate,
maior é a tributação, que varia de 15% a 22,5% dos rendimentos.
De
acordo com as simulações da Anefac, se um investidor aplicar R$ 10 mil,
em 12 meses o rendimento da poupança chegará a 455 (4,55% ao ano), na
aplicação seguindo as regras atuais.
Em
um fundo de investimento, com taxa de administração de 0,5% ao ano, o
ganho ficaria em R$ 491, ou seja, acima do rendimento da poupança. Com a
taxa de administração de 1% ao ano, o rendimento acumulado seria de R$
466. Já com a taxa de administração de 1,5%, o rendimento perde para a
poupança, pois chega a R$ 441.
“Mesmo
com a queda da Selic, os fundos continuaram cobrando o mesmo percentual
de taxa de administração que cobravam anteriormente. Ou seja, quando a
Selic estava em 14,25%, as taxas variavam de 1,5% a 3% e agora que a
Selic está em 6,5% ao ano, continuam cobrando a mesma taxa”, disse o
diretor de Economia da Anefac Miguel de Oliveira.
Para
o diretor da Anefac, é “inevitável” que as instituições financeiras
lancem fundos de investimentos com taxas de administração mais baixas
para não perder clientes. “Os bancos já estão perdendo clientes para
poupança e Tesouro Direto, onde eles não ganham nada. Naturalmente, esse
quadro vai levar os bancos a reduzir suas taxas de administração”,
disse Oliveira.
Outra
opção para os investidores mais conservadores são os certificados de
Depósito Bancário (CDBs), títulos emitidos pelos bancos. Geralmente, os
bancos oferecem o CDB pós-fixado, com rentabilidade parecida com a Selic
(taxa do CDI - Certificado de Depósito Interbancário). Por isso,
Oliveira calcula que para garantir ganho igual ao da poupança, o
investidor tem que obter uma taxa de juros de cerca de 85% do CDI. As
aplicações em CDB pagam igualmente Imposto de Renda de acordo com o
prazo de resgate da aplicação.
Há
ainda as aplicações no Tesouro Direto, que também têm incidência de
Imposto de Renda sobre os ganhos e cobrança de taxa de custódia. “O
Tesouro Direito é uma boa alternativa, ela compete com a poupança. O
Tesouro Selic, por exemplo, rende 100% da Selic. Portanto, rende mais
que a poupança. A questão é que a poupança é muito mais simples de
aplicar, é melhor compreendida. No caso do Tesouro Direto, tem que
entrar lá no sistema e escolher o papel, se atentar para o prazo de
resgate. Então, há certa dificuldade”, disse Oliveira.
Para o coordenador do MBA em gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, é preciso ter
algum conhecimento sobre o mercado para saber o melhor momento de
investir no Tesouro Direto ou resgatar o investimento. “O Tesouro Direto
é uma ótima opção, mas não é tão simples como as pessoas fazem parecer.
É preciso ter
algum conhecimento para saber a hora de vender ou de comprar. Você não
vai comprar para somente exercer o seu direito no vencimento. Você vai
comprar para exercer o direito em algum momento intermediário. E aí,
tanto você pode estar ganhando como perdendo, quando comparado com
outros investimentos”, afirmou Teixeira.
Perfil do investidor
Oliveira explicou que para decidir onde investir é preciso analisar, inicialmente, o perfil do investidor. “É preciso saber se é um investidor que aceita correr risco ou não. Se não aceita correr risco, não vai se atrever a aplicar em bolsa de valores". Outra observação é quanto ao tempo para resgatar a aplicação. “Se aplicar o dinheiro em um fundo de ações, pode precisar resgatar em um momento em que as ações estejam perdendo valor. O risco é maior”, disse.
“Se
o investidor é conservador, a melhor alternativa é a poupança, o
Tesouro Direto ou CDB de um grande banco. Se aceita correr risco, pode
pensar em aplicar, se não todo o dinheiro, mas parte dele, em um fundo
de ações”, acrescentou Oliveira.
Por
Kelly Oliveira – Repórter da Agência Brasil
Edição: Graça Adjuto