Brasileiro inventor de óculos de holograma disputa Prêmio na Europa - Alex Kipman competiu na categoria de países não europeus
País que inventou o relógio de pulso, o identificador de chamadas
telefônicas e os caixas eletrônicos automatizados, o Brasil teve o
talento reconhecido em nível internacional.
Desenvolvedor de óculos de
realidade virtual que exibem hologramas, o engenheiro Alex Kipman,
nascido em Curitiba, tornou-se o primeiro brasileiro finalista do Prêmio
Inventor Europeu, na categoria de países de fora da Europa.
A invenção de Kipman destacou-se em meio a mais de 500 inscrições
neste ano e foi escolhida para ser um dos 15 concorrentes que disputaram
o prêmio do Escritório Europeu de Patentes (EPO, na sigla em inglês),
organização internacional com 38 países-membros.
Ao todo, foram cinco
categorias (indústria, pesquisa, pequenas e médias empresas, países de
fora do EPO e reconhecimento da obra), com três finalistas cada.
A vencedora na categoria de Kipman foi a americana Esther Sans
Takeuchi, que inventou as baterias compactas presentes em
desfibriladores cardíacos e marca-passos.
Apesar de não ter levado o prêmio, o engenheiro disse que se considera um vencedor por ter o
trabalho reconhecido.
Segundo ele, o HoloLens (nome comercial dos
óculos de realidade virtual) está revolucionando a interação entre os
seres humanos à medida que tem a utilização disseminada.
Kipman explicou que a invenção nasceu de uma interrogação há dez anos
sobre o significado da tecnologia.
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Inventor dos óculos com holograma, o engenheiro Alex Kipman é o primeiro brasileiro finalista do Prêmio Inventor Europeu - Divulgação/Agência Brasil |
“Não podemos existir sem a
tecnologia. E a tecnologia pode deslocar o tempo e o espaço. Por meio da
realidade virtual, posso andar em Marte. A realidade virtual até
permite que eu converse com alguém que esteja em qualquer lugar do
planeta, mesmo 100 anos depois da minha morte. Nossa tarefa é fazer o
futuro acontecer, mais, melhor e mais barato”, afirmou.
Presidente do EPO, o francês Benoît Batistelli disse à Agência Brasil
que a premiação não se baseou apenas nas inovações, mas principalmente
no impacto econômico e social de cada invenção patenteada.
“Este não é
prêmio para a inovação, mas aos inventores. Eles são heróis do nosso
tempo, que trazem soluções para desafios. Criam valor para desenvolverem
atividades econômicas, gerarem empregos e mudarem a vida da
humanidade”, destacou.
Aplicações
Inicialmente utilizado em jogos eletrônicos, os óculos de realidade
virtual aos poucos conquistam a confiança do público, com utilizações
que vão de treinamento em empresas a projetos de educação.
“Visitei uma
faculdade de medicina nos Estados Unidos que começou a usar o HoloLens
nas aulas, e o resultado foi fantástico. Em vez de aprenderem anatomia
por meio de desenhos e de cadáveres, os alunos aprendem interagindo em
tempo real em três dimensões. O conteúdo de meses agora pode ser
ensinado em dias”, disse Kipman.
No Brasil, uma empresa de elevadores passou a usar os óculos de
realidade virtual para treinar os técnicos que fazem a manutenção, com
acesso a manuais por comandos de voz.
O dispositivo, no entanto, ganhou
outras utilidades, como avaliar o desgaste de cada componente e permitir
trocas preventivas.
“Antes, os funcionários da empresa tinham que
viajar para treinamentos. Hoje,
o trabalhador pode se teletransportar e consertar o elevador. Cada
etapa da cadeia produtiva ficou melhor por causa da realidade virtual”,
constatou Kipman.
O legado, no entanto, não se restringe à produtividade.
O engenheiro
destacou que os óculos de realidade virtual podem ser usados para romper
barreiras entre os seres humanos, citando as pessoas com deficiência.
“A realidade aumentada pode fazer todo mundo ter habilidades
iguais. Da mesma forma que uma pessoa com deficiência pode sentir
coisas que não sentiriam e se comunicar de uma maneira em que não se
comunicariam, uma pessoa sem deficiência pode sentir na pele a sensação
de ter limitações. Isso cria empatia”.
Desafios
Filho de diplomata, Kipman fez parte do ensino básico e médio no Brasil, mas cursou engenharia nos Estados Unidos.
Ele hoje mora
nos Estados Unidos, mas começou a desenvolver o projeto do HoloLens
enquanto trabalhava na filial brasileira da Microsoft.
Apesar das
dificuldades na educação no Brasil, o engenheiro disse acreditar que a
determinação e o talento do brasileiro inspiram o desenvolvimento de
inovações.
“O povo brasileiro é determinado, apaixonado, empreendedor e
criativo. Esses são ingredientes para o sucesso. Todos os países têm
obstáculos, mas sou utópico e acredito que as pessoas certas, nos
projetos certos, com a atitude certa e no tempo certo sempre mudarão o
mundo. O que a sociedade brasileira pode fazer é intervir mais e exigir
mais para conseguir um lugar melhor”, declarou.
O presidente do EPO disse que a entidade tem uma longa tradição de
cooperação com o Brasil e que o país tem melhorado significativamente no
registro de patentes.
“O desafio para qualquer país inventar e inovar
está em desenvolver a interação entre a pesquisa, as universidades e as
indústrias.
Mas o Brasil tem feito progressos e está usando ferramentas,
base de dados, sistemas de busca de patentes muito positivos”,
ressaltou Benoît Batistelli.
Edição: Carolina Pimentel
Por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil