Brasileiro que criou o HoloLens diz: a realidade aumentada mudará o mundo

O HoloLens da Microsoft é um dos principais headsets de realidade aumentada encontrado no mercado e tem aplicações das mais diversas, que vão desde o entretenimento dos jogos até aplicações em educação, medicina e indústria.
O que poucos sabem é que o pai do HoloLens é brasileiro:
trata-se de Alex Kipman, curitibano que vive nos EUA desde sua época da
faculdade e hoje, com 39 anos de idade, concorre ao prêmio de melhor
inventor do ano do European Inventor Award.
A realidade misturada vai transformar profundamente a maneira como aprendemos, nos comunicados, criamos e brincamos
O
TecMundo foi até Paris para acompanhar o evento, organizado pelo
Escritório Europeu de Patentes, ou European Patent Office (EPO) e teve a
oportunidade de conversar com Alex Kipman na véspera da premiação.
O
inventor dos óculos de realidade aumentada da Microsoft falou um pouco
sobre sua criação e as tantas aplicações que ela pode ter para ajudar a
melhorar a vida das pessoas.
Como é fazer parte de uma premiação importante como essa?
O
EPO julga as patentes que tem, indica propriedades intelectuais
significativas e celebra esses inventores nesse evento incrível do qual
estamos fazendo parte. Eu sinto uma enorme gratidão por poder existir no
espaço e no tempo onde celebramos inventores, gratidão por estar aqui
representando minha equipe e pelo EPO estar realizando um evento tão
legal.
Qual é a história por trás da criação do HoloLens? Como você sentiu que havia um problema para criar uma solução?
Aquele que tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como.
Em
um dado momento, há cerca de 10 anos, tirei um tempo para pensar sobre o
que a tecnologia significava para mim a nível pessoal.
Eu me perguntei
“por que usamos tecnologia o dia todo?”. Exista uma frase do Nietzsche
que diz “aquele que tem um porquê para viver pode suportar quase
qualquer como”.
Assim, eu passei a procurar meu próprio significado para
a tecnologia e concluí que acredito que a usamos por dois motivos: ela
nos permite ter mais tempo e ela diminui os espaços.
Por isso que usamos
a tecnologia para nos comunicar, para criar, para aprender e para nos
entretermos. Interagir com isso tudo por meio de interfaces
bidimensionais, mouse, teclado, é algo muito indireto.
São superpoderes
que ficam presos pelas limitações da interface.
No futuro vamos ter o
mesmo nível de uma conversa pessoal ao vivo mesmo à distância, com um
alto nível de experiência conectada.
Tudo isso não é uma questão de
“se”, mas de “quando”. Dez anos depois aqui estou eu, sendo capaz de
construir um computador capaz de conter um holograma.
O que o inspirou a criar o HoloLens? Foi algo tirado da ficção ou foram as necessidades do mundo real?
Tudo
começa na necessidade do ser humano. Qual é a necessidade do ser
humano?
Ele precisa ser humano! Se você pensar no primeiro grande salto
da tecnologia, ele nos permitiu sair de uma pequena vila para viver no
mundo todo.
Através disso, ainda havia uma distância entre nós.
Essa
revolução fez com que eu me afastasse da minha família para buscar novas
oportunidades para mim.
Quantas pessoas no mundo vivem distantes de
suas famílias há muitas gerações?
Estar perto de sua família e das
pessoas que você gosta é certamente uma necessidade do ser humano.
Esse
salto seguinte da tecnologia vai permitir que minha filha de sete anos
de idade, por exemplo, brinque com seus primos no Brasil em um final de
semana.
A internet encurtou distâncias, mas as interações virtuais
são menos reais do que as físicas. Sua invenção vem para resolver isso?
Claro!
Eu penso que a realidade misturada vai transformar profundamente a
maneira como aprendemos, nos comunicados, criamos e brincamos.
Como o HoloLens foi desenvolvido?
Eu tive a visão do produto quando buscava significado ainda no Brasil, mas sabemos que visão sem execução é alucinação
Dez
anos da minha vida e ainda estamos criando.
Milhares de pessoas
trabalham nele e ainda criamos.
Devemos perder essa perspectiva de que
ele foi feito em um único dia por uma única pessoa – a vida é muito mais
complexa do que isso.
Nenhuma invenção digna de existir no mundo hoje
foi criada por uma única pessoa em apenas um dia.
Ideias são fáceis de termos, a
execução que é difícil.
Qual é o próximo passo? O que vem depois do HoloLens?
Mais
HoloLens! Estamos muito animados com os últimos dois anos do HoloLens
no mercado.
Temos aprendido muito, estamos conversando com os
consumidores, entendendo como eles o usam.
Estamos pegando esse
aprendizado e levando a tecnologia adiante.
Não tenho novos produtos
para anunciar hoje, mas tenho trabalhado bastante para trazer coisas
novas para o público assim que possível.
A thyssenkrupp tem trabalhado em parceria com a Microsoft
usando o HoloLens para fazer a manutenção de elevadores.
Como você vê
essa aplicação de um produto que você desenvolveu? Esse é o futuro da
indústria: usar cada vez mais essas tecnologias para tornar os processos
melhores, mais rápidos e mais baratos?
Tenho 100% de
certeza. Devemos olhar para o macroeconômico para entender o que vem
acontecendo durante as últimas décadas.
As empresas estão se
transformando digitalmente. Conforme tudo foi ficando mais complexo, a
dificuldade em manter tudo funcionando foi aumentando.
Precisamos dessa
tecnologia para que todo esse avanço seja mantido e seja positivo para a
empresa e seus consumidores.
O que você acha que o HoloLens pode mudar na educação? Você
acredita que é uma ferramenta para ser usada com crianças e adolescentes
e que ela pode mudar a maneira como aprendemos as coisas?
Eu
me preocupo muito com a diversidade nessa área, em trazer meninas,
pessoas de baixa renda, para que também possam se apaixonar pelo estudo
nesses campos
Com toda certeza! Vamos transformar a maneira
como aprendemos. Vou dar um exemplo: o jeito como estudantes de
medicina aprendem.
Nos últimos 100 anos, anatomia é estudada usando
imagens bidimensionais e cadáveres.
É impossível ver como o corpo
funciona quando está vivo.
Eu visitei a Case Western University, que
hoje usa exclusivamente o HoloLens para ensinar anatomia a seus alunos.
Um deles veio até mim e me agradeceu por ter finalmente entendido como
funciona de fato um coração por meio do HoloLens.
E era um dos melhores
alunos prestes a se formar.
Essa possibilidade faz com que eles aprendam
coisas importante mais cedo, de maneira mais completa e mais barata.
Ser um dos finalistas no European Inventor Award pode inspirar mais brasileiros a se dedicarem ao estudo da tecnologia?
Eu
espero que sim.
Eu acho que qualquer um que faça parte dos campos de
ciências, tecnologia, engenharia e matemática tenta trazer outras
pessoas contigo para essa área, tenta retribuir essa paixão despertada
em si.
Eu me preocupo muito com a diversidade nessa área, em trazer
meninas, pessoas de baixa renda, para que não apenas tenham acesso à
tecnologia, mas que também possam se apaixonar pelo estudo nesses
campos. Qualquer chance que tivermos de retribuir a esse campo que nos
dá tanta coisa, devemos aproveitar. Espero que seja inspirador.
Qual
mensagem você pode deixar para os brasileiros que queiram se inspirar
em você para se tornarem novos inventores em um futuro próximo?
Eu
diria que com as pessoas certas, trabalhando nos problemas certos, com a
atitude correta e na hora certa, você sempre vai conseguir mudar o
mundo.
www.tecmundo.com.br/produto/131035-papo-inventor-hololens-realidade-aumentada-mudar-o-mundo.htm