Herdeiro da camisa 10, Neymar tem tudo para brilhar na Copa do Mundo Atacante encerra série especial sobre os jogadores da Seleção Brasileira. 'Extrovertido, alegre, feliz, amigo, gente boa', enumera Neymar.

JORNAL NACIONAL - REDE GLOBO

Durante as últimas semanas, o Jornal Nacional mostrou uma série especial feita pelo Tino Marcos e pelo Álvaro Sant'Anna sobre as histórias de vida dos jogadores da nossa Seleção.
Para mergulhar mesmo na história de cada um deles, foram dez meses de entrevistas, pesquisas e viagens a 35 cidades do Brasil e também fora do país.
Nesta segunda-feira (2), Tino Marcos encerra essa série com um personagem que tem tudo para brilhar no Mundial: Neymar Jr., o filho do seu Neymar.
Precoce. “Ele começou a ganhar dinheiro muito cedo. Seu primeiro milhão veio com 13 anos”, conta o pai do jogador.
Mutante. “Se tiver vontade de ficar louro, eu pinto de louro. O cabelo, cada mês ele vai mudando”, diz Neymar.
Sobrevivente. “Um acidente que quase arrancou nossa família do mundo. Nascemos de novo ali”, comenta o jogador.
Desiludido. “Cheguei ao ponto de você falar assim: ‘Para que eu quero isso aí? Não quero mais jogar futebol’”, revela Neymar.
Quantas facetas, hein, Neymar? Poderia enumerar algumas outras? “Extrovertido, alegre, feliz, amigo, gente boa”, diz ele.
É o que a bola deve achar dele também.
“Cheguei a ter 50 bolas dentro de casa, pequenininho, sempre onde eu ia ficava com a bola, levava ela, sempre estava junto”, conta o jogador.
Andou cedo. Mestre cuca. Cavaleiro. DJ. Mas tudo começava em bola e terminava em troféu. O menino era ‘celebridadezinha’ no bairro.
“Já se destacava já no futsal, aparecia na TV direto”, conta o amigo Jonathan.
Jonathan. Foi um dos melhores amigos de Neymar na infância. Queriam o mesmo destino.
“Quis ser, mas falta de oportunidade, né? Tentei em vários clubes aí, mas hoje eu trabalho na distribuidora de tintas. Sou ajudante lá”, comenta.
Jonathan segue morando no mesmo lugar, na Rua B, onde a brincadeira é a mesma.
“Tinha um pouco de morro assim e o jogo rolava ali. A gente não estava nem aí. Todo mundo queria jogar futebol. E a bola nunca ficava parada, porque se estava numa subida. Ela só descia”, lembra Neymar.
Em Jardim Glória, bairro de casas modestas, em Praia Grande, no litoral de São Paulo, Neymar viveu dos 7 aos 12 anos e, como ele disse, a bola só descia para o ataque. O menino que teria a maior ascensão do futebol brasileiro nos últimos anos só atacava para baixo.
“E eu só jogava quando estava em cima, porque a bola só desce, então vamos atacar para lá”, conta.
Antes da Rua B, em outras distantes ladeiras, quando Neymar era bebê de colo, o inesperado aconteceu. “Ia descer para Santos, morava em Mogi, um carro desgovernado nos atinge”, relata o pai do jogador.
“O que eu fiquei sabendo é que eu fui parar embaixo do banco”, diz Neymar.
“Você só consegue ver os gritos, as coisas acontecer, e o Neymar é retirado do carro ensanguentado. O sangue de um bebê de quatro meses, molhado, você fala: ‘Já era, né?’”, lembra o pai.
Já sabemos que a história não terminaria ali. Era muito sangue e nenhuma gravidade.
Neymar seria o menino das 50 bolas, o pequeno fenômeno do futsal. E quem era o técnico?
"Ao meu primeiro treinador, um abraço com muito carinho, do seu atleta Neymar, 100% Jesus Cristo”, mostra Betinho a camisa autografada pelo craque.
Betinho já havia garimpado ouro: era o descobridor de Robinho. E calhou de cair um Neymar em suas mãos.
“Tudo que o Robinho teve, ele teve em dobro”, afirma Betinho, descobridor de Neymar.
A fama do menino prodígio chegou aos ouvidos do senhor Zito. “Aí nós fomos ver o Neymar jogar. Aí, encheu os olhos, encheu os olhos”, lembra.
Zito, volante bicampeão do mundo pela Seleção, era supervisor das divisões de base do Santos. O problema era que Neymar tinha só 11 anos e o Santos não tinha uma categoria para essa idade no futebol de campo.
E agora? Simples. “Foi criado no Santos uma categoria, porque não existia essa categoria pro Neymar jogar”, conta Betinho.
Tino Marcos: Criou-se uma categoria para que ele pudesse jogar?
Zito: Criamos. Criamos por causa da idade dele. Era muito novo, né?
Foram dez anos no clube. Aos 17 anos, iniciou uma era no time profissional: tricampeão paulista, Copa do Brasil, Libertadores, 230 jogos, 138 gols. Tudo maravilhoso. E foi mesmo. Mas...
Tino: O futebol já te disse não alguma vez?
Neymar: Já.
Foi um trauma. “Aquele momento para gente, para nossa família foi muito difícil e a gente tinha que superar isso”, lembra o pai.
“Minha carreira poderia muito bem ter ido para baixo, por tudo que estavam falando, por tudo que aconteceu naquele dia”, conta Neymar.
15 de setembro de 2010. “Foi uma das piores noites da minha vida”, lembra o jogador.
Num jogo contra o Atlético-GO, pelo Campeonato Brasileiro, Neymar e o técnico Dorival Júnior discutiram. E Neymar xingou o treinador. Quando chegou em casa, o ar seguia pesado.
“Minha mãe chorando, meu pai na época estava doente, estava de cama. Minha mãe chegou e falou assim: ‘Esse não foi o filho que eu criei’. E aquilo ali me desmontou inteiro. Todo mundo ligava para ficar me xingando, meu rádio não parava a noite inteira, tive que desligar para dormir”, confessa Neymar.
Os dias seguintes foram do mesmo jeito.
“Eu não podia sair de casa. Se eu saísse de casa, todo mundo falava: ‘Olha ele aí, pensa que é o dono do mundo’. Sabia que tinha feito coisa errada. Já tinha me desculpado com Dorival, com todo o elenco do Santos, cheguei ao ponto de você falar assim: ‘Pô, pra que eu quero isso aí? Não quero mais jogar futebol’”, conta ele.
Dorival foi demitido do Santos. Neymar sairia quase três anos depois. Transferência milionária e confusa, de números desencontrados entre as partes envolvidas. Neymar, jogador do Barcelona.
Chegou com status de estrela mundial pelo que fez no Santos e pelo que acabava de fazer pela Seleção. Mas um ano atrás, Neymar vivia fase irregular no Santos e a nova seleção de Scolari era uma dúvida.
“Eu estava num momento de desconfiança total de todo mundo. E todo mundo: ‘Será que vai? Será que não vai? Será que dessa vez vai jogar? Será que não vai?’”, lembra.
“O Neymar estava indo para um desafio muito grande na vida dele. Era herói ou era vilão na Copa das Confederações”, comenta o pai do jogador.
O então camisa 11 se impôs um desafio extra: vestir a 10. Felipão queria distribuir os números de camisa.
“Ele falou assim: ‘Qual que ‘tu’ quer?’ Falei: ‘Dez, vamos mudar’. Foi 10. Ele: ‘Então está bom’. Meu pai me ligou e falou assim: ‘Você é doido’”, conta.
“Ele já tinha tanta responsabilidade, a expectativa já era tão grande para ele e ele pediu a 10. Falei: ‘Ele não gosta de viver em paz, não gosta”, comenta o pai. “Mas caiu bem, né?”, completa.
Foi o melhor jogador da competição. Um encaixe perfeito de Neymar com o time. E deles com a torcida: Brasil campeão.
O maior protagonista do Brasil, a maior esperança da torcida. “O Brasil precisa dele”, afirma Zito.
E quer saber o que seu Zito acha dele? “Para mim, ele é o melhor jogador da América hoje. Melhor que o Messi”, opina.
E ele tem só 22 anos. Essa história continua em nobres capítulos: a Copa do Mundo. Do Brasil. De Neymar
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