Alexandre Achwartsman - Sensação da população com a economia não melhorou, afirma ex-diretor do BC Para Alexandre Schwartsman, agenda de reformas econômicas está ameaçada por causa da fraqueza econômica.

O economista e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman acredita que a agenda de reformas econômicas está bastante ameaçada diante da fraqueza da economia e da percepção dos brasileiros de que não houve melhora da situação econômica do Brasil. 


“É revelador que a maioria acredite que a economia está piorando. Isso não é verdade. O PIB cresceu, as vendas no varejo cresceram, o desemprego caiu um pouquinho. Mas a grande verdade é que sensação térmica da população não melhorou”, afirmou Schwartsman em entrevista concedida ao G1.
Ex-diretor do Banco Central Alexandre Achwartsman (Foto: Marcelo Brandt/G1)


 Por Luiz Guilherme Gerbelli, G1

O economista reconhece que a agenda de reformas é extensa e impopular. No entanto, sem resolver o quadro fiscal, a economia brasileira vai ter de lidar com um cenário de elevada inflação. 
"Espero que não chegue a esse ponto. Mas a gente vai ter de conviver com uma taxa de inflação muito mais alta e não vai fazer sentido o BC conduzir um regime de metas de inflação quando há um desequilíbrio fiscal insolúvel", afirmou. 
A conversa com Schwartsman faz parte de uma série de entrevistas com economistas para debater o atual estágio da economia brasileira e os caminhos para a retomada do crescimento.
Como o sr. avalia o quadro da economia sobretudo depois da greve dos caminhoneiros e com a incerteza eleitoral?
 
O segundo trimestre estava com cara de que seria melhor do que o primeiro, mas a questão dos caminhoneiros abortou esse processo. Não se sabe qual é o efeito mais duradouro dessa greve, se tem algum impacto na confiança. Há também a incerteza política. Eu estava mais otimista de que a gente poderia buscar um crescimento na casa de 2,5% em 2018. Os dados no final do ano passado estavam bons e de repente dava até crescimento de 3%. Agora, vai ficar em 1,5%. Melhor do que ano passado? Sim. As pessoas vão achar que é do caramba? Não. Aliás, é revelador que a maioria da população acredite que a economia está piorando.

Isso não é verdade

O PIB cresceu, as vendas no varejo cresceram, o desemprego caiu um pouquinho. Mas a grande verdade é que sensação térmica da população não melhorou. 
Analistas têm alertado para a necessidade de reformas, sobretudo na área fiscal. Essa percepção da população coloca em risco a eleição de um candidato reformista?
 
Sim, prejudica. A causa das reformas está bastante ameaçada pela própria fraqueza econômica. Essas coisas se retroalimentam: o crescimento baixo bate na política e a política, de alguma forma, reduz o crescimento porque há essa incerteza na história. 
Na avaliação do sr. qual é agenda de reformas necessária para o país?
 
A agenda é gigantesca. Além da Previdência, é preciso que ver a questão do funcionalismo. Os Estados estão basicamente em situação pré-falimentar. Dá para melhorar a política de gestão de pessoal, começar uma política de avaliação dos gastos públicos. A reforma da Previdência é a mais importante, mas ela não esgota tudo. O país também tem um problema tributário claríssimo. 

O Brasil tributa de uma maneira extraordinariamente ineficiente. O custo para as empresas estarem em dia com as obrigações tributárias é gigantesco. O custo de que eu falo não é só gerar o caixa para pagar imposto, mas o tanto de gente, recursos necessários apenas para se dedicar à tarefa de pagar imposto. 
Há uma divisão entre os economistas: uma parte acredita que a reforma da Previdência sai com qualquer candidato eleito presidente, mas outros dizem que não. Qual é a sua avaliação?
 
Um presidente para fazer reformas precisa ter um mandato reformista. Parte da dificuldade do Temer é que ele não tem um mandato reformista. Então, por que o Congresso vai seguir os desejos de um presidente que não teve um mandato popular para fazer isso? O cara que se elegeu dizendo que não vai fazer reforma, na hora que ele for tentar fazer, vai acontecer o que aconteceu com a Dilma

A popularidade dela ao ser reeleita era de 40%. Em fevereiro de 2015, tinha despencado para 10%. O Congresso vai cobrar caríssimo por qualquer apoio. Vai sentir cheiro de sangue na água e vai destroçar um cara desse, em particular se ele for eleito fora do eixo partidário mais tradicional. 
Nas últimas semanas, com o aumento da tensão, o mercado percebeu essa dificuldade?
 
Talvez esteja caindo a ficha. Talvez o mercado tenha percebido que o jogo é mais complicado. 
O Banco Central aumentou a intervenção no câmbio nos últimos dias para evitar uma forte desvalorização do real. Como o sr. avalia atuação do BC?
 
Há US$ 380 bilhões em reservas. Dá uma tranquilidade grande. A reserva dá para o BC uma margem de manobra grande nessa área. Uma parte desse movimento foi técnico, de mercado. Mas uma outra parte desse movimento reflete em alguma medida os fundamentos da economia. 
Quais fundamentos são esses?
 
Há sinais de que o desemprego segue caindo nos Estados Unidos e a inflação norte-americana está subindo, não é um processo rápido, mas todo mês ela vem um pouquinho a mais. Até por isso o Banco Central norte-americano vem numa trajetória de subir juros. Na Europa há uma sinalização de tirar parte dos estímulos monetários. 

Basicamente isso significa que aquelas condições favoráveis para mercados emergentes estão aos poucos deixando de valer. Países com vulnerabilidade estão sofrendo. A Argentina sofreu, a Turquia sofreu e o Brasil também. 

O Brasil não tem o mesmo problema como Turquia, que tem um baita déficit externo. O Brasil tem reservas, mas a gente sofre em alguma medida porque temos um problema fiscal.

O sr. poderia detalhar qual é margem de manobra do BC?
 
Num cenário em que o Banco Central dos EUA esteja subindo juros muito mais rápido do que se imagina, não adianta ir lá e vender dólar. No máximo, dá para segurar. Agora, se tiver momentos em que há uma turbulência, em que os preços parecem descolar por razões técnicas daquilo que seria razoável, tem um espaço para o BC intervir. 

Nesse ponto de vista, estou ok. Mas eu tenho cá minhas dúvidas sobre a trajetória de política monetária. A gente ainda tem uma situação bastante tranquila do ponto de vista de inflação. 

Vamos ter indicadores ruins em junho na inflação (por causa da greve dos caminhoneiros), mas quais serão as leituras de julho e agosto? E se a inflação voltar para a trajetória que o país tinha antes? Com a economia crescendo pouco, passado esses efeitos, a inflação pode seguir baixa. 
Há espaço para queda de juros?
 
Estamos no escuro porque depende do que vai acontecer. Se a gente tiver um cenário em que chega julho, agosto, e estamos vendo que houve um efeito da greve muito ruim sobre a demanda e ela está despencando, a inflação vai para baixo. Se é um cenário de recuperação, de retomada, aí não. Há uma incerteza grande no que diz respeito aos próximos passos de política monetária, mas acho difícil que suba taxa de juros. 
O sr. comentou o fato de que a população não sente a melhora da economia e a agenda de reformas é bastante impopular. Como vai ser a defesa dela na campanha?
 
Não dá para fazer estelionato eleitoral, dizer que não vai fazer reformas e depois tocar essa agenda. Seria muito ruim para a nossa democracia. Certamente é difícil. 

Tem gente que não tem compreensão da natureza do problema e até acredita na balela que não tem déficit na Previdência. 

É complicado para a população apoiar alguma coisa que ela não entende, ainda mais com a má qualidade do debate no Brasil. Não falta oportunista dizendo que tem uma solução rápida e indolor para tudo isso. O outro problema é que a sociedade brasileira não quer isso. A população brasileira quer mais Estado, não menos. 
Mas hoje há poucos recursos. 
 
O conflito distributivo no Brasil se dá por meio de grupos de pressão. Cada um está garantindo o seu naco, o seu pedaço. Esse conflito está politizado no Brasil. O capitalismo do Brasil passa pelo Estado. Se a gente não mexer nisso, vamos ter problema. 

A população cresceu vendo setores sendo privilegiados. 

Cada um quer o seu naco. 

O futuro das reformas está complicado, não é isso que a população quer. 

E se não é isso quer a população brasileira quer, não dá para enfiar goela abaixo

A gente vai ter quer viver com as consequências disso.
Quais podem ser as consequências de não levar adiante as reformas?
 
Do ponto de vista fiscal, a gente não fecha a conta nunca, então essa situação de inflação baixa que a gente vive não vai perdurar por muito tempo. Se o País não mexer no rumo, em algum momento vamos bater nesse muro. 

Além dessa questão de estabilidade, de maneira geral, um país que opera esse conflito distributivo em que basicamente é um jogo de rouba monte não cresce muito. 

Um país que cresce muito é aquele em que a maioria da sociedade percebe que a forma de ganhar dinheiro é por meio da atividade inovadora. Quando você joga rouba monte, o monte não cresce ou cresce muito menos do que poderia crescer. 

Há limites na capacidade de crescimento quando um país tem esse tipo de organização institucional. Aliás, se não fizer o negócio direito, vai ter coisa muito pior pelo caminho do que baixo crescimento. 
O que seria esse quadro pior?
 
Se não acertar as contas públicas, o Brasil pode passar por uma baita crise inflacionária num horizonte de dois a quatro anos. 
Será uma crise inflacionária como a que se observava antes do plano Real?
 
Espero que não chegue a esse ponto. Mas a gente vai ter que conviver com uma taxa de inflação muito mais alta e não vai fazer sentido o BC conduzir um regime de metas de inflação se houver um desiquilíbrio fiscal insolúvel. 

Se o país não conseguir sustentar o teto de gastos por conta do problema previdenciário, com funcionalismo, a trajetória de crescimento da dívida não vai ser revertida. 

E quando há um problema com a dívida, como se faz? Você basicamente baixa os juros, permite que a inflação suba e ela vai comer a dívida. É desse tipo de dinâmica que a gente está falando caso as reformas não avancem. 
 https://g1.globo.com/economia/noticia/sensacao-da-populacao-com-a-economia-nao-melhorou-afirma-ex-diretor-do-bc.ghtml



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