Estudante de Suzano consegue vaga em curso do MIT, nos EUA, e vende trufas para pagar despesas
![]() |
Robson vende trufas com a 'food bike' para custear estudo nos EUA. (Foto: Robson Vinicius Amorim Silva/ Arquivo Pessoal) |
Robson Vinicius de Amorim Silva conseguiu também 98% de bolsa e passagens, mas precisa de dinheiro para a alimentação e documentos.
Jovem teve dificuldades de aprendizagem no início da vida escolar e, depois de tratamento, se tornou autodidata.
Estudante de Suzano, Robson Vinicius de Amorim Silva, de 18 anos, foi aprovado para fazer um curso de férias no Instituto de Tecnologia de Massachssets, o MIT, nos Estados Unidos. Para custear os gastos com alimentação e documentos, ele vende trufas na bicicleta que apelidou de "food bike".
Robson embarca em julho e até lá quer levantar R$ 3 mil para os gastos
com alimentação e documentos. Além da vaga na instituição, ele conseguiu
98% da bolsa, estadia e ganhou as passagens da escola em que estudou.
Durante o curso de férias no MIT, nomeado de LaunchX, os alunos serão
monitorados por especialistas e empreendedores, a fim de que, ao final
do período, tenham uma startup pronta para entrar no mercado.
Entre maio e junho, Robson prepara o pré-work do projeto, quando deve
direcionar as áreas de interesse, e chegar até uma série de prováveis
projetos. "As minhas principais áreas de interesse são robótica móvel e
realidade virtual", destaca.
A conquista representa também uma superação: na infância Robson teve
dificuldades de aprendizado e precisou de reforço e acompanhamento
psicopedagógico.
No início da vida escolar, tinha dificuldade para juntar sílabas e formar palavras. A mãe diz que ele chegou a ser recusado em alguns colégios.
No início da vida escolar, tinha dificuldade para juntar sílabas e formar palavras. A mãe diz que ele chegou a ser recusado em alguns colégios.
Trufas
Esta não é a primeira vez que o estudante vende doces para pagar
estudos. Quando estava no ensino médio, ele sugeriu aos amigos que
fizessem trufas para levantar dinheiro e comprar os equipamentos para
montar robôs para as Olimpíadas de Robótica.
"Nós estávamos em quatro
amigos, cada um deu R$ 30. Compramos os ingredientes, começamos a vender
e em seis meses já tínhamos R$ 5 mil", conta.
O valor foi investido na compra de sensores, baterias, impressão em 3D,
entre outros sistemas para a montagem de robôs. Com isso, o grupo
conquistou o primeiro lugar nas etapas regional e estadual e o quinto na
disputa nacional.
A ideia de retomar as venda de doces veio após a aprovação no curso de
férias do MIT. Ser aceito não era garantia de participar, já que o
estudante precisava arcar com as despesas. O custo total do programa é
de US$ 6.295, cobrindo toda a estadia e o curso.
Após a aceitação, ele teve sete dias para traduzir os documentos e
tentar uma bolsa.
O resultado foi de 98,45% de bolsa, restando US$ 100.
O resultado foi de 98,45% de bolsa, restando US$ 100.
Dificuldade na alfabetização
Relembrando as dificuldade do filho durante a alfabetização e
comparando com a mais recente conquista, a mãe Ana Silvia Galvão Amorim
Silva, de 48 anos, diz estar estarrecida.
Ela ainda lembra que Robson
chegou a ser recusado em alguns colégios da cidade. "Eu sou professora e
na época eu fiquei bastante triste com a situação, porque parecia que
eu não estava me dedicando na educação do meu filho", destaca.
Ana então matriculou o filho em uma escola de reforço e o levou até uma
psicopedagoga. Ele também foi atendido pela fonoaudióloga Cristina de
Carla Monteiro Santana.
Na época, o estudante estava na segunda série e conseguiu uma bolsa de
estudos no Sesi, mas para começar no primeiro ano. Tanto a mãe quanto a
profissional acharam que seria importante que ele voltasse um ano na
escola. "Ele foi alfabetizado no consultório", conta Cristina.
Segundo ela, os métodos pedagógicos não seriam suficientes. A
fonoaudióloga ressalta a importância de o professor buscar ajuda quando
percebe que o aluno não está evoluindo.
A mãe diz que passou a perceber que Robson realmente tinha vencido a
dificuldade de alfabetização quando ele ficou em segundo lugar em uma
avalição de final do ensino fundamental de toda a escola.
"Um dia ele estava comigo na sala e começou a fazer uns comentários
científicos e eu questionei de onde ele estava tirando aquelas
informações e ele disse que lia revistas online. Ele realmente se tornou
um autodidata", avalia.
Determinação
O amor pela robótica alimentou o sonho de Robson de se formar em
universidades dos EUA, que são as mais renomadas no ramo. A primeira
tentativa foi em meados de 2017, para um curso na universidade de
Stanford, na Califórnia.
Ele conta que se inscreveu, fez os testes mas
não conseguiu entrar. Ainda assim, ficou numa lista de espera porque
teve um bom desempenho.
Para fechar o orçamento, Robson ainda precisava de cerca de R$ 7 mil,
incluindo o valor das passagens. Ele ficou sabendo que o presidente do
Sesi, escola em que estudou, estaria na unidade de Suzano para um
evento. Levou a carta de aceite, contou a situação financeira da família
e conseguiu que a instituição arcasse com as passagens.
Agora ele precisa de cerca de R$ 3 mil para a alimentação durante todo
mês nos EUA e os custos com a documentação.
"Para comer eu vou gastar
cerca de US$ 20 por dia, tem ainda o passaporte, visto, alguns custos
com tradução de documentos. A minha mãe vai me dar um pouco, as mães dos
meus amigos estão fazendo uma rifa para me dar parte do dinheiro e o
restante eu devo conseguir com a vendas das trufas", conta.
Em seguida ele tentou o curso no MIT, que apesar de não ser um
requisito para ingressar na gradução em universidades americadas, será
um facilitador na avaliação dele.
O processo seletivo do MIT foi composto por formulários com a descrição
das atividades extracurriculares, simulações de investimentos,
histórico escolar, um conjunto de pequenos textos explicando as
propensões e habilidades dele com o empreendedorismo, um vídeo
totalmente em inglês contando a história e uma entrevista em inglês com a
organização do programa.
"A vida é como um copo pela metade e a cada dia ela te rouba um gole. Então cada dia eu tenho que pensar o que de melhor eu vou fazer com ela para ter os melhores resultados, sem esquecer de onde estou, qual é a minha realidade e para onde quero ir", enfatiza o estudante.
Nesta filosofia, a preparação do jovem para a universidade começou bem
antes de ser aceito no MIT. "No final do primeiro ano eu coloquei esta
meta para a minha vida, então comecei a estudar inglês sozinho e com
frequência, para conseguir fluência", conta.
Hoje, o estudante considera estar no nível avançado para a leitura e
compreensão. A fim de melhorar a conversação, ele começou um curso, via
internet, com um professor americano, quatro vezes por semana. "É uma
opção que não é cara e assim eu descarto a possibilidade de qualquer
perrengue por lá", conta.
![]() |
Robson, os amigos e o professor durante a premiação das Olimpíadas Nacionais de Robótica. (Foto: Robson Vinicius Almeida Silva/Arquivo Pessoal) |
https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/estudante-de-suzano-consegue-vaga-em-curso-do-mit-nos-eua-e-vende-trufas-para-pagar-despesas.ghtml