Fux dá uma semana para que entidades cheguem a consenso sobre frete - Ministro do STF ouviu caminhoneiros, indústria e agronegócio
O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), realizou hoje
(20) uma audiência sobre a tabela de preços mínimos para o frete
rodoviário no Brasil, medida que é contestada na Corte.
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O ministro do STF Luiz Fux coordena audiência de instrução do processo que questiona a legalidade da tabela de preços mínimos do frete - Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Ele deu um prazo até a próxima quinta-feira (28) para que
representantes dos caminhoneiros, da indústria e do agronegócio cheguem a
um consenso sobre o custo do transporte.
“Todos entenderam que o Brasil não pode mais passar pelos momentos
que passou. Então cada um vai dar uma cota de colaboração para o país e
entenderam de se reunirem em uma semana para encontrar um preço
intermediário e apresentá-lo em juízo”, disse Fux.
O ministro acrescentou que, se não for apresentado tal preço
intermediário na próxima quinta-feira, às 11h, ele realizará uma
audiência pública para colher informações de especialistas e, somente
então, decidir sobre o assunto.
A audiência está pré-agendada para 28 de
agosto.
Fux é o relator de três ações diretas de inconstitucionalidade (ADI)
contra a Medida Provisória 832, editada pelo governo em 27 de maio, que
prevê uma tabela de frete mínimo para o transporte rodoviário.
As ações
foram abertas pela Associação do Transporte Rodoviário do Brasil (ATR
Brasil), que representa empresas transportadoras, pela Confederação
Nacional da Indústria (CNI) e pela Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA).
As entidades alegam que a tabela fere os princípios constitucionais
da livre concorrência e da livre iniciativa, sendo uma interferência
indevida do governo na atividade econômica.
O presidente da CNI, Robson
Andrade, sugeriu nesta quinta que seja criada uma tabela de preços
somente referenciais, e não obrigatórios.
Do lado dos caminhoneiros, o presidente da Confederação Nacional dos
Transportadores Autônomos, Diumar Bueno, afirmou que a categoria não
concorda com tabela de referência, não abrindo mão de um preço mínimo de
frete “que dê condições de sobrevivência” aos motoristas.
Participaram da audiência desta quinta-feira: a advogada-geral da
União, Grace Mendonça; o subprocurador-geral da República Paulo Gonet; o
diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT),
Mário Rodrigues; representantes das entidades autoras das ações contra a
tabela e também dos caminhoneiros.
Manifestações
Ao editar a tabela, o governo atendeu a uma das reivindicações dos
caminhoneiros, que paralisaram suas atividades por 11 dias no mês
passado, provocando uma grave crise de abastecimento no país.
Em manifestação enviada ao STF, a AGU defendeu a validade da tabela.
Para o órgão, a fixação do preço mínimo do frete tenta garantir valor
adequado para a prestação do serviço, que deve ser compatível com os
custos incorridos no transporte rodoviário de carga.
Na semana passada, Fux suspendeu,
a pedido da AGU, ao menos 53 ações contra a MP que tramitam em
instâncias inferiores, enquanto o tema não é resolvido no STF.
O
procedimento visa evitar decisões judiciais conflitantes pelo país.
Também em manifestação enviada ao STF, a ANTT defendeu a tabela,
apesar de se colocar flexível em “reavaliar” sua adoção. A agência, no
entanto, destacou que se a MP que prevê a medida considerada
inconstitucional, isso “lançará o país no mesmo caos em que se
encontrava dias atrás”, durante a greve dos caminhoneiros.
De seu lado, os caminhoneiros alegam que há uma distorção no
mercado e que, sem a tabela, não têm condições de cobrir os custos do
serviço que prestam e ainda extrair renda suficiente para o próprio
sustento.
Prejuízos
Uma primeira tabela de frete publicada pela ANTT, vigente desde o dia
30 maio, chegou a ser suspensa por um dia neste mês, sendo substituída
por outra com preços mais baixos, após reclamações de empresários. Com a
ameaça de os caminhoneiros voltarem a parar, a agência decidiu manter a
tabela anterior.
Na reunião desta quarta-feira, a CNA
trouxe dados compilados por suas entidades filiadas segundo os quais a
tabela do frete causou, em 20 dias de vigência, prejuízo de R$ 10
bilhões aos setores de milho e soja.
Segundo a entidade, diversos setores do agronegócio estão evitando
transportar ao menos 50% de suas mercadorias enquanto o impasse sobre o
custo do frete não é resolvido.
Com isso, ao menos 60 navios estão
parados nos portos brasileiros, ao custo de R$ 6,7 milhões por dia, à
espera de mercadorias a serem exportadas.
Edição: Amanda Cieglinski
Por
Felipe Pontes - Repórter da Agência Brasil