Temer termina o governo claudicante Ele assumiu acreditando que a recuperação econômica o protegeria dos escândalos. Ocorreu o contrário: as denúncias destruíram sua capacidade de reformar a economia

Por Helio Gurovitz                                                                                          
O presidente Michel Temer, durante entrevista à rádio CBN nesta segunda (7/5) (Foto: Alan Santos/PR)

Presidentes em fim de mandato costumam ser chamados nos Estados Unidos de “patos mancos”. Caminham desajeitados, claudicantes, aos tropeços. O relógio anda mais rápido que eles. Cada segundo que passa, seu poder diminui. É o que acontece com Michel Temer.

Ele assumiu o Planalto com o impeachment de Dilma Rousseff e um programa com duas faces. Na pública, a ideia era reerguer a economia, afundada pelos desatinos do PT. Na privada, o objetivo era proteger o grupo de emedebistas alvejados por investigações criminais.

A estratégia era que a face privada ficasse oculta sob os êxitos da pública. O resultado foi o oposto: a tímida recuperação econômica foi prejudicada pelos intermináveis imbroglios em que Temer e seu grupo se meteram.

Desde o dia 17 de maio do ano passado, quando veio à tona a célebre conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista no subsolo do Palácio Jaburu, era previsível que o programa de reformas rumasse ao naufrágio. No fim do ano, estava claro que não haveria reforma da Previdência e que, na prática, o governo acabara.

Sem as reformas e sem nenhum tipo de perspectiva em relação às eleições de outubro, o país ficou à deriva. Projetos e decisões adiados. Planos cancelados. Investimentos reduzidos. O “legado” econômico do governo Temer esfarelou na incerteza.

Depois de gastar todo seu capital político para congelar duas denúncias na Câmara dos Deputados, Temer tentou reerguer sua popularidade com a intervenção atabalhoada na segurança do Rio de Janeiro e com os primeiros passos de uma candidatura à reeleição.

O ponteiro da popularidade não se moveu um nanômetro. Temer simplesmente não convence. Na entrevista de ontem à rádio CBN, ficou claro que já desistiu da pretensão de ficar no cargo. Parece acreditar numa aliança do campo político que se convencionou chamar de “centro”. Só que ninguém do tal “centro” está interessado no apoio do presidente mais impopular na história brasileira – sim, Temer superou Dilma.

Para complicar a vida dele, a polícia não para de trabalhar. Além das duas denúncias congeladas pela Câmara até o final de seu mandato, Temer é foco de outros dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).

O primeiro é do ano passado: investiga, com base na delação da JBS, se ele recebeu propina em troca de uma decisão que beneficiou a empresa Rodrimar num decreto relativo a concessões portuárias. O ministro do STF Luís Roberto Barroso, relator do inquérito, renovou ontem as investigações por mais 60 dias.

O segundo inquérito é deste ano: investiga, com base em novas provas entregues à Justiça por delatores da Odebrecht como parte da Operação Lava Jato, indícios de propina na Secretaria de Aviação Civil, comandada pelo grupo de emebistas ligado a Temer.

Em março, o próprio Temer foi incluído nas investigações, a pedido de ninguém menos que a procuradora-geral Raquel Dodge, que ele mesmo nomeara para o cargo em substituição a seu desafeto Rodrigo Janot, acusado de atuar sob motivação política na delação da JBS.

Na última volta dos parafusos que aos poucos se fecham em torno da cabeça de Temer, a Polícia Federal recolheu depoimento de um policial militar que afirmou ter levado duas vezes, quando trabalhava como motorista de uma transportadora de valores, dinheiro ao escritório de João Yunes, amigo de Temer acusado de receber em nome dele.

Outro amigo de Temer sobre quem pesa a mesma acusação, o coronel João Batista Lima, ficou em silêncio diante da polícia depois de ser preso no fim de março. A mulher de Lima, arquiteta, pagou em dinheiro vivo, de origem suspeita, as despesas da reforma da obra de uma das filhas de Temer. A polícia investiga a transação.

O noticiário policial não dará trégua a Temer até o fim do mandato. Suas negativas vêm naquele previsível tom monocórdio. Seu carisma é nulo. Seu cacife eleitoral é pífio. O presidente que assumiu com a promessa de recolocar o Brasil nos trilhos termina o governo de forma melancólica.

Seu programa para a economia era corajoso e admirável. Infelizmente, e Temer sabe bem disso, sempre prevalece a política.

Postagens mais visitadas deste blog