Taxistas protestam contra regulamentação de transporte por aplicativos
Insatisfeitos com a regulamentação feita
 pela prefeitura do Rio de Janeiro para o serviço de transporte 
individual de passageiros por aplicativos em carros particulares, 
oferecido por empresas como Uber, 99Pop e Cabify, milhares de taxistas 
foram às ruas hoje (10) em carreatas para protestar contra o decreto 
publicado no mês passado.
Os taxistas se concentraram no fim da manhã em frente à prefeitura, 
na Cidade Nova, no centro, gerando retenção no trânsito em vários pontos
 da cidade. Alguns táxis que passavam em frente ao ato, na Avenida 
Presidente Vargas, foram atingidos por ovos, jogados pelos 
manifestantes.
Segundo os taxistas, o prefeito Marcelo Crivella não cumpriu a 
promessa de ouvir as reivindicações da categoria antes de regulamentar o
 serviço. Em março, lei federal autorizou o funcionamento dos aplicativos no país.
Representante dos taxistas que trabalham sem cooperativa nem ponto 
fixo, o chamado “rolé”, João Marcelo, conhecido como Marcelo do Táxi, 
criticou o prefeito que não aceitou a sugestão da categoria de limitar o
 número de carros cadastrados pelos aplicativos.
“O prefeito é tratante, ele tratou com a gente que, antes de fazer a 
regulamentação dos carros de aplicativo, ia chamar a categoria, os 
representantes, o sindicato, para poder sentar na mesa e conversar a 
respeito da regulamentação. Nós não estamos satisfeitos com a 
regulamentação dele porque basicamente continua a mesma coisa que está. A
 bagunça total, 150 mil carros na rua fazendo um caos no trânsito e 
passando por cima da mobilidade.”
Segundo ele, o município tem cerca de 32 mil permissionários de 
táxis. “Nós fizemos uma proposta a ele para que limitasse os carros por 
aplicativo em 33 mil. Ele falou que iria atender a categoria para ficar 
uma coisa equilibrada, mas infelizmente ele não cumpre palavra.”
O diretor do Sindicato dos Taxistas Autônomos do Município do Rio de 
Janeiro Marcos de Bezerra afirmou que a categoria não quer proibir a 
concorrência dos aplicativos, mas que a regulamentação organize a 
mobilidade no município com “regras mínimas de segurança aos usuários”.
“Ele [o prefeito] havia assumido o compromisso de que não publicaria 
nenhuma regulamentação antes de conversar com o sindicato para a gente 
definir os parâmetros que não prejudicassem nem os taxistas nem os 
motoristas de aplicativos. Porém, ele fez um decreto de uma forma 
totalmente liberal, que não tem restrição nenhuma”, disse.
Posicionamento
O prefeito Crivella recebeu representantes da categoria na terça-feira, porém as conversas não avançaram, segundo os taxistas.
Em nota, a prefeitura informou que incluir no decreto um limite para o
 número de carros circulando na cidade é inconstitucional. Segundo 
Crivella, “já há várias decisões em Cortes espalhadas pelo Brasil 
derrubando essas políticas que são inconstitucionais, sem abrigo da 
lei”.
A prefeitura disse também que está estudando juridicamente a 
possibilidade de aumentar a cobrança da taxa para carros que não tem 
placa do Rio de Janeiro e que o aplicativo da prefeitura Taxi Rio já 
passou de 1 milhão de corridas desde o início da operação, em novembro 
de 2017. Com 18 mil taxistas cadastrados, o aplicativo possibilita, em 
média, 13 mil corridas diárias.
De acordo com a prefeitura, os aplicativos de carros particulares 
repassam 1% do faturamento total para o Poder Público. Os valores ou 
percentuais não constam no decreto de regulamentação e foram deliberados
 no Comitê Municipal de Tecnologia Aplicada ao Sistema Viário Urbano, 
criado pelo mesmo decreto e composto por secretários municipais e pelos 
diretores-presidentes da Empresa Municipal de Informática e da Companhia
 de Engenharia de Tráfego.
Aplicativos
Em nota, a Uber informou que suas operações estão regulamentadas por 
lei. “Os motoristas parceiros da Uber prestam o serviço de transporte 
remunerado privado individual de passageiros, que tem respaldo na 
Constituição, é previsto na Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei 
Federal 12.587/2012) e teve novas diretrizes criadas pela Lei Federal 
13.640/2018. A Uber acredita que os cerca de 20 milhões de usuários do 
app têm o direito de ir e vir”.
A Cabify informou que considera “pioneira” a regulamentação feita 
pela prefeitura do Rio de Janeiro. “A empresa continua a dialogar com a 
capital carioca, que retirou limitações como a de emplacamento e 
estabeleceu pontos que garantem a segurança e qualidade do serviço”, 
informou a empresa, ressaltando que diversos pontos do decreto precisam 
de “maior detalhamento futuro para evitar burocracias, que estabeleçam 
regras ainda mais claras (vistoria e curso) para que a empresa entenda 
todos os impactos no modelo de negócios e em provável alteração no valor
 do serviço”.
A 99 Pop foi procurada pela reportagem para comentar o decreto e a 
manifestação dos taxistas, mas não respondeu até o fechamento da 
reportagem.
Decreto
O Decreto 44.399, do dia 11 de abril de 2018, traz diretrizes gerais 
para a exploração de serviços de transporte individual remunerado de 
passageiros intermediado por plataformas digitais. O texto traz 
obrigações para os provedores como intermediar a conexão entre os 
motoristas e os usuários, bem como o pagamento, o uso de mapas digitais e
 recibo com o trajeto, valor e tempo gasto.
A prefeitura pede o cadastro do provedor junto à Secretaria Municipal
 de Transporte e relatórios periódicos sobre as viagens feitas, para 
“subsidiar o planejamento da mobilidade urbana e possibilitar o 
acompanhamento e fiscalização do serviço fornecido, sem prejuízo da 
privacidade e confidencialidade dos dados pessoais dos usuários e 
motoristas”.
Os motoristas têm prazo de 180 dias para se adequar às exigências, 
como a autorização para atividade remunerada na Carteira Nacional de 
Habilitação, a aprovação em curso de formação e a inscrição no Instituto
 Nacional do Seguro Social (INSS) como contribuinte individual.
Por Akemi Nitahara - Repórter da Agência Brasil
Edição: Lílian Beraldo