Um grande acordo nacional. Com o PCC, com tudo
Um grande acordo nacional. Com o PCC, com tudo
Por Cleber Lourenço
Brasília tem dessas ironias: de tempos em tempos, as paredes dos gabinetes parecem devolver ecos antigos. Hoje, os corredores voltam a sussurrar nomes e medos que lembram 2016, quando Romero Jucá foi gravado falando em um “grande acordo nacional”. Naquela época, a Lava Jato ditava o ritmo; agora, quem dita são a Polícia Federal e as canetadas de Flávio Dino no Supremo.

Romero Jucá (Foto: Agência Brasil)
O incômodo é visível. Operações contra facções, investigações sobre garimpo, esquemas de combustíveis e, mais recentemente, as auditorias nas chamadas emendas pix, colocaram o centrão na defensiva. A diferença em relação a 2016 é sutil, mas essencial: não se trata de derrubar um governo, mas de blindar lideranças políticas. O impeachment de Dilma não cabe mais. Lula não é Dilma, repetem em surdina. Mas há outro caminho: travar, tumultuar, criar dificuldades. O jogo é simples — sufocar o governo a cada votação.
O exemplo mais claro está na promessa de isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil. Medida popular, aguardada, mas que virou moeda de troca. Em vez de avançar, é engavetada em nome de negociações intermináveis. Cada semana de atraso transforma o tema em símbolo de paralisia, enquanto o governo assiste ao próprio desgaste.
As investigações que avançam em paralelo só apimentam o cenário. A operação Sisamnes, por exemplo, expôs o subterrâneo do Judiciário: venda de sentenças, redes de influência e até a existência de grupos de matadores profissionais preparados para eliminar autoridades. Um mergulho sombrio que tira o sono de muita gente graúda. Do outro lado, a Carbono Oculto mexeu com cifras bilionárias do setor de combustíveis e já é tratada em Brasília como uma bomba de efeito retardado, prestes a explodir nas mãos de empresários e políticos.
Em conversas reservadas, dirigentes de partidos reconhecem: o medo não é apenas de prisão ou de perda de mandatos, mas do impacto público. Se a narrativa escapar das mãos, as investigações podem se transformar em estigma para todo o centrão. É aí que entra a estratégia de emparedar o governo, usar o Parlamento como trincheira e empurrar cada projeto para a beira do precipício.
No fundo, o enredo é o mesmo de sempre. Operações policiais e decisões judiciais viram armas políticas; o centrão, acuado, reage com obstrução; o governo, encurralado, negocia em meio a desconfiança. A lembrança de 2016 não é gratuita. Se lá o acordo buscava estancar a Lava Jato, aqui o pacto silencioso é para manter Brasília travada, custe o que custar. A diferença é que, se antes o foco eram empreiteiras e licitações, hoje o centro da tormenta está no crime organizado e nas emendas parlamentares. O país assiste a mais um capítulo dessa crônica repetida, em que cada “acordo nacional” é menos sobre nação e mais sobre sobrevivência de quem comanda o tabuleiro.
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