PCC usou rede de 60 motéis para lavar R$ 450 milhões, diz a Receita
RECEITA FEDERAL
PCC usou rede de 60 motéis para lavar R$ 450 milhões, diz a Receita
No total, a Operação Spare identificou 21 CNPJs ligados a 98 estabelecimentos de uma mesma franquia, movimentando cerca de R$ 1 bilhão
Escrito BRASIL 25/9/2025 · 12:13 hs
A Receita Federal e o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) identificaram uma rede de cerca de 60 motéis registrados em nome de laranjas utilizada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para lavar dinheiro do crime organizado. Apenas entre 2020 e 2024, os estabelecimentos movimentaram mais de R$ 450 milhões.
As investigações integram a Operação Spare, deflagrada nesta quinta-feira (25), que tem como alvo esquemas da facção nos setores de combustíveis adulterados, jogos de azar e empreendimentos imobiliários.
Motéis, restaurantes e imóveis de luxo
De acordo com a Receita, os motéis investigados contribuíram para o aumento patrimonial dos sócios ligados à facção, distribuindo cerca de R$ 45 milhões em lucros e dividendos. Em alguns casos, a discrepância entre receita e distribuição chamou a atenção: um dos estabelecimentos repassou 64% da receita bruta declarada aos sócios.
Restaurantes anexos aos motéis, com CNPJs próprios, também integravam o esquema. Um deles, por exemplo, registrou R$ 6,8 milhões em receitas entre 2022 e 2023, mas distribuiu R$ 1,7 milhão em lucros.
As investigações ainda apontam operações imobiliárias de alto valor, como a compra de imóveis de R$ 1,8 milhão em 2021 e de R$ 5 milhões em 2023, além de terrenos avaliados em mais de R$ 20 milhões.
Movimentação bilionária e bens de luxo
No total, a Operação Spare identificou 21 CNPJs ligados a 98 estabelecimentos de uma mesma franquia, movimentando cerca de R$ 1 bilhão entre 2020 e 2024, mas emitindo apenas R$ 550 milhões em notas fiscais. Nesse período, recolheram R$ 25 milhões em tributos federais (2,5% da movimentação) e distribuíram R$ 88 milhões em lucros e dividendos.
Com os recursos, o grupo adquiriu bens incompatíveis com a atividade empresarial:
Iate de 23 metros, inicialmente registrado em nome de um motel e depois transferido a uma empresa de fachada;
Helicóptero Augusta A109E, comprado por um dos investigados;
Lamborghini Urus, adquirido por empresa patrimonial;
Terrenos e imóveis de alto valor.
“A movimentação financeira desses motéis era muito diferente do que declaravam como receita. Ficava claro que ali entrava dinheiro ilegal disfarçado de atividade empresarial”, explicou a superintendente da Receita em São Paulo, Márcia Meng, destacando a sofisticação do esquema.
O papel de “Flavinho” e a rede de postos
As apurações também identificaram como chefe do esquema de combustíveis adulterados o empresário Flávio Silvério Siqueira, conhecido como Flavinho. Ele é suspeito de atuar há anos na lavagem de dinheiro do crime organizado por meio de postos de combustíveis e empresas associadas.
A Receita apontou ainda 267 postos ativos que movimentaram R$ 4,5 bilhões entre 2020 e 2024, mas recolheram apenas R$ 4,5 milhões em tributos federais — o equivalente a 0,1% do total. Outras administradoras de postos movimentaram R$ 540 milhões no mesmo período.
Também foi identificado um padrão de retificação de declarações de Imposto de Renda, em que valores de patrimônio eram inflados sem a correspondente inclusão de rendimentos e impostos. Segundo a Receita, apenas a família do principal alvo aumentou irregularmente seu patrimônio declarado em R$ 120 milhões.
Operação e conexões
A Operação Spare cumpre 25 mandados de busca e apreensão em São Paulo (19), Santo André (2), Barueri, Bertioga, Campos do Jordão e Osasco. Participam da ação 64 servidores da Receita, 28 do MP-SP (Gaeco), equipes da Sefaz-SP e cerca de 100 policiais militares.
Durante a apuração, foram encontradas conexões entre os alvos da Spare e investigados de outras grandes operações contra o crime organizado, como a Carbono Oculto e a Rei do Crime, incluindo transações comerciais conjuntas, uso compartilhado de helicópteros e viagens internacionais.
Ações paralelas
Na última semana, a Receita também deflagrou a Operação Cadeia de Carbono, que apreendeu cargas de petróleo e derivados avaliadas em R$ 240 milhões no Porto do Rio de Janeiro, suspeitas de importação irregular.
Segundo o órgão, as ofensivas visam excluir do mercado empresas que atuam de forma fraudulenta:
— Hoje os criminosos não usam apenas empresas de fachada sem operação. Criaram um modelo sofisticado, com negócios reais, mas movimentação incompatível com a atividade. Nosso trabalho é garantir que recursos ilícitos não circulem como se fossem lícitos, afirmou Márcia Meng.
https://revistaforum.com.br/brasil/2025/9/25/pcc-usou-rede-de-60-moteis-para-lavar-r-450-milhes-diz-receita-188474.html