'Não devíamos ter chegado ao ponto em que chegamos', diz ministro Marco Aurélio sobre greve dos caminhoneiros
Por G1 AL
Em
Maceió para o XXIII Congresso Brasileiro de Magistrados, o ministro
Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), falou neste
sábado (26) sobre a crise do país e a greve dos caminhoneiros:
"Nós não devíamos ter chegado ao ponto em que nós chegamos".
Diversas rodovias federais e estaduais estão bloqueadas em todo o país
pelos caminhoneiros. Eles protestam contra a alta do preço dos
combustíveis desde segunda (21).
"Agora mesmo tivemos praticamente a paralisação do Brasil tendo em
conta um manifestação de certo segmento da economia nacional. Refiro-me
aos caminhoneiros. A sociedade ante essa quadra atual chegou a um grau
de indignação em que ela quer a correção de rumos. Um grau de indignação
presente nos escândalos de toda ordem e também a deficiência enorme no
tocante aos serviços sociais que devem ser e precisam ser
proporcionados pelo estado ", afirmou o ministro em entrevista a uma
equipe de reportagem da TV Gazeta de Alagoas.
Ele ainda criticou o decreto que autoriza o uso das Forças Armadas para liberar rodovias em território nacional.
“Não é a solução, muito menos a solução querida, que conversa com o estado democrático de direito. Mas, chegamos a um ponto que precisávamos realmente de uma correção de rumos. Neste caso, o presidente Michel Temer entendeu que é indispensável a atuação das Forças Armadas. Contudo, para mim, como foi também a utilização da intervenção do Rio de Janeiro, isso gera uma preocupação muito grande”, disse o ministro do STF.
Ele complementou que as Forças Armadas têm outra destinação. “O Estado
deve preservar a segurança jurídica via a polícia investigatória, que é a
civil, e a polícia repressiva, que é a polícia militar. As Forças
Armadas têm outra destinação”, esclareceu.
Ministros falam da importância do judiciário
Além do ministro Marco Aurélio, outros ministros do STF também
estiveram em Alagoas para o congresso, que foi encerrado nesta tarde.
Na sexta (25), o ministro Luís Roberto Barroso criticou a liberação de
pessoas condenadas por corrupção, e disse que isso provoca desprestígio
do juízo de 1º grau.
"Existe uma minoria muito bem protegida no Brasil atualmente. São os
corruptos, pessoas que desviaram milhões e mantêm suas contas no
exterior e são libertadas a granel. Liberações que expõem e
desprestigiam os juízes de primeiro grau, que correm os riscos, que
enfrentam essa cultura de desigualdade que sempre protegeu os mais
ricos, cultura de compadrio", afirmou o ministro.
"Sou solidário com quem se dispõe a fazer esse trabalho. Ele é difícil,
tem um custo pessoal alto, mas está do nosso lado. Há uma velha ordem
sendo transformada. Os aliados da corrupção no Brasil fazem um discurso
libertário, quando na verdade é uma leniência e uma cultura de desvio de
dinheiro público."
Horas antes, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, que também
veio ao estado para o congresso, se reuniu com presidentes de 21
tribunais de justiça, e anunciou a criação de um cadastro nacional de presos, que vai conter informações que possibilitem um julgamento mais eficaz.
"Na próxima quarta, apresentarei pela primeira vez ao Brasil quantos
presos nós temos, quem determinou a prisão, onde eles estão, vinculados a
que processo, então é algo inédito esse cadastro nacional", afirmou a
ministra.
Na abertura do congresso, na quinta (24), o ministro Dias Toffoli exaltou a importância do poder judiciário para manutenção da democracia brasileira.
"Hoje o judiciário saiu da estufa do passado e conquistou o espaço na
sociedade passando a atuar no primeiro plano da vida pública. Todas as
conquistas trazidas pela democracia, à sociedade e aos cidadãos são
garantidas pela Justiça”, afirmou Toffoli.