Greve dos caminhoneiros - A irresponsabilidade do movimento - EDITORIAL:- O GLOBO
Com uma dependência excessiva do transporte rodoviário, o pais é
refém de grupos e corporações que atuam no setor.
Não é a primeira vez
que acontece, mas agora a situação começa a ultrapassar limites
perigosos.
A capitulação de um governo que se mostrou surpreendido pelos
caminhoneiros, e em um momento de aguda fraqueza política, foi
sacramentada ontem, em Brasília, com um pedido de trégua lastreado em
diversas concessões: a Petrobras já havia anunciado um corte de 10% no
preço do diesel durante 15 dias, ontem estendido para um mês; eliminação
da Cide sobre o combustível, etc. Todas as reivindicações foram
atendidas.
Mas hoje pela manhã estradas continuavam bloqueadas.
Os reflexos eram
previsíveis: desabastecimento geral (supermercados, combustíveis e tudo
o mais), transporte urbano em processo de paralisação, aeroportos sem
aviões e assim por diante.
Vidas passaram a correr riscos nos hospitais e
outros serviços básicos entraram em colapso.
Em situações como esta, mais do que nunca vale a Constituição, para
evitar qualquer abalo na estabilidade institucional.
Vários direitos
individuais e coletivos estão sendo desrespeitados de maneira grave.
O
comando do movimento deve refletir sobre a situação.
Há indícios de que empresários atuam nos bastidores para se
beneficiar da redução do preço do diesel, a ser bancada pelo
contribuinte, enquanto o Tesouro já acumula elevado déficit.
E, num ano
eleitoral, não surpreende que haja interesses políticos que tentem se
aproveitar do movimento.
Tudo precisa ser acompanhado, para a necessária cobrança pelas vias
legais.
O importante agora é a desobstrução das estradas, já permitida
por liminares obtidas pela advocacia da União.
O arcabouço jurídico do
país tem como manejar com este movimento descabido.
Mas a melhor
alternativa, para o bem de todos, é a aceitação e cumprimento do acordo
proposto pelo governo.