Brasil recebe certificação de país livre da febre aftosa com vacinação
Depois de mais de 50 anos de trabalho na erradicação e prevenção da
febre aftosa nos rebanhos, o Brasil recebe hoje (24) a certificação de
país livre da doença com vacinação, da Organização Mundial de Saúde
Animal (OIE).
As ações, compartilhadas entre os governos federal e
estaduais e o setor privado, incluem a vacinação nos pastos, a
vigilância nas fronteiras e a estruturação da rede laboratorial do país.
A maioria dos estados brasileiros já tinha o reconhecimento de zona livre da aftosa com vacinação. Agora, com o novo status
sanitário, a comercialização de carnes e animais vivos será facilitada
tanto dentro quanto fora do país.
“Isso mostra que o país, com um dos
maiores rebanhos do mundo, tem se preocupado com as questões sanitárias.
Isso passa mais credibilidade e segurança a compradores”, disse o
superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil (CNA), Bruno Lucchi.
Segundo ele, a certificação de país livre de aftosa pode, inclusive,
agregar valor a outros setores, como o da suinocultura. “Não temos o
mesmo risco [de outros países onde o vírus da febre aftosa circula],
isso agrega valor muito grande às exportações, os mercados pagam bem
melhor. Temos o ganho direto e o indireto”, explicou.
A diretora-geral da OIE, Monique Eloit, entregará o certificado
sanitário ao ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo
Maggi, na sede da organização em Paris, durante a 7ª Sessão Plenária da
instituição. A Comissão Científica da OIE aprovou a certificação do
Brasil em 2017, mas os 181 países integrantes da organização oficializam
a decisão nesta quinta-feira.
No último domingo (20), Maggi discursou na abertura oficial da 86ª
Sessão Geral da OIE. Ele disse que o reconhecimento do Brasil como país
livre da aftosa com vacinação é “a vitória de uma longa e dura
trajetória de muita dedicação de pecuaristas e do setor veterinário
oficial”.
O Brasil iniciou o combate organizado à febre aftosa ainda na década
de 60, por meio de campanhas de vacinação. “Naquela época, a doença se
manifestava de forma endêmica, com milhares de focos por ano. Era um
verdadeiro caos sanitário”, disse o ministro no discurso.
A partir da década de 90, as estratégias de combate à doença passaram
do controle para a erradicação, com a implantação do Programa Nacional
de Erradicação da Febre Aftosa (Pnefa), que previu a ampla participação
do setor privado e a regionalização no combate a doenças, entre outras
ações.
A última ocorrência de febre aftosa no Brasil foi em 2006, no Paraná e
em Mato Grosso do Sul, na região de fronteira com o Paraguai.
Em 2007,
Santa Catarina recebeu o reconhecimento da OIE como livre de febre
aftosa sem vacinação. Esse é o próximo status a ser buscado pelo país: gradativamente, retirar a vacinação do rebanho até 2023, para que, até 2026, haja a certificação internacional pela OIE, de país livre de aftosa sem vacinação.
Para Bruno Lucchi, da CNA, toda a cadeia pecuária brasileira tem
ciência do compromisso sanitário. “O produtor rural, ele mesmo já tem
internalizado a importância de ter uma condição sanitária melhor. E quem
arca com o custo de vacinar o gado é o produtor”, disse.
O vírus da febre aftosa é altamente contagioso. O animal afetado
apresenta febre alta, que diminui depois de dois ou três dias. Em
seguida, aparecem pequenas bolhas que se rompem, causando ferimentos.
O
animal deixa de andar e comer e, no caso de bezerros e animais mais
novos, pode até morrer. A doença é causada por um vírus, com sete tipos
diferentes, que pode se espalhar rapidamente, caso as medidas de
controle e erradicação não sejam adotadas logo após sua detecção.
O vírus está presente em grande quantidade nas feridas e também pode
ser encontrado na saliva, no leite e nas fezes dos animais. A
transmissão pode ocorrer por contato direto com outros animais
infectados ou por alimentos e objetos contaminados.
Calçados, roupas e
mãos das pessoas que lidaram com animais doentes também podem transmitir
o vírus, que é capaz de sobreviver durante meses em carcaças
congeladas.
Edição: Graça Adjuto
Por
Andreia Verdélio - Repórter da Agência Brasil