Pena capital, desmonte do clima e poder à s Big Techs: Trump promove ruptura


Pena capital, desmonte do clima e poder às Big Techs: Trump promove ruptura

Jamil Chade
Colunista do UOL, em Nova York
Donald Trump assinou perdão a invasores do Capitólio no Salão Oval, em Washington, logo após tomar posse como presidente dos EUA
Donald Trump assinou perdão a invasores do Capitólio no Salão Oval, em Washington, logo após tomar posse como presidente dos EUA Imagem: Carlos Barria/REUTERS

Sobre a mesa de Donald Trump, ontem no Salão Oval, uma ordem executiva instruída a procuradoria

geral a garantir que todos os estados onde a prática é autorizada tivessem drogas letais e agulhas suficientes para implementar penas de morte. No mesmo decreto, o presidente afirmou que "políticos e juízes que se opõe à pena capital desafiaram e subverteram as leis do nosso país".

"A pena capital é uma ferramenta essencial para dissuadir e punir aqueles que cometeriam os crimes mais hediondos e atos de violência letal contra os cidadãos americanos", escreveu. "Nossos fundadores sabiam muito bem que somente a pena capital pode trazer justiça e restaurar a ordem em resposta a tal maldade. Por esse e outros motivos, a pena capital continua a contar com amplo apoio popular", insistiu Trump.

A moratória à pena de morte foi estabelecida em 2021. Nos corredores de morte de prisões federais, Joe Biden deixou o país com apenas três pessoas aguardando uma definição de suas sentenças. Trinta e sete outros condenados tiveram suas penas convertidas.

Trump optou pela ruptura. Em todos os segmentos onde o estado pode ter um papel decisivo.

Nesta segunda-feira, o republicano voltou ao poder, numa cerimônia marcada pela presença dos novos magnatas do mundo. Mark Zuckerbeg, Elon Musk e Jeff Bezos foram colocados em locais mais privilegiados que os próprios membros do gabinete do novo governo.

Em cerca de cem decretos, Trump desmontou regulamentos ambientais, acabou com banimento à pesca, suspendeu a ajuda humanitária dos EUA ao mundo por três meses, retirou os americanos de acordos mundiais de saúde e meio ambiente. Ao mesmo tempo, liberou a exploração sem limite de petróleo.


Com o argumento de focar na meritocracia, o novo governo derrubou programas de diversidade, acabou com iniciativas para combater o racismo e retomou a definição de gênero baseada na Bíblia.

Em seu discurso, Trump sugeriu a construção de uma sociedade "que não vê cor". Na verdade, seria apenas deliberadamente cega ao racismo. Os invisíveis continuarão invisíveis.

As ordens executivas passaram a dar um mandato às forças militares para que lidem com a imigração, inclusive ampliando campos de detenção. Trump também definiu que a procuradoria deveria recomendar que um imigrante que tenha matado um agente federal seja condenado à pena de morte. A lei não valeria para um americano.


O presidente abriu a possibilidade legal para que a Justiça não conceda a cidadania americana a um bebê que nasce no território dos EUA de pais imigrantes, 150 anos depois da criação da lei que abriu as portas para a construção de uma sociedade americana.

Aos magnatas das Big Techs, generosos doadores de sua campanha, foram reservadas novos decretos. Os EUA anunciaram que saíram dos acordos da OCDE que determinam uma taxação mínima global das grandes corporações.

Trump determinou que as agências federais e a máquina do estado não podem manter relações com qualquer entidade ou empresa que promova a verificação de fatos. A censura fica proibida e a liberdade de expressão é completa. Inclusive para mentir. Investigações serão ainda abertas para determinar se o antigo governo promoveu a "censura".

No mesmo dia, o presidente revogou um decreto que buscava reduzir os riscos da inteligência artificial para consumidores, trabalhadores e segurança nacional. Pela lei, as empresas que desenvolvem sistemas de IA precisavam compartilhar os dados de seus experimentes, caso eles tivessem um impacto na segurança nacional dos EUA, na economia ou saúde.

Sua ruptura também é acompanhada por um esforço para redesenhar a geografia. Trump ameaçou invadir países, acabou com qualquer restrição de venda de armas para Israel e sinalizou um ataque às minorias. O pico mais elevado dos EUA, no Alasca, deixa de ter um nome indígena para recuperar sua denominação original: a de um ex-presidente responsável pela expansão do território americano à força e a anexação de Porto Rico, Guam, Cuba e o Havaí.

O que era para ser um dia de festa da democracia, repleto de convidados de black tie acabou se mostrando um marco da desconfiança e do colapso das instituições. Biden anunciou um perdão preventivo a seus parentes e aliados, numa sinalização do temor de que Trump pudesse usar o estado como uma máquina de vingança

Horas depois, foi Trump quem retirou da prisão e anulou as sentenças de 1,5 mil invasores do Capitólio. Nas festas elegantes pela capital americana ou na porta da prisão onde esses criminosos cumpriam pena, garrafas de champanhe eram abertas. Estava enterrada a constatação factual de que a democracia americana foi um dia ameaçada.

Musk, com sua liberdade irrestrita, usava sua plataforma para comemorar a soltura dos criminosos. "Um dia histórico nos EUA".

Sem dúvida.

Reportagem

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https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/01/21/pena-capital-desmonte-do-clima-e-poder-as-big-techs-trump-promove-ruptura.htm

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