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sábado, 4 de fevereiro de 2023

Golpes do cartão por aproximação fazem vítimas nas ruas de SP

| Metrópoles 

Vinicius Passarelli
04/02/2023 5:30, atualizado 04/02/2023 6:03
Carnaval de São Paulo
Rovena Rosa/Agência Brasil

São Paulo – Em uma festa de rua na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, o ator Eduardo Godoy, de 29 anos, abordou um vendedor ambulante para comprar uma cerveja, dois sábados atrás. Ele aproximou o cartão de crédito da maquininha, mas a compra não passou.

Depois de mais duas tentativas frustradas por aproximação, Eduardo entregou o cartão para o rapaz inserir e pagar digitando a senha. O vendedor devolveu o cartão e o ator continuou curtindo a festa com sua cerveja. A diversão, no entanto, não durou muito.

“Quando fui passar o cartão outra vez, em outro lugar, o cartão foi recusado na aproximação e no modo de inserir. Paguei com outro cartão e não me dei conta do que estava acontecendo na hora, já era noite e eu estava bebendo desde o início da tarde. Só no outro dia que percebi que o cartão que estava na minha carteira não era meu e estava no nome de outra pessoa”, relata Godoy.

Vítima do golpe do cartão
O ator Eduardo Godoy, vítima do “golpe do cartão” em um bloco de carnaval

Eduardo foi vítima de um golpe que vem se tornando comum em festas de rua e blocos de Carnaval: vendedores ambulantes não credenciados se aproveitam da distração e, muitas vezes, da embriaguez dos clientes para roubar o cartão de crédito.

O golpista alega que a aproximação não está funcionando e pede para a vítima digitar a senha. O vendedor ou algum comparsa grava a sequência, entrega outro cartão para o cliente e fica com o dele.

Com o cartão e senha em mãos, os criminosos aproveitam para efetuar compras de alto valor, antes de a vítima perceber que caiu em um golpe.

Golpe da aproximação

O “truque” da troca do cartão é o mais comum nesses ambientes. Mas não é o único. O delegado Vitor Luna, da Divisão de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de São Paulo, afirma que esses grupos têm conseguido efetuar compras apenas aproximando a máquina dos bolsos das pessoas.

“Normalmente, quando elas guardam o cartão no bolso traseiro. Ele vai lá com a maquininha ‘muquiada’, sem a pessoa perceber, e encosta no cartão dela. E acaba fazendo esses débitos”, afirma o delegado.

O investigador explica que os bancos geralmente limitam o valor em compras por aproximação, mas o titular do cartão pode solicitar o aumento do limite.

Como os golpistas atuam

Metrópoles colheu relatos de cinco pessoas que foram vítimas do golpe do cartão de vendedores ambulantes.

O modus operandi segue um mesmo roteiro: os golpistas geralmente atuam em dupla ou trio, vendem a bebida mais barato que os ambulantes credenciados e, na hora da compra, inventam alguma desculpa para fingir um problema na maquininha e forçar que a pessoa digite a senha.

Outro traço comum é que os criminosos entregam a cerveja já aberta para a pessoa, como forma de evitar que ela desista e vá comprar com outro ambulante. A abordagem geralmente é acompanhada de uma conversa descontraída, com o intuito de distrair a vítima e trocar o cartão sem que ela perceba.

“Os golpistas agem na ‘engenharia social’: vai entrando na mente da pessoa, ludibriando ela para que não preste atenção na hora da troca de cartão ou até mesmo para passar um valor maior”, afirma o delegado Vitor Luna.

Alguns simulam confiança na pessoa e falam para ela continuar pegando cervejas mesmo sem pagar na hora, sob o argumento de que a vítima em potencial pode pagar tudo antes de ir embora.

Como normalmente os “foliões” não ficam parados em um mesmo lugar, insistem em pagar e acabam entregando o cartão para o ambulante tentar passar em outra maquininha, geralmente de um comparsa. É nesse intervalo que o cartão é trocado.

Foi o que ocorreu com o publicitário Henry Gherson, de 31 anos, diante de uma balada no centro de São Paulo, no final de dezembro.

Ele conta que, nesses ambientes, utiliza somente a aproximação, justamente para não entregar o cartão na mão do vendedor. “Eu sempre me preocupei muito com golpe. Falava para as pessoas: ‘como você deixa alguém trocar seu cartão’?”.

Vítima do golpe do cartão
O publicitário Henry Gherson também caiu no golpe do cartão de um ambulante

“O cara falou: ‘fica tranquilo, deve ser minha máquina, pega aí sua cerveja, vai curtir. Eu te acho depois e cobro’. Ele falou que ia pegar uma maquininha com amigo dele. Deu uns 10 minutos, ele já veio com outra máquina. Nessa hora, provavelmente, eu dei meu cartão na mão dele. Porque deu erro de novo na aproximação e ele falou para inserir. Nessa de trocar maquininha, na verdade, ele foi buscar um cartão igual ao meu”, afirma.

O publiciário afirma que só percebeu o golpe no dia seguinte, quando abriu o aplicativo e viu que havia R$ 12 mil em compras na sua fatura.

Outras modalidades

Além dos “golpes da aproximação”, há outras estratégias utilizadas por criminosos para tirar dinheiro dos clientes.

Uma delas é bastante simples: se aproveitando do estado “alterado” de muitos foliões, os vendedores passam valores maiores. Em vez de passar R$ 30, passam R$ 300, por exemplo. Alguns chegam a usar maquininhas com o visor quebrado, para dificultar a visualização.

Há também modelos mais elaborados, mas que, segundo a Polícia Civil, são mais raros entre vendedores ambulantes.

“Tem loja, por exemplo, que coloca uma câmera em cima do vendedor. O equipamento consegue pegar o número do cartão, o código de segurança e senha digitada. O vendedor pede o CPF e endereço da pessoa para fazer um cadastro. A pessoa acaba passando todos os dados necessários para alguém fazer uma compra com o cartão dela”, explica Vitor Luna.

Há ainda maquininhas com softwares instalados capazes de capturar os dados do chip e clonar o cartão. “Essas maquininhas são bem mais caras e por isso não são comuns entre vededores ambulantes”, afirma o delegado.

Nesta semana, um novo golpe foi divulgado pela empresa de cibersegurança Kaspersky. Um grupo de hackers brasileiros especializados em golpes financeiros desenvolveu um programa malicioso que bloqueia pagamentos por aproximação em pontos de venda. Sem a aproximação, consumidores são obrigados a inserirem o cartão físico na máquina, permitindo a fraude.

Como se prevenir

Confira abaixo algumas dicas para não ser vítima de golpes neste Carnaval:

  • Guardar o cartão sempre no bolso da frente; os golpistas costumam aproximar a maquininha nos bolsos de trás
  • Nunca perder o cartão de vista, isso evita a troca
  • Sempre conferir o nome no cartão quando recebe de volta
  • Olhar o valor no visor da maquinha antes de passar a compra
  • Pedir a segunda via e confirir o valor
  • Se possível, consultar o saldo bancário em algum momento do bloco. Com isso, dá tempo de acionar o banco e cancelar a compra, caso tenha sido vítima de um golpe
  • Comprar sempre de vendedores credenciados
  • Se possível, deixar o cartão em casa e ir para o bloco apenas com dinheiro vivo. 
https://www.metropoles.com/sao-paulo/golpes-do-cartao-por-aproximacao-fazem-vitimas-nas-ruas-de-sp

Exclusivo: as provas que ligam Michelle Bolsonaro à suspeita de caixa 2 no palácio | Metrópoles


  • AS PROVAS QUE LIGAM MICHELLE BOLSONARO AO CAIXA 2 DA PRESIDÊNCIA
  • EX-PRIMEIRA-DAMA É SUSPEITA DE SE BENEFICIAR DE “RACHADINHA”
  • AS CONFUSÕES QUE FIZERAM FILHOS DE BOLSONARO SEREM EXPULSOS DO PALÁCIO
  • O MISTERIOSO SUMIÇO DAS PICANHAS E DAS “MOEDAS DA SORTE” DA RESIDÊNCIA OFICIAL
  • FUNCIONÁRIOS DENUNCIAM ASSÉDIO E PERSEGUIÇÃO COM AVAL DOS BOLSONAROS

RODRIGO RANGEL E SARAH TEÓFILO

03/02/2023 17:15

As infiltrações no teto, os móveis terrivelmente deteriorados e o piso de jacarandá esburacado e sem manutenção são só a face aparente de uma fase do Palácio da Alvorada que, embora não tenha nada de áurea ou épica, a história não poderá jamais esquecer.

Para além dos já conhecidos estragos deixados para trás, nos quatro anos em que esteve à disposição de Jair e Michelle Bolsonaro, o prédio projetado por Oscar Niemeyer para ser a principal residência da Presidência da República do Brasil foi lugar de confusões barulhentas, assédio moral a funcionários e de transações financeiras pouco usuais que vão ao encontro das suspeitas de caixa 2 reveladas há duas semanas pela coluna e que, neste momento, estão sob investigação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Relatos de quem viveu o cotidiano do palácio nos últimos anos, documentos e outros registros inéditos, como gravações e mensagens de WhatsApp, revelam segredos do período em que a residência oficial foi ocupada pelos Bolsonaros e escancaram a diferença abissal entre o discurso público do ex-casal presidencial e o comportamento adotado longe dos holofotes, por detrás das vidraças do Alvorada.

Para esta reportagem, ao longo das últimas semanas entrevistamos vários funcionários do palácio, incluindo militares. Alguns aceitaram gravar depoimentos, desde que não tivessem suas identidades reveladas. Outros concordaram apenas em contar o que viram, sem registro em vídeo.

Hugo Barreto/Metrópoles

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro hasteando a bandeira do Brasil em frente ao Palácio do Alvorada, diante de militares. Ela participa de solenidade cívica - Metrópoles

De cima a baixo na hierarquia do Alvorada, do restrito staff que servia à família até, literalmente, a turma que cuida dos gramados onde passeiam as emas, há histórias ilustrativas de um lado do poder que destoa – e destoa bastante – daquele que é exibido costumeiramente ao distinto público.

Histórias como as do pastor evangélico amigo de Michelle presenteado com o cargo de administrador do palácio que esculhambava os subordinados e ameaçava até suspender o lanche de quem ousasse questioná-lo — tudo, segundo ele próprio disse em uma reunião gravada às escondidas, com aval da então primeira-dama.

Há mais. Michelle, com alguma frequência, protagonizava brigas colossais com Carlos e Jair Renan, os filhos 02 e 04 de Jair Bolsonaro. Numa dessas confusões, na frente dos empregados, o 04 precisou ser contido pelo pescoço por um segurança.

Bolsonaro, em um dia de fúria, arrombou a adega do palácio – sim, o então presidente da República pôs abaixo, com o pé, a porta do cômodo onde fica guardado o estoque de vinhos da residência oficial.

Já nos estertores do governo, funcionários da confiança de Bolsonaro e de Michelle levaram embora caixas e mais caixas de picanha, camarão e bacalhau comprados com dinheiro público que estavam armazenadas na câmara frigorífica anexa à cozinha.

Ainda nos últimos dias de 2022, moedas jogadas por turistas no espelho d’água que enfeita a entrada do Alvorada foram “pescadas” e carregadas pelo “síndico” do palácio, também com autorização de Michelle – supostamente para serem doadas a uma igreja.

Alguns dos episódios, ainda que relevantes, são quase pitorescos. Mas há outros graves – ou gravíssimos. Os funcionários relatam como se dava o fluxo de dinheiro – dinheiro vivo – entre o Palácio do Planalto e o Alvorada para bancar despesas privadas da primeira-dama e de seus parentes.

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Bandeira gigante do Brasil na fachada do Palácio da Alvorada durante segundo turno das eleições de 2022 - Metrópoles

Com regularidade, várias vezes por mês, a equipe encarregada de auxiliar Michelle recebia a incumbência de passar no Planalto para pegar os recursos, em espécie, na sala do tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Cid, o agora notório ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Cid, que após a reportagem publicada aqui no último dia 20 tornou-se o pivô da queda do comandante do Exército, é investigado, entre outras coisas, pela suspeita de gerenciar o caixa 2 palaciano com verbas que tinham como origem, inclusive, saques feitos na boca do caixa com cartões corporativos do governo.

Mensagens obtidas com exclusividade pela coluna mostram que bastava um pedido de Michelle para que Cid autorizasse os assessores da primeira-dama a retirarem o dinheiro, no Planalto, com algum dos militares que integravam seu time na ajudância de ordens do então presidente da República. Também era ele quem providenciava depósitos, igualmente em dinheiro vivo, na conta pessoal da mulher de Jair Bolsonaro.

Há evidências, ainda, de que Michelle, primeira-dama do Brasil até 31 de dezembro passado, recebia com regularidade, no Alvorada, envelopes de dinheiro enviados por Rosimary Cardoso Cordeiro, amiga íntima que no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro viu seu salário de assessora no gabinete de um senador governista ser quase triplicado.

Os indícios, que poderão ser esquadrinhados minuciosamente na investigação em curso no STF, apontam para mais uma “rachadinha” no ex-clã presidencial.

Áudios e outros registros aos quais a coluna teve acesso comprovam que assessores de Michelle no Palácio da Alvorada tinham por tarefa pegar com Rosi – seja no prédio dela, no Riacho Fundo, região administrativa do DF, seja em um ponto de encontro entre o Planalto e o Congresso Nacional — os envelopes recheados de notas de reais.

Michelle e o “pastor-capeta”

Se para o público externo a ex-primeira-dama tentava se mostrar sempre afável e sorridente, quem convivia com ela na intimidade do Alvorada relata uma rotina bem diferente, cheia de sobressaltos.

Descrita como uma pessoa temperamental, de humores que mudavam de supetão, Michelle costumava destratar a equipe de funcionários escalada para auxiliá-la. Algumas assessoras chegaram a pedir para deixar o trabalho, queixando-se da maneira como eram tratadas.

Pelo menos uma delas cogitou processar a então primeira-dama por assédio. Acabou desistindo do plano por entender que não teria força para levar adiante uma querela judicial contra alguém que, àquela altura, estava no topo do poder. Outra assessora foi embora sem ouvir nem sequer um obrigado.

O relacionamento difícil de Michelle com o staff que a atendia mais proximamente se refletia nas demais relações de trabalho dentro do palácio, inclusive naquelas que envolviam pessoas simples, como jardineiros e funcionários da limpeza.

O Alvorada está num terreno que equivale a 50 campos de futebol, à beira do Lago Paranoá. De área construída, o edifício inaugurado em 1958 tem 7 mil metros quadrados, distribuídos em três pavimentos. Para funcionar, a megaestrutura palaciana conta com uma tropa de empregados, civis e militares. São cerca de duas centenas de pessoas, que cuidam do atendimento mais direto aos inquilinos de momento – há maître, garçons, cozinheiros, camareiros, motoristas – e dos serviços de manutenção predial e dos jardins.

Em fevereiro de 2021, a tarefa de comandar a máquina do Alvorada foi confiada por Michelle ao pastor Francisco de Assis Castelo Branco (foto acima), próximo da família desde os tempos em que ela e Bolsonaro moravam no Rio. Francisco, ou Chico, como era chamado na intimidade do clã, é marido de Elizângela Castelo Branco, intérprete de Libras que, de tão íntima da ex-primeira-dama, chegou a acompanhá-la na viagem de fim de ano à Flórida. Ainda no Rio, Michelle, Elizângela e Francisco integravam um núcleo da Igreja Batista Atitude voltado à comunidade surda.

Com a vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018, o casal se mudou para Brasília e foi empregado no governo. Francisco ganhou primeiro um cargo no Planalto, com salário de R$ 5,6 mil. Depois, foi transferido para o Alvorada ganhando quase o dobro. Na função de coordenador do palácio, ganhou dos empregados o epíteto de “pastor-capeta” pelo rigor com que tratava os subordinados. A fama de mau não demorou a vir, graças à maneira como lidava com empregados e às sucessivas demissões que promoveu. Teve gente que foi mandada embora porque levou para casa algumas mangas do pomar do palácio – o que antes da chegada dele era algo corriqueiro. “Ele assediava as pessoas e ameaça de demissão o tempo todo. E dizia que a primeira-dama tinha conhecimento de tudo e autorizava essa postura”, afirma um dos funcionários que aceitaram dar entrevista (assista, a seguir, a um dos depoimentos).

No ano passado, o pastor convocou uma reunião com os empregados da empreiteira contratada pelo governo para cuidar da jardinagem do Alvorada. O motivo: ele queria chamar a atenção de funcionários que haviam se queixado porque estavam sendo obrigados a limpar um banheiro de serviço – como eram contratados para cuidar do jardim, alguns alegavam que estavam em desvio de função. Sobrou para todos. Em 25 minutos de monólogo, Francisco desfilou a arrogância que lhe rendeu o apelido indesejado. “Quem não pode limpar o banheiro não pode nem cagar. Caga no mato, então, caga em casa. Entendeu? Usa aquela bolsa. Porque é sacanagem isso”, estrilou. Ele ameaçou cortar o lanche que era oferecido diariamente ao grupo. O pastor ainda explicou, do seu modo, sem papas na língua, por que empregados da Novacap, a companhia urbanizadora de Brasília, haviam sido cortados do Alvorada: além de “velhos”, disse, eram “preguiçosos”. O tom de ameaça era explícito (ouça a seguir os principais trechos da reunião).


A decisão de proibir os funcionários de escalão mais baixo de entrar na área do palácio portando telefones celulares gerou situações desagradáveis. Uma senhora passou o dia sem saber que um parente havia morrido, relata um ex-empregado. Ela só recebeu a notícia ao final do expediente porque o administrador não havia nem sequer deixado um telefone por meio do qual os funcionários poderiam ser acionados por familiares em caso de emergência. “Ele destratava os empregados, especialmente os mais humildes”, diz um militar que lidava com frequência com o pastor.

O sumiço da picanha e das “moedas da sorte”

O pastor Francisco também é personagem de dois episódios ocorridos no Alvorada já nos derradeiros dias do governo Bolsonaro e que, até agora, eram conhecidos apenas por quem vive os bastidores do palácio.

Na primeira visita que fez à residência após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, a atual primeira-dama, Janja da Silva, e seus auxiliares disseram que não teriam interesse nos mantimentos perecíveis – comprados com dinheiro público – que os Bolsonaro deixariam na despensa. Janja, então, autorizou os funcionários a dividirem o farnel entre si. Ocorre que foram poucos, ou pouquíssimos, os que se beneficiaram.

Funcionários relatam que os itens de maior valor, como carnes nobres – peças de picanha e filé mignon, por exemplo – e fardos de camarão e bacalhau, simplesmente desapareceram. Testemunhas dizem que um grupo restrito de funcionários ligados à administração fez a limpa na despensa, sem compartilhar com os demais. 


Numa adaptação para os trópicos de um costume típico de atrações como a Fontana di Trevi, em Roma, turistas que visitam o Alvorada jogam moedas no espelho d’água que decora a frente do palácio presidencial. É um gesto que, diz a crença popular, traz sorte. Pouco antes de os Bolsonaro deixarem o palácio, funcionários receberam uma ordem para esvaziar o fosso e juntar as milhares de moedas acumuladas ali. Pastor Francisco – de novo ele – foi quem tomou a frente. Disse que o pedido havia sido feito por Michelle Bolsonaro.

A “pescaria” rendeu um balde cheio – não se sabe exatamente quanto havia. Funcionários dizem que Francisco levou as moedas embora, dizendo que as doaria para uma igreja. “Se ele doou ou não, não sei, mas ele falou que era a mando da Michelle”, relata um empregado do palácio. O pastor Francisco, a despeito da amizade íntima com o casal Bolsonaro, até se movimentou para ficar no Alvorada de Lula. Não conseguiu. Foi exonerado no último dia 5 de janeiro.

Bolsonaro e o arrombamento da adega do palácio

Imagine um presidente da República, em um lance de fúria, dando um chute e derrubando uma porta a pontapés dentro do palácio presidencial. Pois isso aconteceu.

Jair Bolsonaro recebia um visitante no Alvorada quando teve a ideia de presenteá-lo com uma garrafa de vinho. Os dois foram, então, até a adega, instalada em um dos cômodos do subsolo do palácio, perto da cozinha.

Ao chegar lá, o então presidente encontrou a porta trancada e pediu aos empregados de plantão que lhe trouxessem a chave. Foi avisado de que havia uma ordem expressa de Michelle para que a adega não fosse aberta para absolutamente ninguém – nem mesmo para ele.

Igo Estrela/Metrópoles

jair bolsonaro e michelle bolsonaro

Entre os funcionários, o motivo da ordem era sabido, embora não fosse pronunciado com todas as letras em razão da sensibilidade do assunto: Michelle estava enfurecida porque Jair Renan, filho 04 de Bolsonaro, andava visitando o Alvorada fora de hora – longe dos olhos dela, mas com o aval do pai – e levando consigo garrafas de bebidas.

Para frear a farra do garoto, seu desafeto, a saída foi mandar trancar a adega e baixar a determinação, que passou a ser cumprida a ferro e fogo.

Os funcionários tinham mais medo da primeira-dama do que do próprio Bolsonaro. Muitas vezes, dentro do palácio, aquele personagem autoritário e machista que era conhecido à larga pelos brasileiros assumia outra versão, a de um marido obediente e resignado. Era quase sempre assim. Mas havia exceções e o capitão mandão e abrutalhado voltava à cena.

Até chegar na adega, Bolsonaro não sabia da ordem de Michelle. Descobriu quando passou pelo constrangimento de, na frente do convidado, ouvir dos funcionários que a porta simplesmente não poderia ser aberta. Enfurecido, diante da visita e dos serviçais, arrombou a adega e pegou a garrafa de vinho que queria dar de presente. Não sem antes se queixar da situação. A porta passou dias quebrada (veja o relato no vídeo a seguir).     


A guerra de Michelle com Carluxo e Jair Renan

A relação de Michelle Bolsonaro com os filhos dos casamentos anteriores de Jair Bolsonaro nunca foi das melhores. As rusgas eram comuns. Flávio e Eduardo Bolsonaro, o 01 e o 03, ainda se esforçavam para manter alguma proximidade. Com Carlos Bolsonaro e Jair Renan, o 02 e o 04, porém, era guerra quase permanente. No período em que Bolsonaro e Michelle ocuparam o Alvorada, o palácio foi palco de várias brigas estrepitosas da dupla com a então primeira-dama. Uma delas se deu na semana do debate presidencial em que Bolsonaro e Lula se enfrentaram pela última vez antes do segundo turno da eleição.

Os funcionários contam que Carlos chegou ao palácio acompanhado dos seguranças de sua escolta e foi impedido de entrar. Ordens de Michelle. Seguiu-se um barulhento bate-boca entre ele e o administrador da residência, o pastor Francisco Castelo Branco, encarregado pela então primeira-dama de fazer valer a proibição. Carluxo ainda tentou insistir, mas não houve jeito. Chorando e gritando pelo estacionamento do palácio, ele foi obrigado a ir embora.

Bolsonaro, que tinha passado as horas anteriores se preparando para o confronto com Lula, foi avisado da contenda. No meio do fogo cruzado, ficou enfurecido, mas não houve muito o que fazer. Corroborando os relatos dos funcionários, assessores próximos do ex-presidente relataram à coluna que a briga o abalou e fez com que ele chegasse nervoso para o debate.

Bolsonaro se queixava do tratamento que Michelle dispensava a Carlos e Jair Renan. Por mais de uma vez, desabafou sobre o assunto com empregados, com os quais tomava café com alguma frequência. Dizia que, enquanto seus filhos eram proibidos de ir ao palácio, a família de Michelle tratava o Alvorada como extensão da própria casa. “Ele reclamava dizendo que, principalmente nos finais de semana, a Ceilândia estava em peso lá. E isso era verdade”, afirma um funcionário. “A Ceilândia” era a maneira como Bolsonaro se referia aos parentes de Michelle que moram na cidade-satélite de Brasília.

As comparações entre os dois lados com o outro eram inevitáveis. Entre os funcionários era sabido que os parentes de Michelle tinham acesso livre a itens da despensa e aos serviços da cozinha do palácio. Dona Helena, a tia da primeira-dama que trabalhava como babá de Laura, a filha do então casal presidencial, levava para casa com certa frequência pacotes de comida preparados especialmente para ela pelos cozinheiros da residência oficial. Com autorização de Michelle.

Jair Renan, por um período, gozou de mordomia parecida. No período em que morou no apartamento que o pai mantém no Sudoeste, bairro nobre da capital, ele não só passava regularmente no depósito de alimentos do Alvorada para recolher itens e abastecer a própria despensa como era servido, diariamente, com comida fresca preparada na cozinha do palácio que os motoristas da Presidência eram incumbidos de entregar, a bordo de carros oficiais. Até que veio um dos entreveros com Michelle e uma das regalias foi cortada sumariamente.

A suspensão da “entrega de marmita” para o 04 – era assim que os servidores se referiam à tarefa – se deu após uma apimentada intriga palaciana. Os funcionários avisaram Michelle de que, a certa altura, Jair Renan passou a pedir comida não só para si, mas também para uma segunda pessoa. Não demorou para que alguns funcionários do staff envenenassem a primeira-dama dizendo que a tal “segunda marmita” era para a mãe do 04, Ana Cristina Valle. A ex de Jair Bolsonaro e Michelle são inimigas declaradas. A primeira-dama, então, ordenou que as entregas pela equipe do Alvorada, uma espécie de iFood oficial, à custa dos cofres públicos, fossem cortadas de vez.  


As visitas em que 04 fazia da despensa do Alvorada seu mercado particular costumavam ocorrer quando o pai dele estava no palácio. Em uma das ocasiões, Bolsonaro estava fora e Jair Renan foi mesmo assim. Michelle foi avisada e foi ao encontro dele. Logo estava armado mais um barraco presidencial. Houve dedos em riste e xingamentos de parte a parte, na frente dos funcionários. Jair Renan chegou a avançar na direção dela e precisou ser contido pelo segurança que o acompanhava.

A suspeita de “rachadinha” com a amiga

Na reportagem publicada pela coluna no último dia 20, mostramos que Michelle Bolsonaro usava um cartão de crédito adicional de Rosimary Cardoso Cordeiro (foto abaixo), uma amiga de mais de 15 anos que conheceu quando ambas trabalhavam em gabinetes da Câmara dos Deputados.

Investigações conduzidas pela Polícia Federal sob o comando do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, descobriram que as faturas do cartão eram pagas com dinheiro em espécie administrado pelo tenente-coronel Mauro Cesar Cid, ajudante de ordens e um dos principais homens de confiança de Jair Bolsonaro até 31 de dezembro.

A relação insólita já havia despertado a curiosidade dos investigadores. Por que, afinal, a primeira-dama do Brasil usava um cartão de uma terceira pessoa, e os boletos eram pagos sempre em espécie pelo militar suspeito de administrar uma espécie de caixa 2 dentro da Presidência em que se misturavam recursos públicos e privados, inclusive de saques de cartões corporativos oficiais?

Novos elementos obtidos pela coluna atestam que a desconfiança dos policiais não era sem razão. Eles mostram que a relação entre as duas amigas ia bem além do cartão emprestado.

A carreira de Rosi, antes uma assessora parlamentar ordinária remunerada com salários relativamente baixos, teve um salto meteórico que coincide com a ascensão de Michelle Bolsonaro ao posto de primeira-dama.

Reprodução/TV

Rosimary Cardoso e Michelle Bolsonaro na posse de Damares Alves no Senado

Assessora do senador bolsonarista Roberto Rocha, do PTB do Maranhão, cujo mandato terminou na última terça-feira, ela ganhava pouco mais de R$ 6 mil até os primeiros meses do governo Bolsonaro. Por ser amiga íntima de Michelle e representar uma oportunidade de estreitar laços entre o parlamentar e o novo governo por suas relações com a família presidencial, logo ela foi promovida. Passou a ganhar quase R$ 17 mil.

A promoção coincide com um movimento que a investigação de Moraes e da PF será capaz de esquadrinhar à perfeição. Com salário novo e vitaminado, Rosi passou a enviar para a primeira-dama “encomendas” regulares – muitas vezes, envelopes cujo conteúdo era possível identificar no tato: dinheiro em espécie.

Funcionários do Palácio do Alvorada tinham autorização permanente para realizar a operação de busca-e-traz, a bordo de carros oficiais da Presidência. Pegavam as tais encomendas com Rosi nas proximidades do Congresso Nacional ou no prédio dela, no Riacho Fundo. Levavam para o Alvorada.

A tarefa, regular, era conhecida das pessoas que integram o staff de confiança de Michelle. Há registros em profusão dessas operações. Entre os funcionários, havia quase uma certeza: a de que

Rosi repassava a Michelle uma parte do salário que ganhava no Senado – algo que a simples quebra do sigilo bancário da amiga poderá demonstrar.

Cabia à própria Rosi, tratada na intimidade do palácio pelo apelido carinhoso de Chuchu, acionar os auxiliares de Michelle, como mostra este áudio, em que ela pede para buscar a “encomenda da Mi”:   


Na quarta-feira, Rosimary escoltou Michelle Bolsonaro na visita que a agora ex-primeira-dama fez ao Senado para pedir votos em favor do senador Rogério Marinho, candidato do bolsonarismo à presidência da casa, que seria derrotado horas depois por Rodrigo Pacheco. Sem emprego após o término do mandato de Rocha, está tudo certo para Rosi ser nomeada nos próximos dias como assessora do gabinete de Damares Alves, outra amiga do peito da ex-primeira-dama.

“O salário que ela tinha lá eu não vou manter, não tenho condições. Vai ser menos. (…) Mas entre ela ficar desempregada e ficar lá comigo, neste momento ela vai ficar comigo. Pelo menos o básico é garantido”, disse Damares à coluna nesta sexta-feira.

O caixa 2 e a “cliente vip”

As investigações do STF que miram o tenente-coronel Cid por suas transações financeiras com dinheiro em espécie no gabinete de Jair Bolsonaro trarão Michelle como uma espécie de cliente vip dos serviços do militar.

Mensagens e outros documentos aos quais a coluna teve acesso mostram que, a cada vez que precisava de algum dinheiro, a primeira-dama mandava que seus auxiliares passassem no Planalto para buscar dinheiro com Cid. As operações, invariavelmente, envolviam recursos em espécie. Dinheiro vivo mesmo.

Um time da confiança do tenente-coronel, formado por pelo menos outros três oficiais, estava sempre de prontidão e em condições atender, seja para fazer depósitos solicitados por Michelle, seja para entregar valores que eram usados pelos próprios auxiliares da então primeira-dama para pagar boletos e outras despesas de ordem particular, dela ou de familiares dela.

Uma das despesas regulares pagas dessa forma era a mensalidade do curso de arquitetura de uma meia-irmã da primeira-dama, Geovanna Kathleen:

Por vezes, Michelle pedia que Cid entregasse a seus funcionários recursos que, na sequência, eram entregues em mãos a seus parentes, na Ceilândia. Em outras ocasiões. Tudo era tratado, quase sempre, por meio de mensagens de WhatsApp, o que está facilitando enormemente o trabalho dos investigadores a serviço de Alexandre de Moraes.

Na própria nuvem de dados de Cid há um conjunto de mensagens que dão o caminho. Como esta, em que um assessor da então primeira diz ao militar que “dona Michelle” havia pedido para “fazer um saque” para pagar um boleto de parcos R$ 584,60. Cid responde prontamente: “Só peça dinheiro a mando dela!!!”. “Eu estou indo pra rua agora qualquer coisa eu passo no planalto e pego”, escreve na sequência o assessor de Michelle.

Em algumas oportunidades, os valores solicitados eram maiores. Em 11 de janeiro de 2021, por exemplo, um assessor do Alvorada diz a Cid que Michelle pediu para transferir R$ 3 mil na conta dela.

Quando tinha que atender pedidos para destinar recursos à conta pessoal da primeira-dama, a equipe de Cid fazia depósitos em espécie, na boca do caixa, como mostra o comprovante abaixo.

Os segredos do Alvorada da era Bolsonaro ainda têm muito o que render.

O outro lado

A coluna não conseguiu contato com Jair e Michelle Bolsonaro. Tampouco com Francisco Castelo Branco, ex-administrador do Alvorada.

A interlocutores, o tenente-coronel
Mauro Cid negou que houvesse qualquer irregularidade no manejo do dinheiro. Disse ainda que não lidava com verbas sacadas de cartões corporativos e que as despesas particulares da família eram pagas com recursos retirados da conta pessoal do então presidente.

Rosimary Cordeiro, a amiga de Michelle empregada no Senado, negou que enviasse envelopes com dinheiro para a então primeira-dama e que encontrasse funcionários do palácio para entregar as “encomendas”.

“De onde você tirou isso? Isso nunca existiu”, desconversou. Ela desligou o telefone antes de ser informada que a coluna teve acesso a mensagens que mostram os contatos dela com a equipe de Michelle, inclusive em áudio, para marcar os encontros.

https://www.metropoles.com/colunas/rodrigo-rangel/exclusivo-as-provas-que-ligam-michelle-bolsonaro-a-suspeita-de-caixa-2-no-palacio

Bolsonaro agravou crise Yanomami, diz subprocurador que atuou na condenação de garimpeiros por genocídio em 1993

Em entrevista, Luciano Mariz Maia afirmou que cenário atual é mais grave do que há 30 anos. Nas redes sociais, Bolsonaro escreveu que 'nunca um governo dispensou tanta atenção e meios aos indígenas'.


Por Luiz Felipe Barbiéri, g1 — Brasília

Crianças Yanomami resgatadas neste domingo, 22 de janeiro de 2023 — Foto: Weibe Tapeba/Sesai/Divulgação
 Crianças Yanomami resgatadas neste domingo, 22 de janeiro de 2023 — Foto: Weibe Tapeba/Sesai/Divulgação


O subprocurador-geral da República, Luciano Mariz Maia, afirmou em entrevista ao g1 que o discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL) nos últimos quatro anos contribuiu para agravar a situação dos indígenas na Terra Yanomami.

Segundo Mariz Maia, a linha de investigação por genocídio conduzida no Supremo Tribunal Federal (STF) contra autoridades da antiga gestão é consistente.

O subprocurador foi um dos autores da denúncia que levou à condenação de cinco garimpeiros por genocídio contra o povo Yanomami em 1993. O episódio terminou com a morte de 16 indígenas da comunidade Haximu.

Para Mariz, a situação atual da Terra Indígena Yanomami é mais grave do que há 30 anos, porque houve incentivo ao garimpo em terras indígenas por parte do Estado e "deliberado enfraquecimento" dos órgãos destinados a proteger e fiscalizar as terras.

Em resposta às acusações de que seu governo tem responsabilidade pelo agravamento da crise dos Yanomamis, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou no dia 28 de janeiro, pelas redes sociais, que "nunca um governo dispensou tanta atenção e meios aos indígenas" como na sua gestão.

Leia entrevista

Qual a comparação em relação a 1993 e o caso investigado?

Luciano Mariz Maia: Não hesito em dizer que a situação é bem mais grave do que a que nós tivemos anteriormente.

Na situação que tivemos anteriormente, houve um choque de determinados personagens, que exerciam uma atividade específica econômica em que interagiam e geravam atritos com membros da comunidade. Isso resultou na morte de vários desses membros. Mas o Estado brasileiro se posicionou desde o princípio com absoluta clareza do seu dever de investigar, processar e punir.

O que está acontecendo agora é um contexto em que você tem os mesmos fatores de atrito, com elementos muito mais agravantes. Primeiro, a interação e a presença natural de não índios em terras indígenas faz com que eles sejam mais suscetíveis a doenças transmissíveis.

Por outro lado, você teve nos último quatro anos, e um pedaço do governo Temer com a ideia de flexibilizar o usufruto exclusivo dos índios, mas particularmente, nos últimos quatro anos, houve claramente o incentivo por parte do governo federal à presença de garimpo em terras indígenas, particularmente em Roraima, com os Yanomami.

Você passa a ter um deliberado enfraquecimento da presença do Estado, particularmente pelo desmantelamento da Funai e dos órgãos de proteção. Além, da presença de garimpeiros incentivada pelo Estado, que anunciava projeto de lei para liberar terra indígena.

Menina Yanomami com desnutrição grave recebe tratamento no Hospital da Criança, em Boa Vista — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR

Se a situação é mais grave do que em 1993, a investigação que corre no STF deveria levar à condenação de autoridades do governo Bolsonaro por genocídio?

Essa situação do garimpo não veio agora com o Bolsonaro. O que aconteceu no governo do 38º presidente, como ele gosta de ser chamado, foi um estímulo a essa atividade.

Um estímulo à presença de estranhos em terras indígenas, um desestímulo aos servidores do Ibama e da Funai, que se sentiram desamparados diante da pressão econômica, política e física das pessoas que se organizam para a atividade do garimpo.

O que eu posso afirmar é que é uma linha de investigação consistente. Agora, você precisa desenvolver um trabalho delicado, subindo a cadeia de comando.

Você vai dentro desse contexto tendo um processo concreto de identificação de quem pode ser responsabilizado pela situação que tenha acontecido.

O MPF atribuiu, em nota, a 'grave situação' dos Yanomami à inércia do governo Bolsonaro. Seria caso de omissão dolosa?

Pela Constituição, a União tem o dever de agir. No Código Penal, a omissão é atribuível a quem tem o dever legal de agir.

A partir do fenômeno que se vê no plano local, é preciso subir a cadeia do comando e indagar o chefe do posto, o diretor de operações, o presidente da Funai, o ministro da Justiça e até chegar, se for o caso, nos escalões de poder decisórios. O que eles fizeram e o que disseram que possa ter contribuído para esse estado das coisas.

A redução dos valores destinados, por exemplo, à proteção e fiscalização de terras indígenas e o discurso de incentivo à prática do garimpo podem embasar uma eventual acusação de Bolsonaro e outras autoridades por genocídio?

O Orçamento é montado a partir de ações programáticas. Você vai verificar nos escalões superiores se, da previsão do orçamento da Funai para fiscalização e proteção territorial, quanto foi liberado para ser executado? E de quem foi a decisão?

De repente, você pode até terminar chamando alguém como o Paulo Guedes (ex-ministro da Economia), por exemplo. Isso, hipoteticamente falando.

O que eu posso afirmar, sem medo de errar, é que uma busca fácil no Google indicará discursos do presidente Bolsonaro claramente enfraquecendo as estruturas de fiscalização e proteção do Estado, dando incentivos e motivos aos garimpeiros para ocupação de terras indígenas.

Esse é um fator que aumentou a tensão entre os grupos e demonstrou claramente uma intenção de sobrepor-se aos direitos daquele grupo desfavorecido.

Posso afirmar que o discurso do presidente Bolsonaro aumenta os fatores de risco. A probabilidade de o discurso dele ser levado adiante em uma atividade concreta é maior.

Garimpo ilegal próximo a área de aldeia Yanomami em Roraima. Foto de abril de 2016 — Foto: Bruno Kelly/Reuters

As ações destinadas à retirada dos invasores têm efeitos localizados e temporários, apontou o MPF. Quais medidas o senhor sugeriria?

Você precisa de uma estrutura poderosa para manter as atividades de garimpo. É preciso tentar identificar todas as áreas e seguir o dinheiro. De onde vem o dinheiro que faz com que o garimpo possa ser mantido lá. O dinheiro para as atividades do garimpo.

Por outro lado, o outro que sai do garimpo está chegando aonde? Quem está comprando esse ouro, como ele está entrando no mercado? É um comércio que é possível identificar.

O que o Estado está fazendo agora é importante, mas há a necessidade de uma sustentabilidade, que um programa como esse possa se tornar permanente. Ou seja, o controle do uso do espaço aéreo, o controle nos voos que vão para aquela região e o controle no funcionamento das casas que negociam com ouro.

Na avaliação do senhor, as declarações do governador Denarium sobre os Yanomami, além do potencial discriminatório, podem ser vistas como um incentivo às práticas ilegais dentro do território indígena?

Essa fala dele reforça o argumento da chamada polarização, do processo de desumanização que acontece contra os índios.

Entretanto, não é competência do poder Executivo Estadual a proteção de terras indígenas. A omissão ali é atribuível às autoridades federais.

Agora, eventualmente uma situação pode se estender naquele contexto geral, no caldo de cultura local, que autoriza viver naquela polarização.

Governo investiga denúncia de 30 adolescentes grávidas de garimpeiros na Terra Yanomami

Governo investiga denúncia de 30 adolescentes grávidas de garimpeiros na Terra Yanomami 

https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/02/04/bolsonaro-agravou-crise-yanomami-diz-subprocurador-que-atuou-na-condenacao-de-garimpeiros-por-genocidio-em-1993.ghtml

TSE levará ao Congresso proposta de regulamentação das redes sociais

 Anúncio veio do presidente da Corte, Alexandre de Moraes

www.brasil247.com - Alexandre de Moraes
Alexandre de Moraes (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

LISBOA (Reuters) - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pretende levar ao Congresso uma proposta para regulamentar as redes sociais para combater uma captura das plataformas por “populistas de extrema direita”, afirmou o presidente do TSE e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, nesta sexta-feira (3).

“Nós adotamos várias medidas que agora levaremos, a partir de uma comissão instituída no Tribunal Superior Eleitoral, ao Congresso Nacional, mecanismos de regulamentação das redes sociais”, disse Moraes em conferência empresarial organizada pelo Lide, grupo fundado pelo ex-governador de São Paulo João Doria, em Lisboa.

Moraes defendeu, por exemplo, que as plataformas de redes sociais deixem de ser consideradas empresas de tecnologia e passem a ser vistas pela lei como companhias de mídia, podendo assim ser responsabilizadas pelo que publicam.

“O que se defende é que as mídias sociais deixem de ser consideradas empresas de tecnologia… e passem a ser consideradas ou que tenham a mesma responsabilidade de empresas de mídia (tradicional)”, afirmou.

“A responsabilização por abusos na divulgação, na veiculação de notícias fraudulentas e discursos de ódio não pode ser maior, mas também não pode ser menor, que das restantes mídias tradicionais.”

O ministro disse ainda que quem tem coragem de publicar discurso de ódio também precisa ter coragem de ser responsabillizado por isso.

As plataformas de redes sociais foram nos últimos anos ferramenta para divulgação de notícias falsas e para convocação de atos antidemocráticos, como ocorreu nos ataques de 8 de janeiro, quando vândalos apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram o Palácio do Planalto e os prédios do Congresso Nacional e do STF.

A experiência acumulada pelo TSE no combate à desinformação nas plataformas durante as eleições do ano passado é um elemento que pode tornar o órgão um participante fundamental em discussões já existentes no Congresso sobre a regulamentação das redes sociais, segundo especialistas.

“É muito oportuno que o TSE participe da formulação da regulação das redes sociais… A experiência que o TSE angariou no enfrentamento da desinformação será essencial como subsídio aos parlamentares, que terão a difícil, mas necessária, tarefa de equilibrar um controle mais severo com a necessária e saudável liberdade de expressão nas redes sociais”, disse Fernando Neisser, membro da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/SP.

Um desafio a ser enfrentado, porém, é a implementação de novas medidas de regulamentação que não violem as liberdades constitucionais, algo que críticos do TSE acusam o tribunal e seu presidente de terem feito em meio às decisões tomadas durante o último ciclo eleitoral.

“As plataformas devem sim ser cobradas pela adoção de comportamentos mais rígidos… mas sem que se busque uma equiparação irreal, especialmente em um ambiente virtual que não possui fronteiras entre países, e especialmente, sem que se atentem contra as garantias constitucionais de liberdade de pensamento e manifestação”, disse o mestre em Direito Constitucional Cristiano Vilel.

Por Catarina Demony

(Reportagem adicional de Fernando Cardoso, em São Paulo Edição de Eduardo Simões e Pedro Fonseca) 

https://www.brasil247.com/brasil/tse-levara-ao-congresso-proposta-de-regulamentacao-das-redes-sociais

Integrantes da PGR avaliam que as denúncias de Marcos Do Val ainda são incipientes e algumas versões se contradizem

 Segundo membros da Procuradoria-Geral da República, ainda são necessárias provas da trama golpista revelada pelo senador do Podemos-ES


247 - Membros da Procuradoria-Geral da República (PGR) destacaram reservadamente que as denúncias feitas nas últimas horas pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) estão no começo e são necessárias provas concretas para comprovar o que o parlamentar vem alegando. 

De acordo com essas fontes, o parlamentar tem contra si algumas versões contraditórias. 

A informação foi publicada pela CNN Brasil.

O senador revelou que Jair Bolsonaro, o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e membros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) discutiram uma forma de tentar um golpe de estado. 

Um dos objetivos era grampear conversas do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e conseguir alguma informação que pudesse comprometer levar ao impeachment do juiz. 

Do Val ajuda no plano de gravar diálogos do magistrado. 

O ministro do STF determinou a abertura de uma investigação para apurar a conduta do senador, que, na avaliação do juiz, apresentou versões contraditórias. 

https://www.brasil247.com/regionais/brasilia/integrantes-da-pgr-avaliam-que-as-denuncias-de-marcos-do-val-ainda-sao-incipientes-e-algumas-versoes-se-contradizem

Porta-aviões São Paulo é afundado pela Marinha a 350 quilômetros da costa

 A Marinha disse que conduziu o procedimento "a fim de evitar prejuízos de ordem logística, operacional, ambiental e econômica ao estado brasileiro"

www.brasil247.com - Foto do porta-aviões desativado São Paulo, capturada através de satélite pelo Greenpeace
Foto do porta-aviões desativado São Paulo, capturada através de satélite pelo Greenpeace (Foto: Divulgação/Greenpeace Brasil)

247 - Após o TRF-5 liberar nesta sexta-feira (3) a Marinha para afundar porta-aviões desativado São Paulo, a embarcação foi para o fundo do mar a cerca de 350 quilômetros da costa brasileira, em área com profundidade de 5.000 metros.

"O procedimento foi conduzido com as necessárias competência técnica e segurança pela Marinha do Brasil, a fim de evitar prejuízos de ordem logística, operacional, ambiental e econômica ao estado brasileiro", disse a Marinha, em nota. 

Três buracos no casco da embarcação fizeram com que o navio se enchesse de água, o que tornou a decisão de afundar o São Paulo inevitável, segundo uma inspeção realizada pela Marinha do Brasil.

Segundo a Força, se nada fosse feito, o porta-aviões iria afundar de forma descontrolada até meados de fevereiro.

Antes de ser afundada, a embarcação estava vagando no mar após ser barrada de atracar no Brasil e no exterior por conta da presença de amianto na estrutura.

 A substância é tóxica e cancerígena

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) avaliou que o afundamento do navio pode provocar uma série de danos ambientais. (Com G1).  

https://www.brasil247.com/brasil/porta-avioes-sao-paulo-e-afundado-pela-marinha-a-350-quilometros-da-costa

A empresa anunciou investimento de R$ 2 bilhões na 99Food, delivery de comida, até junho de 2026.

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