Motta trava projeto que combate crime organizado e deputados apontam para influência de Ciro

 


Motta trava projeto que combate crime organizado e deputados apontam para influência de Ciro

Lei que combate sonegação bilionária no setor de combustíveis está há mais de um mês parada na câmara sob comando político alinhado ao centrão
09/10/2025 | 05h00 

Por Cleber Lourenço

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), mantém parado há mais de um mês o projeto de lei que pune o chamado devedor contumaz — empresas que reiteradamente deixam de pagar impostos como parte do próprio modelo de negócio. Desde que o texto chegou da aprovação no Senado, não houve qualquer movimentação para que seja pautado ou discutido, apesar da pressão de técnicos da Receita Federal e do Ministério da Fazenda.

A proposta é considerada essencial para combater esquemas de sonegação e concorrência desleal no setor de combustíveis, desvendados pela Operação Carbono Oculto. O texto cria mecanismos para enquadrar empresas que transformam a inadimplência em vantagem competitiva, prevendo desde regimes especiais de fiscalização até o cancelamento da inscrição e interdição das atividades.

Nos bastidores, parlamentares afirmam que o engavetamento atende a interesses de grupos econômicos poderosos, entre eles a Refit (antiga Refinaria de Manguinhos), controlada por Ricardo Magro. A empresa é considerada a maior devedora de ICMS do país, com dívidas bilionárias em São Paulo e no Rio de Janeiro, e é citada em investigações por condutas típicas de devedor contumaz. A Refit foi alvo da Operação Carbono Oculto e chegou a ser interditada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) em um dos desdobramentos da investigação.

hugo motta

Câmara dos Deputados (Foto: EBC)

A relação entre Hugo Motta e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil e líder do Centrão, ajuda a explicar o controle político sobre a tramitação. Ciro e Motta são próximos e mantêm diálogo frequente sobre as pautas estratégicas da Câmara. Nos bastidores, Ciro atua como conselheiro informal de Motta e do presidente anterior da Casa, Arthur Lira (PP-AL), influenciando decisões de impacto econômico e político. Nogueira foi um dos principais articuladores da eleição de Motta para a presidência da Câmara no início do ano.

Em entrevista à Folha de S.Paulo no mês passado, Ricardo Magro reconheceu publicamente sua proximidade com Ciro Nogueira: “Ele é um amigo que eu tenho fora da política. Claro que a gente fala de política, claro que eu me aconselho com ele, mas não temos uma relação promíscua desse tipo.” A fala reforçou, em Brasília, a percepção de que o senador exerce influência sobre o setor de combustíveis e seus principais empresários.

O projeto aprovado no Senado após as revelações da Carbono Oculto é apontado por especialistas da Receita e do Ministério da Fazenda como o instrumento mais robusto já proposto para coibir empresas que lucram com a inadimplência sistemática. Caso seja aprovado, atingirá diretamente distribuidoras e refinarias com passivos fiscais desproporcionais ao patrimônio e que, em muitos casos, servem de base para esquemas do crime organizado — entre elas, a própria Refit.

O alerta do Instituto Combustível Legal

No início da semana o Instituto Combustível Legal fez um alerta apontando que a demora na aprovação do projeto do devedor contumaz e da monofasia da nafta mantém brechas que favorecem a sonegação e a concorrência desleal no setor de combustíveis. Segundo a entidade, o impasse legislativo causa perdas bilionárias anuais aos cofres públicos e enfraquece o combate ao crime organizado, que utiliza o segmento para lavagem de dinheiro.

Enquanto isso, o texto segue travado sob comando de Hugo Motta, sem previsão de análise ou votação. Fontes do governo afirmam que o Centrão tenta evitar o avanço de medidas que atinjam grupos econômicos próximos de suas lideranças, e que o projeto dificilmente sairá do papel enquanto persistir essa resistência política na Câmara. 

https://iclnoticias.com.br/hugo-motta-trava-projeto-ciro-crime/

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