Polícia Federal pede afastamento da cúpula atual da Abin
Por Cleber Lourenço
O relatório final da Polícia Federal sobre o Inquérito nº 2023.0022161, que investiga a atuação de uma estrutura clandestina de inteligência dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), traz uma conclusão contundente: a atual direção da agência, sob o comando de Luiz Fernando Corrêa, atuou para obstruir as investigações e deve ser afastada imediatamente para garantir a continuidade e integridade do processo investigativo.
“A permanência de parte dos principais responsáveis pelo uso do sistema First Mile em posições estratégicas do órgão, inclusive em postos de alto comando da atual gestão, resultou em um estado de coação para parte dos investigados e testemunhas”, afirma o relatório, apontando para um cenário de embaraçamento institucional que dificultou o acesso da Polícia Federal a provas e testemunhos essenciais.
Cúpula da Abin sob suspeita
A investigação detalha que, mesmo após a deflagração da apuração, gestores envolvidos diretamente com o uso do sistema de espionagem clandestina continuaram ocupando cargos de influência, inclusive na gestão de informações sensíveis e coordenação de operações.
“Esse cenário culminou na ocorrência de atos de embaraçamento em prejuízo à presente investigação e aos próprios investigados, tornando-a ainda mais complexa pelas dificuldades impostas e pelo implemento de fato novo a ser apurado”.
Entre os episódios de obstrução citados, estão a negativa injustificada de envio de logs de acesso ao sistema First Mile, a formatação em massa de dispositivos eletrônicos, e a classificação indevida de documentos para dificultar sua entrega à autoridade policial.
“Houve omissão deliberada de informações, incluindo dados de operação e perfis de usuários, além de reiteradas resistências à requisição de equipamentos e mídias digitais”, aponta o relatório.
A crítica à continuidade institucional
O documento da PF é direto ao afirmar que, embora os atos da organização criminosa tenham se originado em outra gestão, a atual direção não só não contribuiu com a apuração, como atuou para dificultá-la.
“Não bastasse, a permanência de parte dos principais responsáveis (…) resultou em um estado de coação para parte dos investigados e testemunhas”, reiteram os investigadores.
A PF considera a atuação da gestão Corrêa como de “resistência institucional ativa”, ressaltando que houve tentativas de construção narrativa institucional para minimizar os achados da investigação.
“Verificou-se tentativa deliberada de minimizar a gravidade do sistema adquirido, omitir registros e, em alguns casos, apresentar informações falsas aos investigadores”, diz o relatório.
Recomendação expressa ao STF
A Polícia Federal, diante desse quadro, solicita ao Supremo Tribunal Federal medidas urgentes, incluindo:
- O afastamento imediato da direção da ABIN;
- A reestruturação de setores sensíveis da agência;
- A garantia de cadeia de custódia sobre documentos, equipamentos e registros ainda sob controle da atual gestão.
“A manutenção da atual cúpula representa um risco à elucidação dos fatos e à responsabilização dos envolvidos”, conclui o relatório.
Consequências políticas e institucionais
A recomendação da PF amplia a crise na agência de inteligência. Entidades como a Intelis (representante dos servidores da ABIN) já haviam se manifestado pedindo a substituição de Corrêa, apontando que “não há condições para que o atual diretor-geral se mantenha no cargo enquanto alvo direto de apuração”.
A decisão agora está nas mãos do STF e da Procuradoria-Geral da República, que podem acolher os pedidos da PF e promover o afastamento dos nomes implicados.
Linha do tempo da obstrução
- 2023: Luiz Fernando Corrêa assume a ABIN com promessa de reformulação.
- 2024: Primeiros sinais de resistência institucional surgem após requisições da PF.
- 2025: PF conclui relatório e indica obstrução sistêmica sob a atual direção.
- Junho de 2025: Pedido formal de afastamento da cúpula entregue ao STF.
- https://iclnoticias.com.br/pf-pede-afastamento-da-cupula-atual-da-abin/
