Bolsonaro tinha certeza que encontraria fraude nas urnas, disse Cid

 Fabio Serapião

Bolsonaro tinha certeza que encontraria fraude nas urnas, disse Cid

Primeiro depoimento da delação de Mauro Cid mostra busca de aliados de ex-presidente por problemas no sistema eletrônico de votação




 atualizado 


O primeiro depoimento do acordo de colaboração premiada de Mauro Cid mostra como Jair Bolsonaro (PL) acreditava ser possível encontrar alguma fraude no sistema de votação nos seus últimos dias como presidente da República

De acordo com o relato de Cid, Bolsonaro, no período em que se recolheu ao Palácio do Alvorada após a derrota no segundo turno para Lula (PT), trabalhava com duas hipóteses.

“A primeira seria encontrar uma fraude nas eleições e a outra, por meio do grupo radical, encontrar uma forma de convencer as Forças Armadas a aderir a um Golpe de Estado”, disse o ex-ajudante de ordens.

Naquele momento, bolsonaristas estavam acampados em frente a unidades militares espalhadas pelo Brasil. Uma delas, o Quartel-General do Exército em Brasília, de onde parte deles partiram para as depredações dos prédios dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.

Bolsonaro, disse Cid, “tinha certeza que encontraria uma fraude nas urnas eletrônicas” e, por isso, “precisava de um clamor popular para reverter a narrativa”. 

Ainda segundo Cid, quem atualizava Bolsonaro com notícias sobre os manifestantes era o ex-ministro da Casa Civil e seu vice na chapa presidencial, o general Braga Netto, preso em dezembro pela Polícia Federal por suspeita de participação na trama golpista. 

A busca de Bolsonaro por fraudes envolvendo o sistema eletrônico de votação marcou quase todo seu mandato e o colocou na mira do inquérito das milícias digitais ainda em 2021.

Naquele ano, após ser cobrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que apresentasse provas de suas acusações sobre as urnas, Bolsonaro realizou uma live em que apontou para supostas fragilidades no sistema. 

A live de 29 de julho de 2021, até aquele momento, foi o maior ataque de Bolsonaro ao TSE e às urnas e deu início à escalada no discurso golpista do então presidente.

O caso passou a ser investigado pela PF e foi responsável por colocar Bolsonaro pela primeira vez como investigado dentro do inquérito das milícias digitais, onde foi indiciado posteriormente por causa da trama golpista.

O depoimento de Cid à PF mostra que Bolsonaro e seus aliados tentavam encontrar algum tipo de fraude no sistema que pudesse servir como argumento para uma atuação das Forças Armadas contra o resultado das eleições. 

Segundo Cid, Bolsonaro queria “uma atuação mais contundente do general Paulo Sérgio (então ministro da Defesa) em relação a Comissão de Transparência” para que fosse produzido um documento “duro” sobre fragilidades nas urnas.

A ausência de provas sobre as fraudes, disse Cid, foi um dos motivos que levaram parte dos comandantes das Forças a não apoiar Bolsonaro e seus aliados mais radicais que defendiam um golpe militar.

Por fim, Cid relata que mesmo com grupo buscando algum “elemento concreto de fraude”, nada foi encontrado. 

“A única coisa substancial que encontraram foi a questão das umas antigas que ensejou a ação do PL”, disse Cid.

Em uma postagem no X, o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, afirmou que “causa espécie e indignação” a divulgação da íntegra do depoimento de Mauro Cid.

“Nossa defesa manifesta seu inconformismo diante do fato de que, enquanto lhe é sonegado acesso legal aos termos da referida colaboração, seu conteúdo, por outro lado, veio e continua sendo repetidamente publicizado em veículos de comunicação, tornando, ao final, o sigilo uma imposição apenas às defesas dos investigados, evidentemente prejudicadas em seu direito a ampla defesa”, disse o advogado. 

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